Auto-retrato de Frida Kahlo ultrapassa recorde de Diego Rivera e torna-se a obra mais cara de sempre de um artista latino-americano

Diego y Yo, considerado o último dos grandes auto-retratos da artista, foi vendido por 30 milhões de euros a um coleccionador argentino.

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Diego y Yo, de 1949, é considerado o último dos grandes auto-retratos de Frida Kahlo ANDY RAIN/EPA

Um auto-retrato da artista mexicana Frida Kahlo (1907-1954) foi vendido por 34,88 milhões de dólares (30,8 milhões de euros) num leilão da Sotheby’s na noite de terça-feira, em Nova Iorque, marcando, como se esperava, um novo recorde para um artista latino-americano.

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Um auto-retrato da artista mexicana Frida Kahlo (1907-1954) foi vendido por 34,88 milhões de dólares (30,8 milhões de euros) num leilão da Sotheby’s na noite de terça-feira, em Nova Iorque, marcando, como se esperava, um novo recorde para um artista latino-americano.

Diego y Yo (Diego e Eu), datado de 1949, e um dos últimos auto-retratos realizado pela artista (que dedicou a este formato cerca de um terço da sua obra), é ao mesmo tempo um retrato do marido, o pintor Diego Rivera, até aqui detentor do recorde de obra de arte mais cara do espaço latino-americano vendida em leilões. Se Frida atingiu os oito milhões de dólares com a venda de Dois Nus na Floresta (1939), em 2016, o recorde de Rivera, conhecido pelos seus monumentais murais, foi estabelecido com o óleo sobre tela Os Rivais (1931), que atingiu em 2018 os 9,8 milhões de dólares, num leilão da Christie’s.

O recorde de Frida ultrapassou em quase cinco milhões de dólares a estimativa mais baixa previa-se que a venda pudesse fixar-se entre os 30 e os 50 milhões , ficando aquém do recorde estabelecido em leilão por uma mulher, que continua a pertencer à norte-americana Georgia O’Keeffe. A sua natureza-morta Jimson weed/White flower no. 1 (1932) atingiu os 44,4 milhões de dólares numa venda da Sotheby's em Nova Iorque em 2014. 

O auto-retrato Diego e Eu revela uma Frida Kahlo a chorar — um tema recorrente na obra da pintora — com uma representação do marido no centro da testa da artista. Tem sido muitas vezes associado às relações extramatrimoniais de Diego Rivera (Frida também as teve), mas a simbologia das obras da artista é bastante mais complexa, como escreve Luis-Martín Lozana no texto do catálogo que apresentou a obra a leilão (o historiador de arte mexicano é também o autor do catálogo raisonné dedicado a Frida Kahlo recentemente publicado pela Taschen).

O recorde de Frida Kahlo, bem como o facto de ter ultrapassado o marido tornando-se a autora da obra latino-americana mais cara de sempre, uma possibilidade que foi muito antecipada, está a ser visto como uma espécie de vingança póstuma por alguma imprensa, como o jornal argentino La Nación. Além da “fridomania” que não pára de crescer desde os anos 80, o mercado também pode explicar este recorde, uma vez que as obras mais conhecidas de Rivera, os seus grandes murais, não são bens móveis e estão fora do circuito dos leilões.

A Sotheby’s revelou, entretanto, no Twitter que o comprador é o coleccionador argentino Eduardo F. Costantini, fundador do Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires (MALBA). A obra, produzida por Frida Khalo para um casal de amigos, Florence Arquin e Sam Williams  a dedicatória está expressa no verso da pintura —, fazia parte de uma colecção privada, cuja origem não foi identificada pela leiloeira.

Diego y Yo foi pintado cinco anos antes da morte de uma artista que se tornou, nos últimos anos, um dos nomes da arte do século XX mais reconhecidos pelas novas gerações. Mostra já uma pincelada menos fina e pode ser visto, explica Luis-Martín Lozana, como o “balanço” de uma vida, mostrando o amor e o apoio incondicionais da artista ao seu companheiro. É isso que revela o título do quadro: a artista aclamada vem depois de Diego. Este pequeno quadro, com 30 centímetros de altura, é uma homenagem ao marido e ao muralista que comemorara então 50 anos de carreira, e não um ajuste de contas.