Tripulantes de cabina rejeitam culpas nos cancelamentos da TAP

Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil apela aos seus associados que “não aceitem qualquer convite” para voar nas folgas ou períodos de descanso, e quer acabar com os cortes em vigor. Regressões geram queixa na ACT.

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Transportadora aérea aguarda ainda "luz verde" de Bruxelas ao plano de reestruturação Reuters/Jose Manuel Ribeiro

O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) diz que a responsabilidade pelo cancelamento de vários voos da TAP que ocorreu este fim-de-semana “não pode ser imputada” aos tripulantes de cabina.

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O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) diz que a responsabilidade pelo cancelamento de vários voos da TAP que ocorreu este fim-de-semana “não pode ser imputada” aos tripulantes de cabina.

“Depois da questão das horas extras, do uso abusivo do argumento das ‘irregularidades operacionais’ para diminuir os tempos de descanso, do entendimento inovador da cláusula 14ª e da recente interpretação sobre as licenças parentais no mês de Dezembro, este último fim-de-semana, com vários voos cancelados, foi a demonstração clara que precisávamos, para fundamentar o que já temos vindo a alertar a empresa, da falta de tripulantes para colmatar a actual operação”, refere o SNPVAC numa nota.

A mensagem, enviada no domingo aos associados do sindicato, surgiu como réplica depois de a administração da TAP ter afirmado, no dia anterior, que tinha havido um “aumento expressivo, e acima da média, de baixas de curta duração e ausências, comunicadas em períodos inferiores a 24 horas” por parte de tripulantes de cabina. Essa situação, segundo um comunicado da TAP assinado por Ramiro Sequeira, administrador com o pelouro das operações, gerou o cancelamento de “alguns voos por falta de recursos, com o respectivo impacto na operação, nos clientes e nos colegas”.

Ao PÚBLICO, fonte oficial da companhia aérea adiantou que o absentismo de pessoal de cabine foi “superior em cerca de 20% à média” e que isso levou a ter de “cancelar/atrasar um número significativo de voos”. “Estamos bem dimensionados para voar, acima das projecções”, defendeu a TAP.

Sindicato quer o fim dos cortes

Já o SNPVAC tem um entendimento diferente. “As licenças são direitos consagrados na nossa legislação laboral. Se a companhia não preveniu tal situação, então não culpabilize agora os seus trabalhadores”, defende o sindicato. Na mensagem aos seus associados, o SNPVAC apela a que estes “não aceitem qualquer convite” para voar “em folga e no seu período de descanso, reforçando assim uma resposta enquanto classe à empresa”.

Recordando que está em vigor um acordo que passa pelo corte de parte do salário, com respectiva descida das horas de trabalho, o sindicato diz estranhar a gestão, uma vez que esta “está supostamente totalmente ajustada à realidade quando vários tripulantes têm horas extras em planeamento, mediante a redução dos 15%, e os convites para voar tem sido uma constante”. 

Em declarações ao PÚBLICO, o presidente do SNPVAC, Henrique Louro Martins, afirmou que a solução para o problema passa por a empresa voltar a colocar os tripulantes de cabina a trabalhar a 100%, em vez dos actuais 85%, repondo os salários.

Regressões e queixa na ACT

Esta terça-feira o SNPVAC emitiu um novo comunicado, desta feita por ter sido, diz o sindicato, surpreendido com “um autêntico ataque e desrespeito que consistiu no downgrade de 40 C/C NB e regressão de mais 20 C/C WB”, ou seja, de chefes de cabina de médio curso e de longo curso. Assim sendo, estão em causa 60 profissionais, com os chefes de cabina de longo curso a passarem para o médio curso e os chefes de cabina a passarem para comissários e assistentes de bordo.

A direcção do sindicato diz ter já enviado uma queixa à Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) e afirma que “irá reunir-se com o seu gabinete jurídico para decidir quais os outros trâmites a tomar, nomeadamente o recurso a uma providência cautelar com vista a impugnar de imediato o processo de downgrades forçados”. Em paralelo, o SNPVAC diz que já pediu uma reunião “com carácter de urgência” com a presidente executiva da empresa, Christine Ourmières-Widener. 

“Reafirmamos que em vez de fazer malabarismos e “brincar” com a vida dos tripulantes e das suas famílias, a empresa tem de assumir que errou nos seus cálculos e previsões iniciais, que a operação cresceu mais do que era expectável”, refere o SNPVAC.