Quando os avós enchem os netos de açúcar
Sabe como os contos tradicionais passam de geração em geração, impedindo que a sabedoria se perca? Pois bem, enquanto lia percebi que com o tempo a história alterou-se ligeiramente.
Querida mãe,
A verdade faz-nos mais fortes
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Querida mãe,
Estava a ler-lhes a história da Casinha de Chocolate e, de repente, tudo fez sentido. Sabe como os contos tradicionais passam de geração em geração, impedindo que a sabedoria se perca? Pois bem, enquanto lia percebi que com o tempo a história alterou-se ligeiramente (como no jogo do telefone estragado), mas o sentido mantém-se absolutamente claro! Deixe-me ajudá-la a chegar lá, ajustando um bocadinho a narrativa — tenho a certeza que lhe vai soar não só familiar, mas também muito contemporâneo.
“Era uma vez uns pais que precisavam mesmo de ir cortar lenha para a floresta, era o emprego que lhes calhara em sorte. Como tinham dois filhos que não podiam ficar sozinhos em casa, pediram ajuda à avozinha que vivia do outro lado do rio. A avó ficou radiante de os ver! E enquanto os pais trabalhavam deu-lhes todos os doces, bolos e chocolates que eles lhe pediram (e ainda mais alguns, para o caso de não estarem a pedir mais por vergonha ou timidez).
No final do dia, os miúdos voltaram com os pais para casa. O pico de açúcar era tão grande que às três da manhã, depois de horas de birras e gritos, os pais desesperados arrastaram-nos até uma clareira distante e correram para a cama na esperança de poder dormir umas horas antes que as crianças lhe aparecessem pela frente outra vez. Como o João e a Maria ainda estavam cheios de migalhas e de papéis de rebuçado nos bolsos deixaram atrás de si um rasto, que lhes permitiu voltar para casa. Cansados com passeio, e gasta a glucose com o exercício, regressaram muito mais calmos. Os pais reequilibrados por umas horas de sono, acolheram-nos de braços abertos e depois de uma rodada de pedidos de desculpa viveram felizes para sempre.”
A moral da história é evidente: Queridos Avós, se encherem os meus filhos de açúcar, por favor durmam com eles ou em alternativa comam-nos!, mas livrem-se de mos devolver até estarem normais.
Bjs!
Querida Ana,
Deixa-me digerir a tua carta com um chocolate quente, e amanhã prometo que te conto uma história tradicional que encaixa nos pais de hoje como uma luva.
Bj
Mãe
No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Mas, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram.