Deputada britânica impedida de levar o filho de três meses para o Parlamento

Stella Creasy, que se senta do lado do Partido Trabalhista britânico na Câmara dos Comuns, foi apanhada de surpresa depois de ter sido informada que ia contra as regras do Parlamento levar para o trabalho o seu bebé de três meses que amamenta.

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A deputada já tinha levado o filho a outras sessões parlamentares, bem como a sua filha mais velha

Depois de marcar presença num debate na Câmara dos Comuns, em Westminster Hall — a câmara baixa do Parlamento do Reino Unido —, com o seu filho de três meses, a deputada e política britânica Stella Creasy recebeu um e-mail que lhe dizia que estava a ir contra as regras da instituição e que os bebés não seriam permitidos nas reuniões de trabalho. 

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Depois de marcar presença num debate na Câmara dos Comuns, em Westminster Hall — a câmara baixa do Parlamento do Reino Unido —, com o seu filho de três meses, a deputada e política britânica Stella Creasy recebeu um e-mail que lhe dizia que estava a ir contra as regras da instituição e que os bebés não seriam permitidos nas reuniões de trabalho. 

“Isto é uma novidade para mim”, comentou Stella Creasy​ à BBC, adiantando que pediu uma revisão da decisão aos representantes do Parlamento. De facto, a deliberação apanhou a deputada de surpresa, já que não foi esta a primeira vez que participou num debate parlamentar acompanhada pelo filho, que ainda amamenta, como também já o tinha feito com a sua filha mais velha, sem quaisquer problemas.

Porém, a situação alterou-se nesta terça-feira, quando foi alertada pela secretária privada da speaker da Câmara dos Comuns Eleanor Laing (uma espécie de árbitro dos procedimentos) de que teria infringido as recentemente lançadas regras relativas aos “comportamentos e cortesias” a ter no Parlamento. 

O vice-primeiro-ministro do Reino Unido, Dominic Raab, já veio a público comentar o caso, afirmando que os políticos precisam de adaptar a sua profissão ao mundo moderno “para que os pais consigam conciliar os seus trabalhos com o tempo de família que precisam”, cita a BBC. No entanto, e apesar de considerar que o bebé de Stella Creasy não atrapalharia o seu trabalho de forma alguma, Dominic Raab admite que cabe aos superiores parlamentares decidir qual é a resposta certa desta situação. 

Por sua vez, Stella Creasy, que está à frente de uma campanha que incentiva as mulheres a entrarem na política, intitulada This Mum Votes (Esta mãe vota, em português), partilhou nas suas redes sociais o e-mail que lhe enviaram, acrescentando na publicação que “parece que as mães naquela que é a casa-mãe da democracia não são para serem vistas ou ouvidas...”.

No mesmo e-mail, refere-se que a decisão tem como base o livro de Regras de Comportamento e Cortesias na Câmara dos Comuns, recentemente actualizado e publicado e em Setembro. Nele lê-se que “não é aconselhado aos membros do Parlamento sentarem-se nos seus lugares quando acompanhados por uma criança, nem permanecerem em qualquer parte da sala”. A regra, porém, já surgia em edições passadas do documento. 

No entanto, Alex Davies-Jones, outra deputada britânica, referiu que tinha sido informada pelo presidente da Câmara dos Comuns, Lindsay Hoyle, que podia amamentar a sua criança no Parlamento se precisasse. 

“Eu não tenho uma licença de maternidade, nem os direitos suficientes para deixar de trabalhar”, defendeu-se Creasy, que já pediu que as regras fossem revistas. “Eu tive um bebé, não perdi as minhas capacidades nem o meu cérebro que me permite trabalhar”, acrescentou a deputada que acredita que a política só será melhor se contar com a ajuda das mães. 

Apesar de os membros do parlamento terem direito a uma licença de maternidade paga por seis meses, alguns já confessaram ter dificuldades em obter os fundos adequados durante essa mesma licença. E, apesar de dispensados das restantes tarefas, ainda precisam de comparecer aos debates na Câmara dos Comuns. 

A antiga líder do Partido Liberal-Democrata Jo Swinson foi a primeira mulher a levar o seu filho para um debate parlamentar em 2018. Já Jacinda Arden, a primeira-ministra da Nova Zelândia, tornou-se a primeira líder mundial a levar um bebé para uma Assembleia-Geral das Nações Unidas. 

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Jo Swinson

Na Austrália, seria a senadora Larissa Waters a quebrar as barreiras, ao amamentar a filha enquanto votava em 2017. Já em Espanha, Carolina Bescansa, do Podemos, foi criticada por fazer o mesmo no Parlamento em 2016. Por sua vez, a filha de Licia Ronzulli, membra do Parlamento Europeu, ficou famosa por participar nas sessões desde que tinha apenas um mês de idade. 

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