Solskjaer foi um interino que ficou demasiado tempo

O norueguês regressou a Old Trafford para gerir o pós-Mourinho, mas, com ele, o Manchester United foi sempre menos do que a soma das suas partes.

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Solskjaer, ex-treinador do Manchester United Reuters/JASON CAIRNDUFF

Ole Gunnar Solskjaer nunca será odiado em Old Trafford. Será sempre um herói do Manchester United por ter marcado um dos golos mais importantes da história dos “red devils”, aquele golo em Barcelona, aos 93’, na final da Liga dos Campeões que derrotou o Bayern Munique. Pela história que tinha no clube (e com a aprovação de Alex Ferguson), o norueguês parecia o homem certo na altura certa para pegar no United pós-José Mourinho, um interino para devolver alguma dignidade e identidade a uma equipa em ruínas. Durante algum tempo foi, mas deram-lhe um contrato e as limitações de Solskjaer como treinador ficaram expostas.

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Ole Gunnar Solskjaer nunca será odiado em Old Trafford. Será sempre um herói do Manchester United por ter marcado um dos golos mais importantes da história dos “red devils”, aquele golo em Barcelona, aos 93’, na final da Liga dos Campeões que derrotou o Bayern Munique. Pela história que tinha no clube (e com a aprovação de Alex Ferguson), o norueguês parecia o homem certo na altura certa para pegar no United pós-José Mourinho, um interino para devolver alguma dignidade e identidade a uma equipa em ruínas. Durante algum tempo foi, mas deram-lhe um contrato e as limitações de Solskjaer como treinador ficaram expostas.

Dois anos e 11 meses depois, Solskjaer sai do Manchester United sem qualquer título conquistado, uma percentagem de vitórias ligeiramente acima dos 50 por cento e com a aura de um treinador que não sabia bem o que estava a fazer. Um “Ted Lasso norueguês”, como lhe chamou Jonathan Liew no Guardian, uma referência ao simpático treinador ficcional da comédia televisiva que está numa equipa de “soccer” apesar de ser treinador de futebol americano. Lasso é uma personagem simpática e cheia de boa-vontade e discursos inspiradores, tal como Solskjaer.

Mas a boa-vontade e o dom da palavra não chegam para um clube como o Manchester United, que continua sem acertar no sucessor de Alex Ferguson – antes de Solskjaer estiveram lá David Moyes, Louis van Gaal e Mourinho, nenhum com sucesso por aí além. É verdade que a equipa já não funcionava bem antes da sua chegada, e Solskjaer teve o mérito de a recuperar – 15 vitórias, dois empates e três derrotas nos primeiros 20 jogos. Por isso, deram-lhe tempo (contrato até 2022, prolongado depois até 2024) e dinheiro (370 milhões de euros em contratações) para fazer do United uma equipa ganhadora.

Solskjaer teve alguns bons momentos como treinador do United. Na tal série de bons resultados quando assumiu o cargo, o United conseguiu eliminar o PSG na Liga dos Campeões, e, na última época, conseguiu chegar ao segundo lugar da Premier League, bem longe, no entanto, do campeão Manchester City. E, durante a sua gestão, chegaram jogadores de valia indiscutível, como Bruno Fernandes, Cristiano Ronaldo, Edinson Cavani, Jadon Sancho, Donny van de Beek e Raphael Varane, entre outros, para se juntarem a um plantel que já tinha De Gea, Maguire, Rashford, Greenwood ou Pogba.

Havia aqui material para construir uma boa equipa que devolvesse relevância ao Manchester United, relegado nos últimos anos para um patamar inferior por Manchester City, Liverpool e Chelsea. Mas sempre apontaram um pecado a Solskjaer (e à política desportiva do United), o de não reforçar o meio-campo, e tem sido esse um dos grandes problemas dos “red devils”, o de não conseguir encontrar a virtude no meio – McTominay, Fred e Matic não têm sido a solução, muito menos Pogba, que já não deve voltar a jogar esta época e deve sair a “custo zero”.

E haverá sempre a questão Ronaldo: uma solução ou um problema? CR7 voltou a Old Trafford e tem marcado os seus golos, muitas vezes assumindo o papel de salvador da equipa em momentos críticos – e é por causa dele que o United ainda está na luta pelo apuramento na Champions. Mas será o melhor avançado que o United podia ter? Bem enquadrado, a resposta só pode ser sim. Pep Guardiola queria-o no Manchester City e, de certeza, tinha um plano para ele. Ronaldo, por razões sentimentais, preferiu o United, mas Solskjaer não teria um plano para o português. Só esperava que ele fosse o salvador.

Esta época tem sido uma sucessão de desastres com Ole ao volante. O norueguês foi parecendo cada vez mais impotente para mudar o rumo, sem sagacidade táctica para tirar a equipa do buraco. Perdeu com o Villarreal de Unai Emery, com o West Ham de David Moyes, com o Liverpool de Klopp, com o City de Guardiola, com o Watford de Ranieri, e estas não foram apenas derrotas – foram exibições de inferioridade, de uma equipa que já parecia ter desistido do seu treinador. Após o desaire com o Watford, Bruno Fernandes bem foi pedir aos adeptos do United para não vaiarem Solskjaer, o homem que o tinha ido buscar ao Sporting em Janeiro de 2020.

Mas esta imagem, mais a declaração do próprio, de que se sentia capaz de dar a volta à situação, de nada valeram. Nessa mesma noite, a cúpula do United decidiu-se pelo despedimento do “assassino com cara de bebé”, como era conhecido enquanto jogador. Zidane, Pochettino, Rodgers, Ten Hag, Luiz Enrique são alguns dos nomes apontados à sucessão do norueguês, ficando para já a equipa entregue ao interino Michael Carrick, também ele um jogador de muita história no United. Tal como era Solskjaer. E isso ninguém lhe irá tirar.