Morreu Edmundo Silva, baixista dos Sheiks e músico que “esteve na génese de tudo”
O autor Luís Pinheiro de Almeida recorda um músico, desaparecido aos 81 anos, que “acompanhou todos os ritmos das modas” e que esteve em alguns dos momentos charneira da música em Portugal.
O músico Edmundo Silva, baixista dos Sheiks, a maior banda portuguesa do yé-yé nos anos 1960, morreu sábado aos 81 anos, confirmou ao PÚBLICO Luís Pinheiro de Almeida, autor de Biografia do Ié-Ié. Começou a tocar aos 22 anos num instrumento construído por si e pouco depois seria um dos intérpretes de alguns dos maiores êxitos do Portugal dos anos 1960, colaborando com Fausto, Pedro Caldeira Cabral ou Fernando Alvim em vários estilos, do rock ao fado. “Esteve na génese de tudo”, comenta Luís Pinheiro de Almeida, lamentando a morte de um homem “muito recatado, militante de causas”.
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O músico Edmundo Silva, baixista dos Sheiks, a maior banda portuguesa do yé-yé nos anos 1960, morreu sábado aos 81 anos, confirmou ao PÚBLICO Luís Pinheiro de Almeida, autor de Biografia do Ié-Ié. Começou a tocar aos 22 anos num instrumento construído por si e pouco depois seria um dos intérpretes de alguns dos maiores êxitos do Portugal dos anos 1960, colaborando com Fausto, Pedro Caldeira Cabral ou Fernando Alvim em vários estilos, do rock ao fado. “Esteve na génese de tudo”, comenta Luís Pinheiro de Almeida, lamentando a morte de um homem “muito recatado, militante de causas”.
A notícia da sua morte foi avançada sábado por Luís Pinheiro de Almeida e pela edição online do semanário Expresso, tendo também sido alvo de um voto de pesar por parte do Município de Aljustrel, de onde Edmundo Silva era natural.
“Edmundo Manuel de Brito Silva nasceu em Aljustrel em 1939, tendo começado a tocar guitarra aos 22 anos. Completaria, daqui a poucos dias, 82 anos. Encontrava-se doente já há algum tempo”, escreve a autarquia na rede social Facebook, recordando que em 2017 Aljustrel homenageou o músico num evento que contou com uma actuação dos Sheiks, banda composta por Paulo de Carvalho, Carlos Mendes, Edmundo Silva e Fernando Chaby. Foi apenas uma de muitas reuniões do emblemático grupo português que emulava em parte o sucesso do grande catalisador da cultura juvenil mundial, os britânicos Beatles. “Costuma-se dizer que os Sheiks são os Beatles de Portugal. Não gosto dessa expressão. Os Sheiks são os Sheiks, ponto final”, decreta Luís Pinheiro de Almeida.
Em 2007, quando os mesmos Sheiks se reuniram em Lisboa para uma série de actuações no Teatro São Luiz, o grupo recordou em palco o seu encontro e o fenómeno que foram. Fernando Chaby resumiu na altura o que foram os Sheiks na cultura portuguesa do Estado Novo. “São a inocência da juventude e a esperança, mas, acima de tudo, a paixão pela música e as faíscas que dela se libertam. Viver isso, hoje, é um acto criativo sem idade”. Nascidos na Avenida de Roma lisboeta, “entre 1965 e 1967, criaram dois dos primeiros clássicos da pop portuguesa, Missing You e Tell me Bird”, como escreveu na altura o critico do PÚBLICO Mário Lopes. “Os Sheiks foram os mais famosos representantes da vaga yé-yé que pintalgou de alguma cor o castrante cinzentismo de então.”
Edmundo Silva chega aos Sheiks vindo do Conjunto Mistério, entrando quando sai do grupo Jorge Barreto. Luís Pinheiro de Almeida, um dos fundadores do jornal Blitz e autor de livros como Biografia do Ié-Ié (2014), Beatles em Portugal (2012) e co-autor da Enciclopédia da Música Ligeira Portuguesa (1998), detalha no seu blogue temático Ié-Ié como Edmundo Silva era engenheiro técnico de formação e como passou pelo Nova Onda, um “dos primeiros conjuntos portugueses ao estilo dos Shadows”, e pelos Mascarilhas, que se transformaria no Conjunto Mistério — que venceu o Concurso Tipo Shadows de 1963 e que lhes deu o prémio de uma viagem a Londres para conhecer o grupo britânico. É em 1965 que Edmundo Silva passa para os Sheiks, ponto principal da sua biografia profissional aos olhos do grande público pela dimensão atingida pelo grupo liderado pelas composições de Carlos Mendes e Paulo de Carvalho.
“Era um tipo fantástico”, diz ao PÚBLICO Luís Pinheiro de Almeida, “um bom músico que era um excelente baixista, como poucos em Portugal. Esteve na génese de tudo, sempre acompanhou todos os ritmos das modas”, explica sobre as várias encarnações do seu estilo musical ao longo da carreira.
Quando os Sheiks chegam ao fim, a sua carreira continua na Filarmónica Fraude e com uma participação no primeiro álbum de Fausto, de título homónimo. Em 1977, é de novo seu o grande palco, desta feita do Festival da Canção, como parte do grupo Amigos. Pinheiro de Almeida destaca precisamente o álbum Portugal no Coração, do Amigos, onde se vê a única imagem a solo do músico agora falecido.
De acordo com o Município de Aljustrel, o funeral de Edmundo Silva está agendado para segunda-feira, em Azeitão. Edmundo Silva sofria de cancro e vários problemas de saúde, tendo falecido na zona da Grande Lisboa na manhã de sábado.
Notícia corrigida às 15h53: legenda da fotografia identificava erradamente Edmundo Silva