Ex-primeiro-ministro sai da prisão domiciliária para assumir de novo o Governo do Sudão

A libertação de Abdalla Hamdok está prevista no acordo realizado entre o líder do golpe militar, o general Abdel Fattah al-Burhan, forças políticas e organizações da sociedade civil. Também serão libertados os ministros e líderes civis presos.

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O primeiro-ministro sudanês tinha sido detido na sequência do golpe militar de 25 de Outubro OMER MESSINGER/EPA

O primeiro-ministro sudanês, Abdalla Hamdok, afastado após o golpe militar de 25 de Outubro, está novamente livre, disse este domingo o seu gabinete à agência de notícias AFP, depois de os mediadores da crise anunciarem um acordo sobre o seu regresso.

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O primeiro-ministro sudanês, Abdalla Hamdok, afastado após o golpe militar de 25 de Outubro, está novamente livre, disse este domingo o seu gabinete à agência de notícias AFP, depois de os mediadores da crise anunciarem um acordo sobre o seu regresso.

Pouco depois do anúncio feito este domingo de um acordo entre o homem forte do país, o general Abdel Fattah al-Burhan, e Hamdok, deposto em 25 de Outubro, a prisão domiciliária deste foi levantada, segundo o gabinete do primeiro-ministro.

Hamdok terá que assinar o pacto para regressar à liderança do Governo, ao lado do general Al-Burhan, chefe do Exército e autor do golpe, até ao final deste domingo. Os ministros e líderes civis presos em 25 de Outubro devem ser libertados, segundo o acordo anunciado por mediadores sudaneses.

"Foi alcançado um acordo político entre o general Al-Burhan, Abdalla Hamdok, forças políticas e organizações da sociedade civil para o regresso de Hamdok ao cargo e a libertação dos presos políticos”, disse um responsável do partido Umma, Fadlallah Burma, à AFP.

"O acordo será formalmente anunciado ainda este domingo, após a assinatura dos seus termos e da declaração política que o acompanha”, indicou a mesma declaração.

Este acordo - que aproxima o Sudão de um retorno às autoridades de transição civil-militares de acordo com a divisão do poder decidida em 2019, após a queda do ditador Omar al-Bashir - não alterou, no entanto, a mobilização das ruas.

Manifestantes marcharam em várias cidades do Sudão, mantendo a pressão sobre o Exército, que se prepara para repor o primeiro-ministro no cargo.

Apesar de 40 pessoas terem morrido e centenas terem ficado feridas desde 25 de Outubro, os sudaneses marcharam mais uma vez pelo centro de Cartum, Kassala, no Leste, ou Atbara, no Norte, para gritar “Não ao poder militar” e “Burhan sai”, num país quase continuamente sob o domínio do Exército desde a sua independência, há 65 anos.

Desde o golpe de Estado, embaixadores ocidentais, negociadores das Nações Unidas ou africanos e figuras da sociedade civil sudanesa aumentaram os seus encontros com civis e militares em Cartum para relançar uma transição que supostamente conduziria o país a eleições livres em 2023, após 30 anos de ditadura de Al-Bashir, afastado pelo Exército sob a pressão das ruas.

A 25 de Outubro, o general Al-Burhan mandou prender quase todos os civis no poder, pôs fim à união formada por civis e militares e declarou o estado de emergência. Hamdok, que liderava o governo de transição, foi colocado sob prisão domiciliária.