Extrema-direita e coligação de esquerda disputam segunda volta das presidenciais do Chile

Aconteça o que acontecer na segunda volta, dia 19 de Dezembro, o Chile que se segue não é o da continuidade. Vencedor da primeira volta promete “enfrentar narcotráfico e pôr fim ao terrorismo”.

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O Chile passará as próximas semanas dividido e à espera de saber se o próximo Presidente do país representa um regresso aos valores de Pinochet ou uma recuperação dos valores de Allende: de acordo com os resultados quase definitivos da primeira volta das eleições presidenciais, o candidato de extrema-direita José Antonio Kast ficou à frente (28%) do antigo líder estudantil de esquerda Gabriel Boric (26%). A segunda volta está marcada para dia 19 de Dezembro.

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O Chile passará as próximas semanas dividido e à espera de saber se o próximo Presidente do país representa um regresso aos valores de Pinochet ou uma recuperação dos valores de Allende: de acordo com os resultados quase definitivos da primeira volta das eleições presidenciais, o candidato de extrema-direita José Antonio Kast ficou à frente (28%) do antigo líder estudantil de esquerda Gabriel Boric (26%). A segunda volta está marcada para dia 19 de Dezembro.

Será um duelo entre dois modelos opostos, resume o jornal espanhol El País. Por um lado, “o que reclama segurança e a restauração da paz perdida desde que as revoltas de 2019 abalaram as raízes da transição democrática iniciada em 1990”; por outro, “o que não aceita os sucessos do ‘milagre chileno’ e quer uma mudança de rumo radical que acrescente direitos sociais”. Com os resultados de domingo começa agora um processo de alianças, com os dois lados a tentarem conquistar o apoio das formações mais ao centro.

Kast, advogado de 55 anos neto de um oficial nazi que fugiu para o Chile em 1950 e filho de um ministro da ditadura, Miguel Kast, um dos denominados Chicago Boys, que impuseram o modelo ultraliberal que faz do país uma das economias mais pujantes da região, festejou a vitória com promessas de lutar contra o narcotráfico e o terrorismo. “A única candidatura que vai recuperar a paz, que é a alternativa para enfrentar os delinquentes e o narcotráfico e que porá fim ao terrorismo é a nossa”, afirmou. “Gabriel Boric e o partido comunista querem perdoar os vândalos que destroem. É preciso dizê-lo, Boric e o partido comunista reúnem-se com terroristas assassinos e nunca estiveram ao lado das vítimas do terrorismo e da delinquência”, acusou.

Boric, candidato da aliança de esquerda Apruebo Dignidad, representa os jovens que estiveram por trás das revoltas sociais dos últimos anos. Se vencer, será o Presidente mais jovem de sempre, com 35 anos. Líder estudantil durante os primeiros protestos de rua, em 2011, altura em que os manifestantes pediam educação e cuidados de saúde gratuitos de qualidade (a maior parte do ensino é assegurado pelo sector privado), aliou-se aos comunistas e propõe um afastamento completo do liberalismo económico das últimas três décadas. Promete mais Estado na economia e acabar com o regime privado de pensões.

“Aos que temem a delinquência dizemos que estaremos com vocês e que seremos implacáveis com o narcotráfico”, respondeu a Kast. “Para podermos ganhar na segunda volta temos de ser humildes e receptivos”, sublinhou depois, pedindo aos apoiantes que evitem a “arrogância” para convencer os que não votaram na aliança de esquerda.

Kast e Boric, situados à margem das coligações de direita e de centro-esquerda que governaram o Chile desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) já eram os favoritos das últimas sondagens.

Em terceiro lugar, surgiu inesperadamente o candidato da direita liberal, Franco Parisi, que vive nos Estados Unidos e não pisou o Chile durante a campanha, obtendo 13%, ligeiramente mais do que os 12% da senadora de centro-esquerda Yasna Provoste, o mesmo resultado do candidato da direita no poder, Sebastian Sichel.

Sebastián Piñera, o Presidente conservador que no final do mandato se vê a braços com um processo de destituição, deixará o cargo em Março de 2022, com o país em transição, em pleno processo de redacção de uma nova Constituição e dois anos depois de uma crise social inédita, num dos países mais desiguais do mundo – os 10% mais ricos tem rendimentos 27 vezes maiores que os 10% mais pobres, quando a média da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico) é de 9,6 vezes maior.