Camilo Rebelo. Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa
O podcast No País dos Arquitectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.
No 18.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Camilo Rebelo, que fala sobre o Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
No 18.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Camilo Rebelo, que fala sobre o Museu de Arte e Arqueologia do Vale do Côa.
Embora a arquitectura seja a narrativa principal deste episódio, a verdade é que o arquitecto traça um conjunto de narrativas secundárias que têm como pano de fundo o tema da sustentabilidade. Em sintonia com a paisagem, o Museu do Côa encontra-se localizado no território do Alto Douro Vinhateiro e é a partir dessa relação que protege a arte rupestre do Vale do Côa. Ou recorrendo às palavras do arquitecto: “O Côa é um terraço que vê a paisagem – porque é a paisagem que é classificada – e faz dessa mesma paisagem a estrutura e a composição do próprio terraço”.
Tendo em conta a importância que o tema da sustentabilidade assume na investigação desenvolvida pelo arquitecto, no primeiro momento da entrevista procura-se compreender como é que a arquitectura pode deixar de ser um problema para o planeta e passar a ser uma solução.
Camilo Rebelo começa por associar a qualidade ambiental à qualidade arquitectónica para mostrar o papel do arquitecto na construção de casas mais saudáveis e amigas do ambiente e, à medida que a conversa avança, fundamenta a sua posição: “Não se pode estar a ensinar a hierarquia de espaço ou a proporção sem estarmos a falar de matéria e a matéria é um acto de consumo contínuo (...). Não ter grande necessidade de aquecer a casa, não precisar de muita luz artificial, reduzir consumos, não ter de arrefecer os vários compartimentos – que é um tema que eu considero absolutamente importante –, pois é mais dispendioso arrefecer do que aquecer uma casa. Não precisar de arrefecer a casa num país que tem tendência a aquecer é um grande salto. Todo este tema é uma escolha, mas o dever do arquitecto é alertar para essa escolha”. Portanto, para que o edifício se torne ecológico, tem de reduzir ao máximo o impacto no ambiente.
Um dos factores que reduz o gasto das energias não renováveis e combate o desperdício é também a proximidade de matéria-prima no decorrer da obra. Essa foi uma das conclusões a que o arquitecto Camilo Rebelo chegou, durante o processo construtivo do Museu do Côa, juntamente com o arquitecto Tiago Pimentel e a sua equipa multidisciplinar. Entre os vários elementos da equipa, encontram-se engenheiros como Jorge Nunes da Silva, arqueólogos e outros especialistas que muito contribuíram para reflectir e trabalhar sobre aquele que viria a ser o principal tema do museu: a Pedra.
Como tudo foi desenhado em função da paisagem, o nosso entrevistado guarda vivas memórias sobre a beleza do lugar. Numa das várias visitas ao local onde iria ser construído o Museu do Côa, o arquitecto conta que estava reunido com um grupo de pessoas. Entre elas, encontravam-se arqueólogos e alguns visitantes. Enquanto ouve uma apresentação, Camilo Rebelo senta-se descontraidamente num grande pedregulho. De repente, sem que nada o fizesse prever, debaixo da pedra, em que o arquitecto se apoiava, sai um lagarto. Nesse instante, o susto e o riso misturaram-se naquele ‘rio de gente’ e, no final, ficou a lembrança para recordar como as altas temperaturas do território forçam o encontro entre bichos e pessoas. A pedra – como o elemento que “dá abrigo” e “protecção” – parecia sugerir, mais uma vez, parte das respostas para este projecto.
“Construir no local e com o local” foi uma das principais premissas. Como um dos objectivos passava por edificar “um museu com pedra”, a ideia original era utilizar o próprio xisto. Porém, os arquitectos viram-se obrigados a excluir essa opção, quando a equipa de engenheiros explicou que “o xisto não era um material tecnicamente válido” por “não responder aos esforços do betão armado”. Tudo indicava que o tema da pedra estava sob ameaça, mas a natureza do território e a colaboração entre os vários elementos encaminhariam para a solução: “Nós queríamos construir um grande monólito na paisagem, um megalítico. Ou seja, algo que tornasse a pedra num ícone, atribuindo-lhe um novo significado com um significado habitável. Neste caso, não com o código da caça ou com o código da fertilidade como o Homem do Paleolítico, mas com os códigos da arquitectura com portas, janelas, salas, espaços e luz”.
Juntos procuraram a continuidade cromática da paisagem e optaram por utilizar o betão pigmentado com elementos que se aproximassem da cor e da textura do xisto: “Temos amostras em betão que são exactamente iguais às das pedras”.
No País dos Arquitectos é um dos podcasts da Rede PÚBLICO. Produzido pela Building Pictures, criada com a missão de aproximar as pessoas da arquitectura, é um território onde as conversas de arquitectura são uma oportunidade para conhecer os arquitectos, os projectos e as histórias por detrás da arquitectura portuguesa de referência.
Segue o podcast No País dos Arquitectos no Spotify, na Apple Podcasts ou em outras aplicações para podcast.
Conhece os podcasts da Rede PÚBLICO em publico.pt/podcasts.
Se gostas de ouvir podcasts, subscreve gratuitamente a newsletter Subscrito, com novidades e recomendações para trazer nos ouvidos.