Um dos maiores grupos de jogo de Macau está em colapso

O director-executivo do Suncity, o maior angariador mundial de apostadores, foi detido pelas autoridades chinesas no início da semana. Especialistas vêem a operação como um ataque de Pequim aos casinos macaenses.

Foto
O grupo macaense Suncity é o maior angariador mundial de apostadores Bobby Yip / Reuters

O colapso do maior angariador mundial de apostadores, o Suncity, ameaça fazer ruir o sistema financeiro sobre o qual está assente a economia de Macau. Nas bolsas, o impacto já se faz sentir.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O colapso do maior angariador mundial de apostadores, o Suncity, ameaça fazer ruir o sistema financeiro sobre o qual está assente a economia de Macau. Nas bolsas, o impacto já se faz sentir.

Na segunda-feira, o director executivo do grupo Suncity, presente em mais de 40% dos casinos do território, Alvin Chau foi detido no âmbito de um caso de exploração ilícita do jogo e branqueamento de capitais, segundo o Ministério Público (MP) de Macau. No dia seguinte, todas as salas de jogo VIP do grupo foram encerradas.

As autoridades macaenses acreditam ter reunido indícios suficientes da prática dos crimes de participação em associação criminosa, punível com pena de prisão até dez anos, de chefia de associação criminosa, até 12 anos de prisão, de branqueamento de capitais (até oito anos de cadeia) e de exploração ilícita de jogo (até três anos).

Em 2019, no curso de uma investigação, a Polícia Judiciária de Macau tinha detectado a existência de um grupo criminoso a aproveitar as operações das salas VIP para criar redes de plataformas de jogo para angariar residentes do interior da China para jogo online ilícito.

Chau desenvolveu uma rede de pessoal no interior da China, para organizar visitas a salas de jogo no exterior e participar em actividades de jogo online transfronteiriças, de acordo com uma nota das autoridades chinesas.

O residente de Macau é acusado de estabelecer uma empresa de gestão de activos na China continental para facilitar a troca de activos por fichas de jogo, de forma a contornar o restrito controlo de saída de capitais no continente e facilitar a cobrança de dívidas contraídas pelos clientes. A mesma fonte apurou que Chau criou uma plataforma online de jogos de azar nas Filipinas e em outros locais, em 2016, visando facilitar o jogo transfronteiriço.

Ofensiva contra casinos

O colapso do Suncity vai deixar o sistema financeiro de Macau “descalço”, considera o economista Albano Martins. “Para além da questão do emprego, há uma situação mais complicada: o dinheiro que vinha para Macau através do Suncity, e que passava pelo sistema financeiro, vai deixar o sistema financeiro descalço”, afirmou.

Albano Martins afirmou que a queda do grupo “vai provocar um grande abalo na indústria do jogo em Macau”. Isto porque, sublinhou, “vai-se estender para o sistema financeiro e isso vai ser aterrador”, lembrando que se está a falar de um grupo que estava a posicionar-se para concorrer a uma das novas licenças de exploração do jogo, a atribuir em 2022.

As políticas do jogo estão a ser determinadas por Pequim, frisou Albano Martins: “É uma questão interna da China, Macau não tem muita palavra”.

“Esta é uma perspectiva muito pessoal: o jogo não é algo muito bem visto pelo Governo central. Está a perder força e tenho a ideia de que a China não terá problema em acabar com uma coisa que não é produtiva, sendo que em Macau ainda não se percebeu muito bem isto. E por isso há tanta insistência no discurso da diversificação da economia”, argumentou.

Uma ideia semelhante é partilhada pelo especialista em jogo Ben Lee. “O encerramento [de salas de jogo] vai ter impacto imediato na perda de emprego local, já que o Suncity é um grande empregador de Macau”, presente em mais de 40% dos casinos do território, salientou o analista da consultora de jogo IGamix.

“Sobretudo quando a economia está em baixo e a taxa de desemprego tem estado ligeiramente acima do que é habitual e tem sido motivo de preocupação” das autoridades, acrescentou.

“A outra implicação, agora é muito clara para nós, é que a China incluiu Macau no alcance da lei anti-jogo e na anunciada ‘lista negra’ de jurisdições”, sublinhou, numa referência à legislação de 2019 com a qual as autoridades chinesas procuram apertar o controlo à saída de capitais.

Na quarta-feira, o impacto nas bolsas era já significativo. Dois dos três operadores de casinos que possuem capital norte-americano registaram as maiores perdas: Wynn Macau (-8,63%) e Sands China (-4,24%).

Já a MGM China foi das únicas a ficar no verde, sem grandes alterações (+0,6%). A Melco (-1,63%), SJM (-4,14%) e Galaxy (-2,93%) também encerraram a sessão no negativo.

A transacção de acções do grupo Suncity de Macau na bolsa de Hong Kong voltou a ser suspensa pouco antes do início da sessão, o que já tinha sucedido na segunda-feira. Na terça-feira, as acções do maior angariador mundial de grandes apostadores caíram 42%.