Jeffrey Epstein recebia “muitas, muitas, muitas” mulheres — menores incluídas, diz ex-funcionário
De acordo com a testemunha da acusação, Ghislaine Maxwell entrava no esquema do financeiro como recrutadora e preparadora das jovens.
Pelo menos duas das “muitas, muitas, muitas” mulheres que foram recebidas pelo falecido financeiro na sua propriedade em Palm Beach aparentavam ser menores, disse um ex-funcionário da casa, esta quinta-feira, durante o julgamento de Ghislaine Maxwell, acusada de abusos sexuais.
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Pelo menos duas das “muitas, muitas, muitas” mulheres que foram recebidas pelo falecido financeiro na sua propriedade em Palm Beach aparentavam ser menores, disse um ex-funcionário da casa, esta quinta-feira, durante o julgamento de Ghislaine Maxwell, acusada de abusos sexuais.
Juan Alessi que fazia a gestão doméstica da casa de Palm Beach testemunhou pela acusação no quarto dia do julgamento de Maxwell no tribunal federal de Manhattan, afirmando que levou de carro duas raparigas, que pareciam ter entre 14 e 15 anos, à casa de Epstein na Florida. Uma dessas raparigas, que actualmente tem cerca de 40 anos, testemunhou esta semana sob o pseudónimo de Jane, tendo acusado a filha do antigo magnata de media Robert Maxwell de a ter preparado para o abuso de Epstein quando tinha apenas 14 anos.
E agora Juan Alessi, que geriu a mansão entre 1991 e 2002, confirma a versão de Jane. De acordo com o antigo funcionário, a rapariga aparentava ter 14 ou 15 anos na primeira vez em que a conheceu, em 1994, na casa do multimilionário onde ela se encontrava com a mãe. Depois disso, explicou Alessi, a rapariga voltou, mas sozinha — ele ia buscá-la de carro e a jovem passava o tempo na mansão na companhia de Maxwell e Epstein.
Além disso, garantiu ter visto o nome de Jane numa lista de massagistas às quais deveria ligar para agendar um tratamento para Jeffrey Epstein, que, muitas vezes, era realizado na morada de Ghislaine Maxwell. No seu testemunho, Jane relatou que muitos dos seus encontros sexuais com Epstein começariam como massagens antes de se intensificarem.
A procuradora Lara Pomerantz disse que as massagens eram um “estratagema concebido para levar as jovens raparigas a tocar em Epstein”. Juan Alessi recordou que, quando começou a trabalhar para o financeiro, o homem tinha marcada uma massagem diária, mas, com o passar dos anos, o número de tratamentos diários aumentou e, regularmente, havia três agendamentos para o mesmo dia.
Já Ghislaine Maxwell entraria neste processo como uma espécie de recrutadora e preparadora das jovens, alega a acusação, que acusa ainda a socialite de ter participado em alguns dos encontros sexuais.
A arguida, de 59, declarou-se inocente em todas as acusações, incluindo oito de tráfico sexual, e a defesa descreve-a como um bode expiatório.
Jeffrey Epstein (n.1953, Brooklyn, Nova Iorque) foi um magnata norte-americano, multimilionário (apesar de a origem da sua fortuna ser difícil de identificar, havendo quem diga que aparentava ter mais do que de facto possuía) e muito influente no meio político e mediático norte-americano, com ligações a personalidades como os ex-presidentes norte-americanos Bill Clinton e Donald Trump ou o príncipe André do Reino Unido. Tanto que, em 2008, depois de ter sido acusado, dois anos antes, de tráfico sexual de menores, crime que o poderia ter levado a enfrentar uma dura pena, apenas passou 13 meses numa ala privada de uma cadeia na Florida. E saía seis dias por semana para trabalhar no gabinete que mandou construir nas proximidades. Um tratamento especial para um suspeito de crimes sexuais, e com ficha de agressor sexual na polícia, que chegou ao fim, em 2019, com uma segunda acusação de tráfico sexual de menores, desta vez no estado de Nova Iorque.
Epstein foi detido, acusado de gerir uma rede de angariação de raparigas menores, muitas entre os 14 e os 16 anos, para serem abusadas sexualmente nas mansões que possuía em Nova Iorque e em Palm Beach, na Florida. De acordo com a acusação, o financeiro pagava a uma rede de colaboradores para recrutarem adolescentes em centros comerciais, escolas ou festas. Os alvos preferidos seriam jovens com graves problemas familiares, pobres e desprotegidas, que poderiam cair na armadilha da proposta de 200 ou 300 dólares em troca de fazerem uma massagem ao magnata. As vítimas aceitavam e acabavam por ser levadas para um quarto onde Epstein esperava por elas, vestido apenas com uma toalha. Depois, o magnata pressionava as adolescentes a fazerem sexo em troca de mais dinheiro ou de promessas de carreira no cinema e de inscrição em universidades.
A prisão de Epstein, a 6 de Julho, fez suar pessoas importantes nos EUA. Pouco menos de um mês depois, a 10 de Agosto, foi encontrado morto na cela de uma prisão de segurança máxima em Manhattan, Nova Iorque. O multimilionário apresentava sinais de “suicídio por enforcamento”, causa que viria a ser confirmada pelo relatório oficial da autópsia. Horas antes da morte, tinham sido revelados centenas de documentos com detalhes sobre as acusações de tráfico sexual de menores de que Epstein era alvo desde 2005, nomeadamente nomes que estariam envolvidos nos seus esquemas, como o príncipe André, o antigo governador do Novo México Bill Richardson e o antigo senador norte-americano George Mitchell.