Ryanair estreia-se na Madeira com nova base e dez rotas, incluindo Lisboa e Porto
Low cost anuncia chegada ao Funchal. Voos deverão começar na Primavera de 2022 e poderão revolucionar os preços no mercado aéreo madeirense.
E por fim, 18 anos depois de se estrear em Portugal, o porta-aviões dos voos low cost vai chegar ao grande aeroporto português que lhe faltava, o do Funchal, que será uma nova base operacional da companhia a partir de Março. Na Madeira, a Ryanair começa com dez rotas, com cinco novos destinos directos e 40 frequências semanais, destacando-se as ligações a Lisboa, com dois voos diários, e Porto, com um voo diário.
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E por fim, 18 anos depois de se estrear em Portugal, o porta-aviões dos voos low cost vai chegar ao grande aeroporto português que lhe faltava, o do Funchal, que será uma nova base operacional da companhia a partir de Março. Na Madeira, a Ryanair começa com dez rotas, com cinco novos destinos directos e 40 frequências semanais, destacando-se as ligações a Lisboa, com dois voos diários, e Porto, com um voo diário.
Entre as rotas garantidas e já disponibilizadas no site da companhia, além das ligações domésticas, encontram-se Marselha, Manchester, Londres Stansted, Milão Bérgamo, Bruxelas Charleroi, Dublin, Nuremberga e Paris Beauvais. Os preços de estreia, que deverá ocorrer em Março de 2022, começam em 29,99 euros por trajecto, anuncia-se na campanha entretanto activada: os bilhetes para as rotas já estão à venda para a Primavera-Verão.
O investimento anunciado é de 200 milhões de dólares (178 milhões de euros, essencialmente ligados ao valor dos aviões), com a criação de “mais de 60 postos de trabalho directos na região e mais de 400 postos de trabalhos indirectos”, refere a Ryanair em comunicado. A operação deverá garantir 350 mil novos lugares, um potencial aumento de 22% no transporte de passageiros. Segundo a empresa, a base madeirense terá duas aeronaves posicionadas.
Os detalhes foram revelados numa conferência de imprensa no Aeroporto Cristiano Ronaldo, com a presença do presidente executivo da Ryanair, Eddie Wilson, e em que participaram também o ministro da economia, Siza Vieira, Miguel Albuquerque, presidente do Governo Regional da Madeira, e Thierry Ligonnière, CEO da ANA Aeroportos de Portugal/Vinci.
Até agora, voos Funchal-Lisboa eram apenas garantidos pela TAP e Easyjet. As duas companhias também realizam a ligação Funchal-Porto, neste caso competindo também com a Transavia.
Na segunda-feira, aterrou pela primeira vez um voo da Ryanair no Funchal. Mas o 737 Max da companhia não trouxe ainda passageiros pagantes: foi apenas um voo simbólico e empresarial, trazendo a comitiva da Ryanair envolvida nas operações madeirenses.
A Madeira torna-se assim a quinta base da empresa em Portugal, depois de Lisboa, Porto, Faro e Ponta Delgada. Um projecto que já estava em curso há “bastante tempo”, como disse o ministro da Economia, Siza Vieira, citado pela Lusa. Para o governante, a chegada da Ryanair representa um “investimento significativo” do Governo para assegurar a “melhoria da conectividade aérea e da acessibilidade” ao arquipélago, destacando que são mais 189 mil lugares por ano nas ligações domésticas. Sem revelar detalhes do acordo com a Ryanair, indicou que este é válido por quatro anos e obriga a companhia a manter as dez rotas durante este período.
Ao longo dos anos, foram contínuas as declarações de interesse da Ryanair na Madeira. Mas as negociações foram, de facto, demoradas e nem sempre livres de polémicas. Já em 2016, o patrão da low cost, Michael O’Leary, voltava a sublinhar esse interesse, referindo já na altura que a empresa estava a “estudar e a falar com o Funchal e a Terceira” e que esperava que em 2017/18 já existissem ligações ao Funchal – mas não aconteceria, apenas com a Terceira, nos Açores.
Em 2017, noticiava-se que a Ryanair tinha pedido, no ano anterior, seis milhões de euros (12,5 euros por passageiro) para voar para o Funchal, prometendo duplicar em cinco anos o tráfego anual.
A TAP já garantiu que irá “reagir em conformidade”, nas palavras de Christine Ourmières-Widener, presidente da comissão executiva da empresa. Ourmières-Widener esteve na sexta-feira na Assembleia Legislativa Regional da Madeira, tendo sido ouvida na Comissão Especializada Permanente de Economia, Finanças e Turismo sobre várias questões.
“É verdade que nunca são boas notícias o aparecimento de um concorrente nas rotas onde a companhia está presente, sobretudo tratando-se da Ryanair, que, como é sabido, não tem sido particularmente amiga da TAP”, disse, quando questionada sobre a sua reacção à chegada iminente da Ryanair ao arquipélago, citada pela Lusa.
“Estamos cientes que a Ryanair vai vir com toda a força e vamos reagir com as armas que temos ao nosso alcance”, atirou, defendendo que “se é verdade que a Ryanair quando entra num determinado mercado fá-lo com pompa e circunstância, também é verdade que, quando sai, a pompa e circunstância ficam de fora”. Ao contrário da TAP, garantia, referindo que a companhia portuguesa não vai abandonar a região e aproveitando para anunciar o aumento de número de voos entre Lisboa e a Madeira no período do Natal, de seis para oito semanais, e adiantando que em 2022 os voos regulares a partir de Lisboa e Porto passarão de seis para sete.
O anúncio da base da Ryanair segue-se a uma polémica sobre os preços praticados pela companhia, com o presidente do Governo Regional da Madeira a questionar a TAP, há poucos dias, sobre “como é que é possível que se pratique preços numa carreira regular de transporte de aviação, de 900 e tal quilómetros, de 1083 euros”. O valor referido aplicava-se a valores encontrados para o período de Natal/Ano Novo. Ourmières-Widener comentaria esta questão referindo, segundo a Lusa, que a política de preços resulta da lei da oferta e da procura, mas que o anunciado aumento da capacidade de voos para a Madeira iria provocar uma redução dos preços.
Este ano, no primeiro semestre, passaram pelo aeroporto do Funchal cerca de 445 mil passageiros, uma redução de 28,7% em relação a 2020 e de 72,7% face a 2019, um efeito catastrófico da pandemia no tráfego aéreo de que muitos, e naturalmente a Ryanair, esperam que se recupere em 2022.
Disputa de mercado
De acordo com o boletim estatístico do regulador sectorial, a ANAC, referente ao terceiro trimestre deste ano, a TAP e a Easyjet rivalizam em termos de quota de mercado de movimentos no aeroporto do Funchal, com 21% cada (contabilizando a Easyjet a partir de Portugal e de outros mercados europeus).
Já em termos de passageiros a Easyjet liderou entre 1 de Julho e 30 de Setembro, com 27% (21% mais 6%), cabendo 20% à TAP. A rota Lisboa-Funchal foi a terceira de termos de voos regulares nos aeroportos nacionais, com 2% do total de movimentos, logo após Lisboa-Madrid (2,3%) e Lisboa-Paris (também com 2%).
As receitas turísticas na Madeira registaram uma boa recuperação nos meses de Verão. De acordo com os últimos dados divulgados pelo INE, os alojamentos turísticos localizados no arquipélago encaixaram 126,7 milhões de euros entre Julho e Setembro, valor que fica apenas 2% abaixo do mesmo período de 2019 (ano em que se bateram novos recordes no sector a nível nacional). Os meses de Agosto e de Setembro foram mesmo superiores aos de 2019, demonstrando um ritmo de recuperação que poderá trazer boas novidades para a região nos próximos meses, mas a performance de Julho acabou por não permitir superar as receitas pré-covid.
Na sexta-feira, no site de empregos da companhia já surgiam dois anúncios: para engenheiro e mecânico de aeronaves na empresa que faz a manutenção para a companhia em Portugal, a JC Aircraft Maintenance.
Mudanças previstas no OE não chegam ao terreno
O Orçamento do Estado para 2020 continha um novo modelo de subsídio de mobilidade da Madeira, proposto pelos deputados do PSD Madeira e aprovado na Assembleia da República, que está ainda por aplicar – falta a respectiva regulamentação. De acordo com as regras ainda em vigor, o valor pago a mais por um bilhete aéreo por parte de um residente na ilha da Madeira (ou equiparado) é reembolsado após a entrega de vários documentos.
O direito ao reembolso ocorre quando o custo do bilhete é superior a 86 euros no caso de residentes e a 65 euros no caso dos estudantes que viajem entre esta região e o continente. Já de acordo com as regras que deviam ter entrado em vigor o viajante passava a pagar desde logo apenas o valor que tem de ser desembolsado enquanto residente, anulando assim o pagamento total do bilhete no momento da compra, e o respectivo reembolso.
Na altura, a Easyjet insurgiu-se contra as mudanças, afirmando que tal iria forçar a companhia a interromper as suas rotas entre Portugal Continental e a Madeira.
José Lopes, director-geral da Easyjet em Portugal, explicou que o novo modelo fazia com que “quase um em cada três passageiros” (os residentes representam 30% do total dos clientes, explicou) deixasse de ser sensível à flutuação de preço, pelo que a empresa não conseguiria “estimulá-los com as variações” e prever, “em termos da gestão da rentabilidade do voo, qual é a receita” a arrecadar no dia do voo partir. Além disso, defendeu, seria preciso criar de raiz um processo de compra para os passageiros residentes na Madeira, completamente separado do já existente.