A era dos grandes combates contra a covid acabou
O Governo suspeita de que, depois da liberalidade concedida aos festejos de Natal, o país corre sérios riscos de entrar numa escalada perigosa da pandemia. É isso que a “semana de contenção” nos indica.
Não é fácil para nenhum líder político anunciar medidas restritivas da liberdade dos cidadãos ou das empresas, e ainda é mais difícil quando esses anúncios acontecem em períodos eleitorais. O plano do Governo para travar a escalada de infecções de covid-19 desta quinta-feira é a prova dessas dificuldades. Até ao Natal, os portugueses terão de se ajustar à brandura dos apelos à sensatez, a medidas pacíficas como o uso de máscara em espaços fechados ou a exibir o seu certificado digital quando entrarem num restaurante. Depois das festas, chegam então as medidas mais restritivas, como o fecho de discotecas ou de escolas ou a obrigatoriedade do teletrabalho. Por outras palavras, não será feito para perturbar o espírito do Natal, mas tudo será feito para evitar logo a seguir as suas consequências.
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Não é fácil para nenhum líder político anunciar medidas restritivas da liberdade dos cidadãos ou das empresas, e ainda é mais difícil quando esses anúncios acontecem em períodos eleitorais. O plano do Governo para travar a escalada de infecções de covid-19 desta quinta-feira é a prova dessas dificuldades. Até ao Natal, os portugueses terão de se ajustar à brandura dos apelos à sensatez, a medidas pacíficas como o uso de máscara em espaços fechados ou a exibir o seu certificado digital quando entrarem num restaurante. Depois das festas, chegam então as medidas mais restritivas, como o fecho de discotecas ou de escolas ou a obrigatoriedade do teletrabalho. Por outras palavras, não será feito para perturbar o espírito do Natal, mas tudo será feito para evitar logo a seguir as suas consequências.
Na aparência, esta forma de afagar as expectativas das pessoas e das famílias num período tão importante pode parecer hipócrita ou eleitoralista, ou ambas. Da mesma forma, esta estratégia que visa controlar danos a posteriori pode ser entendida como uma táctica política que sugere falta de coragem. Para lá destas legítimas suspeitas, há outros e importantes factores a considerar. Em primeiro lugar, a impaciência dos cidadãos com a pandemia já não tolera proibições drásticas. Em segundo, a taxa de vacinação ou os índices de procura do SNS justificam cautelas, não medidas dramáticas. Depois, a promessa de que a vacinação de crianças está para breve, ou que a administração da terceira dose vai acelerar, reforça a confiança.
Não deixa, no entanto, de ser impossível notar que há uma contradição entre a moderação das medidas até ao final do ano e a “semana de contenção” que se lhe segue. Na prática, o que as restrições dessa semana nos dizem é que o Governo suspeita de que as medidas são insuficientes. Suspeita de que, depois da liberalidade concedida aos festejos de Natal, o país corre sérios riscos de entrar numa escalada perigosa da pandemia. A falta de nexo entre o primeiro e o segundo momento desta estratégia é a prova de que a era das grandes batalhas contra a covid-19 acabou.
Numa democracia, as melhores políticas são sempre as que geram elevados graus de consentimento e envolvimento dos cidadãos. Um ano e meio depois da pandemia, com os dados disponíveis a assustar pelo aumento dos contágios mas a gerar um mínimo de segurança pelos números de doentes graves, o plano do Governo pode não ser o ideal, mas é seguramente o mais exequível. Agora, como em muitos outros momentos, está na hora de os cidadãos darem o seu contributo para que corra pelo melhor.