Oceano Árctico começou a aquecer no início do século XX

Os cientistas falam em atlantificação do Árctico, fenómeno em que ocorre a chegada de águas mais quentes e salgadas vindas do Atlântico.

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Árctico na zona de Svalbard Sara Giansiracusa

O Oceano Árctico começou a aquecer no início do século XX, décadas mais cedo do que se pensava, segundo uma investigação publicada esta quarta-feira na revista Science Advances, que aponta as últimas duas décadas como as mais “quentes”.

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O Oceano Árctico começou a aquecer no início do século XX, décadas mais cedo do que se pensava, segundo uma investigação publicada esta quarta-feira na revista Science Advances, que aponta as últimas duas décadas como as mais “quentes”.

O aquecimento do Árctico deve-se a água mais quente que flui para o delicado ecossistema a partir do oceano Atlântico, com o aumento da temperatura a ser mais notório nos últimos 20 anos, indica o estudo de um grupo internacional de investigadores liderado pela Universidade de Cambridge (Reino Unido).

Os investigadores notam que todos os oceanos do mundo estão a aquecer, devido às alterações climáticas, mas que o oceano Árctico, o mais pequeno e menos profundo, está a aquecer mais rapidamente do que qualquer outro.

O grupo reconstruiu a história recente do aquecimento do oceano junto do Árctico, na região do estreito de Fram, entre a Gronelândia e o arquipélago norueguês de Svalbard, utilizando as assinaturas químicas encontradas em microrganismos marinhos.

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recolha de sedimentos marinhos perto de Svalbard Sara Giansiracusa

E concluiu que o oceano Árctico começou a aquecer rapidamente no início do século XX, à medida que águas mais quentes e salgadas vinham do oceano Atlântico, um fenómeno chamado atlantificação. Uma mudança que começou antes da documentada pelas medições instrumentais modernas e que já provocou desde 1900 um aumento da temperatura de dois graus Celsius.

Os resultados do estudo indicam também que há uma ligação entre o Árctico e o Atlântico Norte muito mais forte do que se pensava, que é capaz de moldar a variabilidade climática no Árctico, podendo ter implicações no recuo do gelo marinho e na subida global do nível do mar.

“A taxa de aquecimento no Árctico é mais do dobro da média global”, diz um dos autores da investigação, Francesco Muschitiello, do Departamento de Geografia de Cambridge.

“Com base nas medições por satélite sabemos que o oceano Árctico tem vindo a aquecer constantemente, em particular nos últimos 20 anos, mas queríamos colocar o aquecimento recente num contexto mais longo”, acrescenta o investigador, citado em comunicado da Universidade de Cambridge.

À medida que o oceano Árctico aquece provoca o derretimento do gelo na região polar, o que afecta o nível global do mar e expõe mais da superfície do oceano ao sol, libertando calor e aumentando a temperatura do ar. Esse aumento das temperaturas provoca também o derretimento do permafrost (solo permanentemente congelado, muitas vezes constituído por turfa), que armazena enormes quantidades de metano, um gás com efeito de estufa muito mais potente do que o mais “mediático” dióxido de carbono.

Os investigadores reconstruíram as alterações das propriedades da água do Árctico ao longo dos últimos 800 anos. “Quando olhámos para todo o período de 800 anos, os nossos registos de temperatura e salinidade pareceram muito constantes. Mas, de repente, no início do século XX, obtém-se esta mudança marcada na temperatura e na salinidade”, disse outro dos autores do estudo, Teci Tommaso, do Instituto de Ciências Polares do Conselho Nacional de Investigação de Bolonha (Itália).

O investigador considerou “intrigante” a rápida atlantificação do estreito de Fram, a “porta” do Árctico, e alertou que essa atlantificação pode aumentar devido às alterações climáticas.