Como proteger os bebés prematuros?

É um vírus muito frequente e é responsável por infecções respiratórias comuns. Mas, em grupos de risco e mais vulneráveis, como os bebés prematuros, as consequências podem ser mais graves. Neste Dia Mundial da Prematuridade, abordamos o vírus sincicial respiratório que, apesar de não ter cura, pode ser prevenido.

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A data assinala-se em todo o mundo e relembra os desafios dos bebés que nascem cedo demais e dos pais que se preparavam para um nascimento de termo e passaram a ter de lidar com as vicissitudes de um nascimento prematuro e para o qual não se prepararam. Consideram-se bebés prematuros, todos aqueles que nascem antes das 32 semanas de gestação.

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A data assinala-se em todo o mundo e relembra os desafios dos bebés que nascem cedo demais e dos pais que se preparavam para um nascimento de termo e passaram a ter de lidar com as vicissitudes de um nascimento prematuro e para o qual não se prepararam. Consideram-se bebés prematuros, todos aqueles que nascem antes das 32 semanas de gestação.

Para assinalar a efeméride, realiza-se no próximo dia 20 de Novembro, a conferência “Desafios emergentes na prevenção do vírus sincicial respiratório”, na Culturgest, em Lisboa, promovida pelo Público em parceria com a AstraZeneca e a Nascer prematuro – Associação Portuguesa de Pais de Bebés Prematuros. O vírus sincicial respiratório (VSR) é sazonal, mais frequente no Outono e no Inverno, atinge as vias respiratórias e pode desenvolver um quadro clínico mais leve ou mais grave consoante a idade do doente, o seu estado de saúde e se se trata – ou não – de uma primeira infecção. “Nos lactentes e crianças pequenas pode atingir as vias respiratórias inferiores e o quadro clínico apresentar-se como bronquiolite (tosse grave, dificuldade respiratória com limitação do fluxo das vias aéreas) e infecção do trato respiratório inferior”, refere Rosalina Barroso, pediatra neonatologista e responsável da Unidade de Cuidados Intensivos e Especiais Neonatais do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, E.P.E.

Este vírus é o principal vilão da bronquiolite e da infecção do trato respiratório inferior apesar de existirem outros que podem causar quadros semelhantes em lactantes e crianças. Particularmente em crianças com idade inferior a seis meses e em prematuros, a doença manifesta-se frequentemente por apneia – pausas respiratórias – que pode levar ao internamento hospitalar. “O diagnóstico é clínico. 80% das infecções acontecem no primeiro ano de vida e os primeiros seis meses representam o período crítico com doença mais grave”, salienta a pediatra. Sempre que um bebé apresente sinais de dificuldade respiratória (como por exemplo, ritmo respiratório elevado e “covinhas no peito”, prostração e recusa alimentar, deve ser observado por um médico.

Aos dois anos de vida, “quase todas as crianças já foram infectadas e a reinfecção é comum. Nas crianças mais velhas e nos adultos, a doença manifesta-se com sinais ligeiros de doença das vias respiratórias altas (obstrução nasal e rinorreia)”, refere Rosalina Barroso que, acrescenta, que as infecções subsequentes são menos graves do que as primeiras manifestações da doença.

De acordo com um estudo da revista científica The Lancet e que Rosalina Barroso cita, “em 2015, existiram 2.8 milhões de episódios de infecção a VSR em crianças menores do que cinco anos, em países desenvolvidos, resultando em 383 000 internamentos e 3300 mortes”.

Consequências do VSR

“A infecção a VSR pode ser responsável por quadro grave com internamento em 2-3% dos casos, especialmente em lactentes com idade inferior a seis meses, prematuros (tanto mais grave quanto menor a idade gestacional), em bebés com cardiopatias congénitas e com doenças neuromusculares”, explica Rosalina Barroso. Alguns estudos relacionam este vírus com a disfunção pulmonar que pode persistir mais de 10 anos e, em 20% dos casos, os lactentes podem apresentar pieira recorrente associada a infecção a VSR, durante o primeiro ano de vida.

Uma vez que não existe uma vacina que permita imunizar os lactentes de risco e como também não há tratamento, a única profilaxia disponível é um anticorpo monoclonal dirigido contra a glicoproteína F do vírus que reduz a replicação viral e inibe aderência do vírus às células epiteliais”, afirma a pediatra neonatologista. Até 2014, as guidelines da Academia Americana de Pediatria indicavam que “a profilaxia estava indicada para todos os recém-nascidos com idade gestacional abaixo das 32 semanas. Neste momento, a mesma profilaxia, sem outros factores de risco que não sejam a prematuridade, está indicada apenas abaixo das 29 semanas e com idade inferior a um ano. Umas das sequelas da prematuridade é a displasia bronco-pulmonar (que afecta estruturalmente os pulmões) sendo este o grande fator considerado na profilaxia dos recém-nascidos grandes pré-termo”, adianta Rosalina Barroso.

Em Portugal, foi publicada a norma de orientação clínica seguindo os parâmetros restritivos da Academia Americana de Pediatria, nos anos de 2013 e 2015. Por não se tratar de uma vacina, a imunização duradoura não é garantida, sendo a sua eficácia “de 28 a 31 dias” e o período de profilaxia inicia-se em Setembro / Outubro para tentar acompanhar o período sazonal de transmissão viral. “Este ano (2021) devido ao surto de infecção a VSR no período do verão foi considerado pela Direcção Geral da Saúde perfazer um total de seis doses.”

Refere ainda Rosalina Barroso que, “no que respeita aos recém-nascidos pré-termo – entre as 29 e as 32 semanas – constituem um grupo habitualmente sem grande morbilidade imediata e em que que a infecção a VSR pode alterar o prognóstico, uma vez que o risco de doença grave com internamento não é desprezível”. Na sua opinião, a profilaxia com este anticorpo é ainda “muito restritiva aos grupos de risco, especialmente nas crianças sem comorbilidades idade gestacional superior a 29 semanas e com idade real inferior a seis meses”.

No que respeita a outros desafios relacionados com a prevenção do VSR, a pediatra considera que é necessário aumentar o aleitamento materno enquanto factor protector para a diminuição do número de internamentos, a necessidade de oxigénio e do risco de falência respiratória, mas também, aumentar a literacia em saúde dos pais sobretudo no que respeita a medidas de higiene, como lavar as mãos regularmente, não fumar e evitar lugares superpovoados. No futuro, gostaria de assistir ainda ao surgimento “de uma vacina que permita imunizar os pequenos lactentes ou uma vacina de administração às grávidas”.