Deve deixar o seu bebé chorar?
Em termos de sobrevivência da espécie, o choro do bebé está desenhado para ser difícil e quase insuportável de ouvir por uma razão muito concreta, para que os pais vão depressa “acudir” ao bebé e às suas necessidades.
Os bebés podem ser desgastantes, especialmente os que são considerados “bebés difíceis” e que têm uma elevada necessidade de conforto durante horários pouco “higiénicos”, tipo 3h ou 5h da manhã. Por isso, alguns pais são aconselhados a usar técnicas como as do “choro controlado” (CIO) para adormecê-los.
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Os bebés podem ser desgastantes, especialmente os que são considerados “bebés difíceis” e que têm uma elevada necessidade de conforto durante horários pouco “higiénicos”, tipo 3h ou 5h da manhã. Por isso, alguns pais são aconselhados a usar técnicas como as do “choro controlado” (CIO) para adormecê-los.
Todos os pais têm uma necessidade de sono e, por isso, é completamente normal que tentem todos os métodos para acalmar o bebé e conseguirem dormir! No entanto, aqui estão dez razões pelas quais não deve deixar o seu bebé a chorar:
1. O principal argumento para deixar o bebé chorar é o de que precisa de aprender a “acalmar-se” sozinho e, por consequência, conseguir adormecer sem a ajuda da mãe ou do pai. Por isso, se deve deixar o bebé a chorar e não responder de imediato ao seu choro (às suas necessidades) porque ele vai, eventualmente, confortar-se e adormecer sozinho. Na realidade a mensagem que os pais estão a passar é a de que o bebé deve “desistir de esperar que se importem com ele”, que mensagem dura, para um bebé tão pequenino!
2. O sentimento de angústia infantil interfere com o desenvolvimento do cérebro dos bebés. A investigação científica tem demonstrado que o stress liberta cortisol adicional nos bebés e destrói conexões nervosas no cérebro. Algumas áreas do cérebro afectadas pelo stress severo são o sistema límbico, o hemisfério esquerdo e o corpo caloso. Outras áreas que podem ser afectadas são o hipocampo e o córtex orbitofrontal. Bebés que sofrem situações de “negligência precoce” também têm cérebros menores, em consequência desse stress vivenciado.
3. Os bebés choram para exprimir as necessidades e se não somos capazes de lhes responder, claramente não os estamos a atender. Um bebé pode chorar, porque tem uma infecção no ouvido, tem fome, tem dores de dentes, está a sentir-se só ou está com medo, entre outras razões igualmente válidas. Quando não aparece ninguém para o alimentar, confortar, tranquilizar ou simplesmente aconchegar, o bebé pode desistir de chorar, mas ainda assim, irá continuar com fome, triste, com medo ou com dor. A única coisa que “melhora” é o facto de o bebé deixar de chorar e assim os pais começam a dormir a noite toda!
4. A mensagem fundamental dos métodos que envolvem o choro é a de que as necessidades e desejos dos pais são mais importantes do que os do bebé.
5. As pesquisas têm concluído que, durante o método “choro controlado” (CIO), os bebés passam por fases previsíveis. A primeira, chamada de “protesto”, consiste num choro alto e agitação extrema. A segunda, identificada como “desespero”, consiste num choro monótono, acompanhado de inactividade e retirada emocional. A terceira fase, chamada de “desapego”, consiste num renovado interesse, embora se trate de um interesse remoto e distante. Concluindo que, deixar os bebés a chorar pode levar à eventual dissipação desses gritos, devido ao desenvolvimento gradual de apatia na criança.
6. Outros estudos demonstram que os bebés que foram criados com métodos de CIO têm uma probabilidade dez vezes superior de vir a desenvolver hiperactividade e défice de atenção, mais tarde.
7. O método (CIO) torna os pais insensíveis em relação ao choro dos seus bebés. Em termos de sobrevivência da espécie, o choro do bebé está desenhado para ser difícil e quase insuportável de ouvir por uma razão muito concreta, para que os pais vão depressa “acudir” ao bebé e às suas necessidades. Quando os pais são orientados a não responderem quando ouvem os gritos/choro do seu bebé, no quarto ao lado, geralmente isso implica que tenham de “desligar” a sua resposta empática natural e automática de resposta aos sons de angústia dos seus filhos. Não existe um botão para ligar/desligar este instinto, para poder reconstruir a conexão natural durante o dia ou em horários mais convenientes.
8. Outro estudo concluiu que o facto de os bebés eventualmente pararem de chorar e adormecerem não é tão inócuo assim. O que acontece é que o bebé deixa de chorar, os pais deixam de o ouvir e os níveis de cortisol (hormona do stress) dos pais desce, porque deixam de estar preocupados com o choro da criança. No entanto, os níveis de cortisol elevados do bebé, aquando o choro, mantêm-se elevados durante os 3-4 dias subsequentes, embora já não expresse o seu stress e angústia através do choro! Com todos os danos para as redes neuronais, do excesso de cortisol.
9. Um outro estudo concluiu que os bebés que tinham sido deixados a chorar excessivamente (e que não exibiam sintomas de cólica) em média obtêm classificações mais baixas em testes de QI e apresentam também atrasos ao nível da motricidade fina.
10. Outros investigadores descobriram que bebés com choro excessivo durante os primeiros meses de vida mostraram mais dificuldade em controlar as suas emoções e se tornaram bebés ainda mais exigentes em termos de consolo aos dez meses. Ainda mais, um estudo mostrou que esses bebés têm uma qualidade mais irritante no seu choro, são mais dependentes durante o dia e demoram mais tempo a tornarem-se independentes enquanto crianças.
Richard Ferber, considerado por muitos como o pai do movimento CIO, admitiu numa entrevista que “algumas crianças são ‘intreináveis’, simplesmente não vão parar de chorar. Muitas gritam até vomitar ou desmaiar, mas nunca chegam a esse final perfeito prometido. No momento em que os pais percebem que esse método não vai funcionar com os seus bebés já lhes foi causado um enorme dano – fisicamente, neurologicamente, emocionalmente e muito mais!”
Forçar a “independência” do bebé leva a maior dependência, enquanto dar-lhe o que ele precisa gera maior independência no futuro.
Para mim, pessoalmente, nem se quer coloca a questão de “quanto tempo posso/devo deixar o meu bebé a chorar?” porque simplesmente ignorar o choro do bebé não é uma hipótese! Isso vai contra os nossos instintos parentais naturais de amar, cuidar e estar lá para os nossos filhos! O que acontece é que muitas vezes os pais sentem exactamente o mesmo, mas são pressionados por amigos, família e até profissionais de saúde a usar estes métodos de choro controlado.
Sim, porque no que toca a bebés, toda a gente tem opinião (pena que, muitas vezes, pouco ou nada fundamentada). Siga os seus instintos parentais e faça ouvidos moucos aos péssimos conselhos dos outros. Existem formas saudáveis para atender às necessidades de todos, embora possam precisar de um pouco mais de tempo ou esforço.