“Somos uma família”: as tunas do Centro regressam finalmente aos palcos

Depois da paragem forçada pela pandemia de covid-19, as tunas universitários da região Centro estão de volta aos palcos e esperam atrair mais gente. “Como houve muitas actividades que estiveram suspensas, houve muita gente que até já poderia ter pensado em juntar-se à Estudantina, mas que não o fez.”

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Estudantina Universitária de Viseu Estudantina Universitária de Viseu/Facebook

Tunas universitárias de cinco distritos da região Centro estão de regresso aos palcos com uma vontade redobrada de fazer valer as tradições académicas, que não esmoreceram na paragem forçada pela pandemia de covid-19.

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Tunas universitárias de cinco distritos da região Centro estão de regresso aos palcos com uma vontade redobrada de fazer valer as tradições académicas, que não esmoreceram na paragem forçada pela pandemia de covid-19.

Em Coimbra, na Secção de Fado da Associação Académica, da qual fazem parte grupos como a Estudantina, a Orxestra Pitagórica ou a Estudantina Feminina, a pandemia obrigou a paragens nos ensaios e ao cancelamento de concertos, mas houve sempre uma vontade de inovar, disse à agência Lusa o presidente da secção, Pedro Andrade. O dirigente, que também faz parte da Estudantina, aponta para a Serenata da Esperança, em 2020, um evento online que reuniu cerca de 140 “estudantinos”, como exemplo dessa tentativa de o grupo não parar.

“Sempre que houve oportunidade de actuar e ensaiar, fizemo-lo. Em casa, fomos treinando as vozes e os acordes. É diferente de ensaiar em grupo, mas fizemos os possíveis para estarmos o menos enferrujados possível quando o confinamento acabou”, explicou.

Segundo Pedro Andrade, o número de concertos agendado para a Estudantina ainda não regressou aos níveis pré-pandemia, mas a agenda, “felizmente, tem sido muito preenchida”. O maior impacto, notou, foi na captação de novos membros para a Estudantina, formada em 1985 e uma das mais antigas tunas nacionais em actividade. “Ao longo do último ano, como houve muitas actividades que estiveram suspensas, como a praxe, houve muita gente que até já poderia ter pensado em juntar-se à Estudantina, mas que não o fez”, disse, salientando que, com o fim do confinamento, têm surgido caras novas, “mas não tanto” como dantes.

A Figueira da Foz é caso único a nível nacional, por possuir duas tunas universitárias, sem ter, actualmente, cursos superiores, depois do encerramento dos pólos das universidades Católica e Internacional, em meados da década de 2000. Se o confinamento provocado pela covid-19 fez parar a actividade da Bruna, tuna criada em 1993 na Internacional, agora o agrupamento já voltou aos ensaios e prepara, para Abril de 2022, a 17.ª edição do seu festival, no Casino local. “Foi complicado, durante quase dois anos não estivemos juntos fisicamente, fizemos dois ou três ensaios por Zoom, mas não resulta. Precisamos de nos ‘cheirar’ uns aos outros, vivemos muito do contacto”, disse à Lusa Paulo Santarém.

Com entre 25 a 30 elementos activos (seis dos quais fundadores), a Bruna mantém a actividade com a entrada de novos “tunos”, “jovens e menos jovens”, que têm em comum serem da Figueira da Foz e alunos ou antigos alunos do ensino superior. Já a Imperial Neptuna Académica surgiu, igualmente, na Internacional, mas converteu-se em Tuna da Cidade da Figueira da Foz, recebendo também estudantes da Católica “e não só: também estudantes figueirenses que estejam noutros estabelecimentos do país”, frisou Fernando Cardoso, um dos cerca de 20 elementos activos.

Este modelo, fundado com base na Estudantina Figueirense de 1890 — “uma tuna de figueirenses que estudavam em Espanha e se juntavam na Figueira para concertos e serenatas quando vinham à terra natal” — mantém-se, mesmo se a pandemia, por um lado, e a actividade profissional “noutros países e noutras cidades” dos “neptunos”, acabou por limitar as actuações.

Mais a sul, em Leiria, a Instituna - Tuna Mista do Politécnico de Leiria esteve ano e meio sem ensaiar e o confinamento, quando surgiu, “foi um choque”, contou o presidente, Pedro Almeida. “Tivemos festivais cancelados, tínhamos pessoas novas a entrar e a evolução musical delas, e até a de quem está há mais tempo, não existiu”, adiantou, revelando que nunca foi possível ensaiar por videoconferência, porque “nem todos tinham microfone ou internet em condições”.

No início do ano lectivo passado, a Instituna chegou a realizar algumas actuações, mas o confinamento, em Janeiro deste ano, voltou a estragar-lhes os planos, estando agora, finalmente, a retomar a actividade: “Já participámos em actividades da escola, como o traçar de capa da praxe. O objectivo é recrutar mais gente e fazer festas em Leiria e nos concelhos à volta. Temos 29 anos e queríamos assinalar as três décadas com uma tour. Estamos a preparar coisas diferentes”, revelou Pedro Almeida.

A Copituna d'Oppidana, tuna académica do Instituto Politécnico da Guarda (IPG), possui 35 elementos e desde o início da pandemia “saíram cerca de dez”, disse João Seco, responsável do grupo que leva 26 anos de actividade. Se durante os confinamentos a actuação da tuna “parou por completo” — fora os ensaios online, realizados “pelo menos uma vez por semana” — os ensaios presenciais da tuna masculina da Guarda foram retomados “no início do ano lectivo” e a primeira actuação ao vivo realizou-se em 20 de Outubro, tendo sido “um momento emotivo para todos”, segundo João Seco.

No distrito de Castelo Branco, na Universidade da Beira Interior, a tuna feminina As Moçoilas esteve mais de um ano parada, com os contactos limitados às redes sociais e os confinamentos a impedirem os ensaios presenciais. A oportunidade de voltar aos palcos surgiu há menos de um mês, na recepção ao caloiro na Covilhã: “Foi um regresso incrível. Foi muito bom, nós estávamos muito entusiasmadas e o público também. O retorno foi fantástico e acho que estava toda a gente verdadeiramente feliz”, contou à Lusa Mathilde Amaral, a actual magister do grupo criado em 1989.

Os ensaios tinham sido retomados primeiro em Maio e, depois, em Setembro, no regresso às aulas. As jovens, que garantem nunca ter perdido a boa disposição, passaram a juntar as máscaras e o distanciamento aos instrumentos e à voz. Na actuação da Covilhã tiraram as máscaras, mas antes fizeram testes rápidos à covid-19 “para garantir uma maior segurança e tranquilidade”. Agora estão prontas para aceitar convites para outros eventos e também vão retomar as gravações do terceiro CD das Moçoilas.

Realizar testes ao vírus SARS-CoV-2, que provoca a covid-19, foi também a solução adoptada pela Estudantina Universitária de Viseu no festival que organizou, em Outubro, com a presença de mais de uma centena de “tunos” de Viseu, Coimbra e Vila Real. Os testes foram feitos um dia antes do evento “e os resultados foram todos negativos”, disse à Lusa Inês Santos, presidente da Estudantina, assumindo que o encontro foi “difícil de organizar em tão pouco tempo”.

“Inicialmente, toda a gente desaconselhava a realização do festival, mas depois como anunciaram maior abertura das medidas a partir do dia 1, a decisão foi avançar” com o Tosta Mista, que tinha sido interrompido em 2020. “Depois de tanto tempo sem ensaiar, com ensaios pontuais, sempre que havia abertura para isso, e sempre com uso de máscara, este encontro deu-nos a sensação de dever cumprido, de alívio e, acima de tudo, de uma enorme satisfação, porque nós, tuna, somos uma família”, ilustrou Inês Santos.