INSA diz que nova variante detectada na África do Sul ainda não foi identificada em Portugal
Esta variante tem várias mutações genéticas relevantes. Mas não sabemos se isso faz com que seja “mais transmissível ou com associação a falhas vacinais”, frisa. “É um motivo de preocupação naturalmente, mas não é motivo de alarme total.”
João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), diz que a nova variante do vírus SARS-CoV-2 detectada na África do Sul é “um motivo de preocupação, mas não é motivo de alarme total”, adiantando que ainda não foi identificado nenhum caso em Portugal.
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João Paulo Gomes, investigador do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), diz que a nova variante do vírus SARS-CoV-2 detectada na África do Sul é “um motivo de preocupação, mas não é motivo de alarme total”, adiantando que ainda não foi identificado nenhum caso em Portugal.
Contactado pela agência Lusa, o investigador afirmou que esta nova linhagem B.1.1.529 está em estudo e ainda não foi classificada como variante de interesse ou de preocupação pelas autoridades internacionais, nomeadamente a Organização Mundial da Saúde.
“Ela emergiu na África do Sul e pensa-se que possa estar associada à elevada taxa de positividade que está agora reportada naquele país”, havendo alguns “casos esporádicos” nos países vizinhos, nomeadamente no Botswana, adiantou João Paulo Gomes.
“Nós fazemos a vigilância contínua das variantes e nunca até hoje identificámos qualquer caso de infecção associado a esta linhagem”, assegurou.
Segundo o microbiologista, é uma linhagem que preocupa a comunidade científica porque se caracteriza pela presença simultânea de “um anormal número de mutações na proteína de interesse, a proteína de espícula ou spike”.
“Muitas dessas mutações estão na zona de ligação às nossas células e outras são mutações reconhecidamente associadas à falha de ligação aos anticorpos. Portanto, o problema desta nova linhagem é que tem muito mais mutações destas do que as outras variantes que nos preocuparam até agora”, explicou.
Ressalvou, contudo, que não é por ter a presença simultânea destas mutações relevantes que faz com que seja “mais transmissível ou com associação a falhas vacinais”.
“Temos que dar tempo ao tempo. É um motivo de preocupação naturalmente, mas não é motivo de alarme total”, considerou.
“É importante que os países façam a sua monitorização, estejam atentos e prontos e vamos ver até que ponto é que ela tem algum impacto não desejável”, acrescentou.
O especialista disse ainda que concorda com a medida anunciada pelo Governo de que quem viaja para Portugal tem obrigatoriamente que apresentar um teste negativo, mesmo que esteja vacinado. Lembrou que alguns países, nomeadamente o Reino Unido, “nem sequer permite voos originários da África do Sul e do conjunto de países vizinhos para evitar qualquer tipo de introdução”.
João Paulo Gomes lembrou que a África do Sul já foi incubadora de uma variante de preocupação, a variante Beta, que não teve uma disseminação muito vincada por todo o mundo, não passou dos 5%. No entanto, estima-se que tenha atingido cerca de 90 a 95% de todos os casos de infecção na África do Sul.
“Agora, obviamente, dado o tipo de mutações que esta nova linhagem tem, a última coisa que queremos é que ela se dissemine pelo resto do mundo e, portanto, acho que temos de ter precaução.”