Aliança Evangélica comemora cem anos e diz existirem 400 mil protestantes em Portugal

Criada em 1921, em assembleia-geral plenária, para “fomentar uma melhor relação e comunhão entre diferentes missionários, pastores e obreiros que viviam em Portugal e eram de religião protestante e evangélica”, a Aliança Evangélica Portuguesa surgiu no “contexto promissor” da Primeira República.

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SERGIO AZENHA / PUBLICO

Cem anos após a criação da Aliança Evangélica Portuguesa (AEP), existem cerca de 400 mil protestantes em Portugal, números impulsionados pelo 25 de Abril e pelos imigrantes do Brasil e do leste europeu, revelou este domingo à Lusa o presidente.

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Cem anos após a criação da Aliança Evangélica Portuguesa (AEP), existem cerca de 400 mil protestantes em Portugal, números impulsionados pelo 25 de Abril e pelos imigrantes do Brasil e do leste europeu, revelou este domingo à Lusa o presidente.

Em declarações à margem das comemorações, que decorrem no Porto, do centenário da associação que reúne a maior parte das religiões protestantes existentes em Portugal, António Calaim fez o balanço de um percurso “beneficiado sempre que o país avançou para a democracia”.

“Há 100 anos, os evangélicos protestantes seriam poucos milhares, após o 25 de Abril passaram a ser mais de uma centena de milhar e hoje poderemos dizer, segundo um levantamento feito pelo professor Alfredo Teixeira e pela professora Helena Vilaça, em ligação com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, que revela que na Área Metropolitana de Lisboa 5% da população reconhece-se e identifica-se como evangélica”, resumiu o também líder religioso.

Feitas as contas, António Calaim estima que, pelo levantamento feito “há quatro ou cinco anos, há cerca de 400 mil protestantes”, números que são os que vigoram por “permanecer desconhecido o resultado dos últimos censos”, disse.

Criada em 1921, em assembleia-geral plenária, para “fomentar uma melhor relação e comunhão entre diferentes missionários, pastores e obreiros que viviam em Portugal e eram de religião protestante e evangélica”, a AEP surgiu no “contexto promissor” da Primeira República, disse.

“A Primeira República acabou com a proibição, entre outras, de que as igrejas, as casas de cultos, as sinagogas, as judiarias pudessem ter porta para a rua”, assinalou o responsável de um percurso que só voltou a ter expressão após a Revolução dos Cravos.

Segundo António Calaim, nas antigas colónias portuguesas em África, implantaram-se “algumas missões protestantes que tiveram alguns privilégios de poderem, através do ensino, da acção social, proporcionar algum desenvolvimento nas tribos e povos onde eram missionários”.

“Quando ocorreu o 25 de Abril, porque havia também uma população protestante evangélica nessas colónias, nomeadamente em Angola e Moçambique, houve um grande grupo que regressou a Portugal, assim contribuindo para um rejuvenescimento das igrejas evangélicas”, continuou.

O crescimento, contudo, não se ficou por aqui, já que na década de 1980 “com a imigração do Brasil e dos países do Leste, alguns deles, protestantes, procuraram juntar-se com outras igrejas aqui existentes”, gerando “novo impulso”.

Ainda assim, defende, “a presença protestante na sociedade não deve ser vista pelos números, mas pela influência viva, da realidade de viver vidas evangélicas, de pessoas que pretendem ser uma expressão neste tempo de serem pequenos Cristos”.

Sobre o aborto e a eutanásia reiterou: “Nos chamados assuntos fracturantes da nossa sociedade, nós, os evangélicos, tal como a igreja católica e outras religiões, temos posições em defesa da vida. Portanto, estamos juntos nesta luta, mas não nos colocamos numa posição e defesa com direito a radicalismos”.

E é com a mesma postura, serena, que fala das denúncias de abusos sexuais na igreja católica, começando por assinalar que “a igreja evangélica tem uma postura em relação ao casamento dos sacerdotes, dos pastores, diferente da igreja católica”.

“Que isto faz com que eventualmente haja menor percentagem dessas situações, acreditamos que sim”, acrescentou, antes de repudiar os fenómenos de “adição e de perversão” que existem na sociedade e assegurou não querer encontrar no seu meio religioso e, em particular, “nos líderes das igrejas protestantes”.