Em 1955, em Tânger, a poucos meses da independência do reino de Marrocos, Chukri tinha 20 anos e nem sequer sabia assinar o seu nome, mas já tinha passado por tudo o que pode levar um jovem à ruína: a fome, o desamor violento, o crime, a droga e o álcool, a solidão. Foi a uma livraria, comprou um livro “para aprender os rudimentos da leitura e da escrita em árabe” e, antes de partir para Laraxe, onde irá finalmente frequentar uma escola, foi ao cemitério espalhar flores e murta sobre uma campa anónima onde supõe jazer um irmão, que teria sido morto pelo pai de ambos há mais de uma década. Os anos de formação de Muhammad Chukri (1935-2003) — o mais conhecido escritor moderno marroquino em língua árabe — chegam ao fim com este episódio, inesperadamente sentimental e simbólico, que remata Pão Seco (1973), o primeiro, e o mais célebre, volume da sua trilogia autobiográfica.
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Em 1955, em Tânger, a poucos meses da independência do reino de Marrocos, Chukri tinha 20 anos e nem sequer sabia assinar o seu nome, mas já tinha passado por tudo o que pode levar um jovem à ruína: a fome, o desamor violento, o crime, a droga e o álcool, a solidão. Foi a uma livraria, comprou um livro “para aprender os rudimentos da leitura e da escrita em árabe” e, antes de partir para Laraxe, onde irá finalmente frequentar uma escola, foi ao cemitério espalhar flores e murta sobre uma campa anónima onde supõe jazer um irmão, que teria sido morto pelo pai de ambos há mais de uma década. Os anos de formação de Muhammad Chukri (1935-2003) — o mais conhecido escritor moderno marroquino em língua árabe — chegam ao fim com este episódio, inesperadamente sentimental e simbólico, que remata Pão Seco (1973), o primeiro, e o mais célebre, volume da sua trilogia autobiográfica.