Évora vai criar em palco uma cápsula do tempo — e desenterrá-la daqui a 25 anos
Que objectos representam a nossa época? Quais deveriam integrar uma cápsula do tempo? Esta reflexão deu origem ao projecto Cápsula do Tempo que culmina num “espectáculo”, em Évora, em Janeiro de 2022, com conclusão marcada para 2047.
No dia 15 de Janeiro de 2022, cinco artistas e dez habitantes de Évora sobem ao palco do Teatro Municipal Garcia de Resende para criar uma cápsula do tempo que será reaberta daqui a 25 anos. Entre performances artísticas, cada um dos 15 intervenientes apresenta dez objectos que escolheu para compor a cápsula. A plateia é convidada a, democraticamente, votar para eleger as dez peças finais que irão integrar a cápsula representativa da cidade.
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No dia 15 de Janeiro de 2022, cinco artistas e dez habitantes de Évora sobem ao palco do Teatro Municipal Garcia de Resende para criar uma cápsula do tempo que será reaberta daqui a 25 anos. Entre performances artísticas, cada um dos 15 intervenientes apresenta dez objectos que escolheu para compor a cápsula. A plateia é convidada a, democraticamente, votar para eleger as dez peças finais que irão integrar a cápsula representativa da cidade.
“A dificuldade no consenso e na convergência na escolha dos objectos transporta o público para um lugar de reflexão, onde se questionará até a pertinência da criação da própria cápsula”, diz organização em comunicado. Que objectos merecem integrar a cápsula do tempo para serem mostrados à próxima geração? Uma fotografia de um familiar ou da natureza? Sementes? Um saxofone? O debate far-se-á no palco e em conjunto e “não vai estar escrito”, revela a directora artística Vanda R. Rodrigues, da associação cultural Colecção B, ao P3.
Daí a dificuldade de definir a Cápsula do Tempo apenas como um “espectáculo”. Vanda R. Rodrigues prefere, assim, apresentá-lo como “um happening com uma parte teatral”. O que interessa à artista é, precisamente, o que não vai conseguir controlar, a imprevisibilidade. Se na génese estava a vontade de apresentar um “espectáculo teatral, foi-se desenvolvendo para algo mais social”. Com a participação da população, o projecto tenta encontrar “uma real representatividade do colectivo”.
Durante o processo de selecção dos dez habitantes, apenas seis mulheres responderam positivamente à open call lançada para o efeito. E todas elas com um perfil semelhante, “com predisposição para as artes”, realça Vanda R. Rodrigues. Para os quatro elementos que resta seleccionar, a Colecção B está à procura de pessoas “divergentes”, quer no género, idade, pensamentos, condição física. “Só é justo e ético se tivermos pessoas com éticas diferentes, idades diferentes, culturalmente diferentes”, defende.
A ideia da cápsula do tempo surgiu à artista quando foi confrontada com a questão da morte e da finitude. Nessa altura começou a ler sobre estes objectos, como se tornam “memória perpétua, em algo que fica para o futuro”, diz. Com metro e meio de comprimento, a cápsula será enterrada no final do happening, no jardim que se situa nas traseiras do teatro, e desenterrada a 15 de Janeiro de 2047.
O projecto conta ainda com a participação do escritor Afonso Cruz (co-criação e texto), Miguel Moreira e Jorge Rosado (co-criação e dispositivo cénico), Mariana Ferreira (co-criação e assistência de direcção), Pedro Alves Sousa (co-criação e música) e Tatiana Saavedra (co-criação e fotografia/vídeo). Depois de Évora, esperam conseguir exportar a ideia para outras cidades do país.
Texto editado por Amanda Ribeiro