Abel é bicampeão e torna-se mestre na Libertadores
O técnico português poderá, agora, erguer a Libertadores para calar os críticos e “chutar para canto” uma temporada difícil. Abel é, por estes dias, mestre na prova sul-americana, depois do triunfo frente ao Flamengo.
Abel Ferreira garantiu neste sábado mais um “mandato” na liderança portuguesa na Taça dos Libertadores, com três títulos consecutivos desenhadas por cérebro e dedo nacionais (um de Jorge Jesus e dois de Abel). O Palmeiras venceu o Flamengo por 2-1 na final e chegou ao “tri” na “Champions da América”, igualando os clubes brasileiros mais titulados: Santos, São Paulo e Grêmio. O Mundial de Clubes vai ter, assim, dois técnicos portugueses: Abel, campeão da América do Sul, e Leonardo Jardim, campeão da Ásia.
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Abel Ferreira garantiu neste sábado mais um “mandato” na liderança portuguesa na Taça dos Libertadores, com três títulos consecutivos desenhadas por cérebro e dedo nacionais (um de Jorge Jesus e dois de Abel). O Palmeiras venceu o Flamengo por 2-1 na final e chegou ao “tri” na “Champions da América”, igualando os clubes brasileiros mais titulados: Santos, São Paulo e Grêmio. O Mundial de Clubes vai ter, assim, dois técnicos portugueses: Abel, campeão da América do Sul, e Leonardo Jardim, campeão da Ásia.
Para Abel Ferreira, este título tem um peso pessoal considerável. No capítulo estatístico, repete a conquista de 2020 (jogada já em 2021) e obtém metaforicamente o grau de mestre nesta prova: já é o treinador nascido fora da América do Sul com mais títulos nesta prova, superando Jorge Jesus e Mirko Jozic, ambos com um triunfo cada, e tornou-se o primeiro treinador, desde Carlos Bianchi (2000 e 2001) a conquistar a prova dois anos seguidos.
Mas há, depois, o plano sentimental – e também esse ganha um empurrão que pode ser decisivo no futuro do treinador no Brasil. O técnico tem tido dificuldade em aquecer os corações brasileiros, quer pela postura de permanente guerrilha (voltou a ser advertido por um árbitro), quer pelo futebol pouco entusiasmante.
Eduardo Massa, jornalista brasileiro, explicava ao Zerozero, antes deste jogo, que “Abel Ferreira não é uma unanimidade no Brasil, porque o futebol alviverde não corresponde aos altos investimentos feitos pelo clube nos últimos anos”. “Abel muitas vezes é acusado de ser um “retranqueiro” ou de privilegiar o jogo de contra-ataque”, acrescentou.
O técnico português tem feito do Palmeiras uma equipa mais sólida do que entusiasmante e voltou a levar essa matriz à final deste sábado, em Montevideu, no Uruguai, com um jogo jogado quase totalmente em processo defensivo. Mas ganhou e é isso que fica nos livros.
Abel vai continuar a viver do que vivem os treinadores de equipas de futebol conservador: de títulos. Depois de hoje, a bandeira das conquistas fica ainda mais fácil de hastear por parte do técnico português, que poderá erguer a Libertadores para calar os críticos e “chutar para canto” uma temporada difícil, na qual já deixou escapar a Recopa sul-americana, caiu cedo na Taça do Brasil, perdeu o campeonato paulista e tem a conquista do Brasileirão como uma completa quimera.
Flamengo joga, Palmeiras marca
Em Montevideu, a partida não foi nem mais nem menos do que o que se esperava que fosse: Flamengo a dominar e Palmeiras a jogar em transições. Renato Gaúcho escolheu um “onze” com cinco jogadores de cariz ofensivo, algo que também espoletava a conclusão de que o jogo teria aquele perfil. E a forma como a equipa carioca é tantas vezes batida pelo excessivo balanceamento ofensivo parecia ser um convite ao perigo que o Palmeiras cria nos contra-ataques.
Todas estas previsões demoraram apenas seis minutos a terem sentido prático. Mayke, o ala-direito no 5x4x1 de Abel, foi lançado em profundidade e fez um passe atrasado para a finalização de Raphael Veiga.
Sobre este golo, dois detalhes. O primeiro remete para a forma como Filipe Luís, lateral, e Bruno Henrique, extremo, não sabiam quem deveria marcar o ala adversário – não sendo sistemas simétricos, é algo que deveria já estar definido. Filipe Luís acabou por decidir – uma decisão unilateral – que deveria ser tarefa de Bruno Henrique e o extremo percebeu-o tarde demais, chegou atrasado e permitiu o passe fácil de Mayke.
Depois, nota para David Luiz. Foi ele quem colocou Mayke em jogo, no início do lance, e mais tarde abordou a jogada num “carrinho” despropositado, ficando incapaz de suster o posterior remate de Veiga.
Entre erros colectivos, pela incapacidade de interpretar o sistema táctico de Abel, e falhas individuais, divididas entre vários jogadores, o Flamengo começou praticamente a partida a perder.
E o jogo não foi diferente do que já seria com ou sem golo do Palmeiras: Flamengo a jogar em ataque posicional, com os centrais já bem dentro do meio campo de um retraído Palmeiras.
Mas como o futebol não é um mais um, o Palmeiras acabou a primeira parte com mais golos, mais remates e mais remates à baliza. O Flamengo, apesar de ter muita bola, raramente conseguiu penetrar no bloco do Palmeiras, até pela rigidez posicional dos atacantes, pouco dinâmicos – por vezes, parados mesmo.
A excepção foi o apoio frontal dado por Gabriel Barbosa, aos 43’, arrastando marcações. Fez, depois, um passe longo para Everton, que amorteceu para um remate de De Arrascaeta defendido por Weverton.
Abel tinha um plano
Logo a abrir a segunda parte houve um cruzamento desprovido de uma finalização de Gabriel ao segundo poste, um lance de bola parada finalizado por David Luiz e defendido por Weverton e, novamente de canto, um lance não concretizado por Bruno Henrique.
Eram pistas de que o Flamengo, após o intervalo, procurava chegar à área com maior rapidez, saltando, por vezes, processos de jogo associativo dos quais nunca abdicou na primeira parte. A equipa não deixou totalmente essa matriz de jogo, mas misturou-a com alguns cruzamentos e jogo directo, sendo esses os momentos em que mais perigo criou.
Da parte do Palmeiras havia pouco a “inventar”: era defender como podia e contra-atacar quando podia. A equipa estava cada vez mais recuada e parecia uma questão de tempo o golo do Flamengo. Aos 72’, Gabriel virou Gabigol e justificou o epíteto com um remate cruzado – voltou a desequilibrar novamente quando “fugiu” da posição-base de ponta-de-lança que Renato Gaúcho lhe destinou, desta feita assistido por De Arrascaeta, que pouco espaço para jogar tinha tido até então.
Uma vez mais, o aparecimento de um golo não mudou uma única vírgula no plano escrito por Abel. O Palmeiras manteve-se imune a mudanças conforme o jogo e continuou confortável em bloco baixo.
Aos 86’, Michael desequilibrou num detalhe técnico e ficou em posição de fazer o 2-1, mas rematou ligeiramente ao lado.
Os últimos minutos foram de espera pelo prolongamento, sem que ninguém tentasse ferir o adversário, mas Abel tinha um plano maior nesse domínio. Lançou o ex-Benfica Deyverson para o prolongamento, sendo visto na linha lateral a pedir ao avançado para pressionar alto a construção do Flamengo. O avançado, bem fresco, fê-lo uma primeira vez e, à segunda, roubou a bola a Andreas Pereira, que estava “a dormir” em zona proibida. Isolado, o avançado bateu Diego Alves.
Pela terceira vez, o Palmeiras nada mudou com o golo. O jogo manteve-se sob domínio do Flamengo, mas, nesta fase, com ainda menos engenho do que até então – o desgaste também não terá ajudado. O “assalto” à área do Palmeiras acabou por ser suave e pouco mais se passou. A seguir, veio a festa.