Terras de tribo isolada invadidas para a produção de carne no Brasil, denuncia ONG
A ONG Survival International divulgou fotografias de um sobrevoo na região onde vive esta etnia de indígenas isolados.
As terras de uma das tribos isoladas mais vulneráveis do mundo, os Piripkura, que vivem no estado brasileiro do Mato Grosso, estão a ser ilegalmente invadidas e destruídas para a produção de carne, denunciou esta terça-feira a Survival International.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
As terras de uma das tribos isoladas mais vulneráveis do mundo, os Piripkura, que vivem no estado brasileiro do Mato Grosso, estão a ser ilegalmente invadidas e destruídas para a produção de carne, denunciou esta terça-feira a Survival International.
A organização não-governamental divulgou fotografias de um sobrevoo na região onde vive esta etnia de indígenas isolados. As imagens revelaram uma fazenda ilegal e também expuseram a violação de uma Ordem de Protecção à Terra de seis meses emitida em Setembro pelas autoridades do Brasil, que proibiu a entrada de todos os forasteiros na Terra Indígena Piripkura.
Oficialmente, sabe-se que dois membros da tribo Piripkura vivem no território, embora se acredite que outros indígenas também o façam, tendo-se retirado para as profundezas da floresta depois de vários membros terem sido mortos em massacres.
Segundo a Survival International, as imagens da fazenda ilegal foram feitas num sobrevoo realizado no mês passado para a campanha “Não Contactados ou Destruídos”, organizada pela ONG em parceria com a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazónia Brasileira (COIAB), o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Não Contactados e Recentemente Contactados (OPI), a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e o Instituto Socioambiental (ISA).
A campanha acaba de divulgar um relatório chamado “Piripkura: um território indígena sendo destruído para a produção de carne” que mostrou que o desflorestamento para a pecuária agora alcançou uma área onde os Piripkura vivem.
“Estradas, cercas e até mesmo uma pista de aterragem foram construídas e centenas de bois foram trazidos para o local. A taxa de desflorestação no território explodiu em mais de 27.000% nos últimos dois anos”, destacou a ONG.
A OPI também divulgou um relatório sobre a invasão das terras indígenas, que revelou que os Piripkura são agora o território indígena não contactado mais desflorestado do Brasil, com mais de 12.000 hectares destruídos.
A única piripkura contactada, uma mulher conhecida como Rita, disse recentemente à Survival International que há estranhos a operarem ilegalmente dentro do território que estão a ameaçar o seu povo e contou que nove de seus familiares foram massacrados num ataque.
“Não poderia haver maior prova da impunidade total – na verdade, apoio activo – que os invasores de terras desfrutam no [Governo do] Presidente [do Brasil, Jair] Bolsonaro do que isto: operações de pecuária comercial num território indígena de vital importância que é supostamente protegido por lei”, denunciou Sarah Shenker, chefe da campanha Tribos Não Contactadas da Survival International.
“Os invasores estão a aproximar-se rapidamente dos indígenas isolados Piripkura. Eles [indígenas] estão resistindo com todas as suas forças e nós também devemos. Somente um grande clamor público pode impedir o genocídio dos Piripkura e de outras tribos isoladas”, concluiu.
O Brasil tem sido alvo de críticas devido à política ambiental adoptada pelo actual Governo, que defende a exploração comercial de terras na Amazónia, e tem falhado na protecção de reservas indígenas.
Entre Agosto de 2020 e Julho de 2021, a área destruída na Amazónia brasileira totalizou 13.235 quilómetros quadrados, de acordo com números oficiais divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).