Frederico Valsassina. Adega da Herdade do Freixo

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No 16.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Frederico Valsassina sobre a adega da Herdade do Freixo.

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No 16.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com o arquitecto Frederico Valsassina sobre a adega da Herdade do Freixo.

Uma das principais premissas deste projecto era construir uma adega em harmonia com a natureza para que o edifício fosse “integrado” na própria paisagem. O arquitecto partilha aqui muitas das suas histórias que mostram não só o respeito pelo território, ao longo de todo o processo, mas também realçam a importância do trabalho em equipa e o contributo de todos os intervenientes. Pelo meio, as decisões arquitectónicas cruzam-se com a enologia e temos ainda oportunidade de conhecer parte da magia do vinho e da sua ciência.

Durante as primeiras visitas ao local, Frederico Valsassina conta que, em conjunto com a arquitecta Susana Meirinhos, avaliou o que a paisagem pedia, tendo em conta a topografia do território. O principal objectivo dessas deslocações era perceber como é que poderiam desenvolver o projecto sem entrar em conflito com esse Alentejo quase intocável. Numa primeira leitura, ambos compreenderam que tudo apontava para a criação de uma adega subterrânea. Porém esse passo levantava novos desafios ao nível da ventilação. Como poderiam resolver este problema? A paisagem haveria de indicar a resposta.

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O Alentejo, como todos sabemos, está exposto a grandes amplitudes térmicas, por isso os vinhos pedem calma e estabilidade: “À medida que os problemas surgiam, íamos ao local para ver se o lugar falava connosco”, lembra o arquitecto. Após sucessivas visitas, Frederico Valsassina constatou que no monte operário existiam várias chaminés.

Essa forma das chaminés foi replicada nos pátios, resolvendo não só o problema da ventilação, mas criando, além disso, focos de luz natural, que sugerem a marca das horas pelo modo como o sol é projectado. Este “relógio de sol” tem vida própria e dita a divisão do dia a quem o quiser observar.

Quando a adega já se encontrava quase invisível, o interior do edifício foi tingido pela mesma cor da terra, utilizando-se barramento cimentício, que criou uma ligação com o terroir das vinhas. Compreender a natureza foi sempre o ponto de partida, por esse motivo também os maciços rochosos que surgiram, durante a construção, foram deixados ficar, como é o caso daquele que se encontra na sala de barricas. Hoje essa rocha está lá não só porque já pertencia à paisagem, mas também porque transmite a humidade presente na terra para o interior do espaço.

Mais do que um trabalho, havia uma missão e o arquitecto soube que não era a arquitectura que tinha de se afirmar. O edifício estava a ser construído para cumprir o seu propósito: produzir bons vinhos. Nesse sentido, os conhecimentos que o enólogo Pedro Vasconcellos e Souza partilhou foram valiosos. Por estar enterrada, a adega consegue utilizar apenas a força da gravidade natural, ao longo do processo vinícola, beneficiando da regulação da temperatura para a conservação dos vinhos.

Embora possa parecer paradoxal, neste edifício, o arquitecto Frederico Valsassina procurou a ausência da arquitectura: “A ideia era que quando a pessoa passasse pelo edifício não sentisse que havia ali qualquer coisa”. No fundo, pretendia-se que a entrada na adega criasse essa experiência de “entrar dentro da terra”. Entre o cinzento e os tons de terra, os materiais que predominam no edifício são o xisto e o betão: “Esta relação interessante entre a terra que está à volta das vinhas e a cor da adega é algo que me agrada de sobremaneira. Senti que essa era a génese de tudo isto”, explica o arquitecto.

Já depois de o projecto estar concluído, muitas foram as pessoas a associar a adega da Herdade do Freixo ao Guggenheim de Frank Lloyd Wright. Durante a entrevista, o arquitecto explica que, em nenhum momento do projecto, pensou criar um novo Guggenheim e esclarece que a rampa em espiral, que se encontra no interior da adega, desenvolve-se em cotas diferentes para que o visitante possa aceder a todas as etapas do processo vinícola. A adega esconde-se debaixo do chão para não interferir com o equilíbrio do ecossistema, mas, quando se entra, tudo fica à mostra para que as distintas fases do vinho – a adega, a vinha e o estágio – possam ser visualizadas pelos visitantes.

O arquitecto Frederico Valsassina coordenou as várias operações para que tudo fluísse e mostrou como toda a equipa se envolveu: “Eu gosto imenso que quando chego a uma obra, a obra começa a fazer parte de todos os intervenientes. (...) Toda a gente – desde o empreiteiro mais simples ao mais sofisticado – achava que estava a contribuir para qualquer coisa que era novo”.

No País dos Arquitectos é um dos podcasts da Rede PÚBLICO. Produzido pela Building Pictures, criada com a missão de aproximar as pessoas da arquitectura, é um território onde as conversas de arquitectura são uma oportunidade para conhecer os arquitectos, os projectos e as histórias por detrás da arquitectura portuguesa de referência.

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