Deus ou a natureza desenhou os seios da mulher como prova irrevogável da perfeição

Com a revista pousada sobre o colo, passou de forma inadvertida a mão direita pelos seus seios, também estes entumecidos pela visão da já supracitada rapariga loira. Sentiu prazer, mas nem por isso começou a apreciar as mamas das mulheres que consigo conviviam ou que com ela se cruzavam na rua.

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Victoria Strukovskaya/Unsplash

A primeira vez que reparou nas mamas de uma mulher foi ao folhear um catálogo de roupa de uma marca francesa muito em voga na época. Depois das páginas da revista dedicadas à secção de pronto-a-vestir - só recentemente atingira a idade para começar a encomendar peças na dita secção -, seguiram-se as páginas dedicadas à lingerie, nomeadamente aos soutiens, o que a entusiasmou de imediato sem que o tivesse previsto.

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A primeira vez que reparou nas mamas de uma mulher foi ao folhear um catálogo de roupa de uma marca francesa muito em voga na época. Depois das páginas da revista dedicadas à secção de pronto-a-vestir - só recentemente atingira a idade para começar a encomendar peças na dita secção -, seguiram-se as páginas dedicadas à lingerie, nomeadamente aos soutiens, o que a entusiasmou de imediato sem que o tivesse previsto.

Lembra-se com exactidão de ter ficado empancada na página 123 do dito catálogo, onde se encontrava uma rapariga loira e magra, com metade da cara escondida numa timidez encenada. A rapariga loira tinha a pele igualmente dourada e usava um soutien branco muito elegante, sem deixar de ser sensual, de tule finíssimo, em que podiam ver-se os seus dois mamilos rosados, ligeiramente hirtos, forçando ao de leve o tecido da dita peça de roupa. Sentiu uma excitação enorme.

Com a revista pousada sobre o colo, passou de forma inadvertida a mão direita pelos seus seios, também estes entumecidos pela visão da já supracitada rapariga loira. Sentiu prazer, mas nem por isso começou a apreciar as mamas das mulheres que consigo conviviam ou que com ela se cruzavam na rua. Os seios davam-lhe uma sensação de excitação, sim, mas também de perfeição.

Por isso, aconteceu mais tarde e numa das idas à biblioteca, pesquisar obras de vários pintores e a forma como representavam os seios. Descobriu, por exemplo, a excelência da pintura Beleza Revelada, um pequeno auto-retrato da pintora norte-americana Sarah Goodridge, do século XIX, em que apenas se encontram os maravilhosos seios da autora, rodeados por um tecido claro (semelhante ao tule da rapariga loira do catálogo). Ficou extasiada com a descoberta daquela pintura, tinha a noção de estar perante algo belo, divino, perto da perfeição.

Durante a adolescência, seguiram-se muitas obras descobertas nas páginas dos vários livros da biblioteca. Decidiu por isso, ao terminar o liceu, ir estudar História da Arte. Dedicou-se depois da licenciatura à escrita de um doutoramento intitulado Deus ou a natureza desenhou os seios da mulher como prova irrevogável da perfeição. A sua tese abordava o tema dos seios como facto de uma certa divindade construída, por exemplo, pelas madonas e a sua religiosidade, ou pela força das Vénus e o paganismo intrínseco da natureza.

Aos 30 anos foi contratada como professora numa prestigiada universidade. Um dia, depois de ter dado uma aula que lhe correu excepcionalmente bem, sentada à secretária do auditório com a sala recentemente esvaziada de discentes, levou a mão ao peito por instinto e sentiu debaixo da mama esquerda um nódulo. Apercebeu-se de que a sua vida e a relação com o tema do seu trabalho poderiam mudar irreversivelmente a partir daquele momento. Talvez algo de imperfeito tivesse acontecido naquela parte perfeita do seu corpo.