No São Martinho, talha e vinho: na Herdade do Rocim vai beber-se como os romanos
No dia 13 de Novembro abrem-se as talhas na Herdade do Rocim - e celebra-se o São Martinho. É uma tradição ancestral recuperada em forma de grande montra para o vinho da talha: com a presença de cerca de 40 produtores nacionais e estrangeiros, prova-se o vinho que continua a ser feito como há dois mil anos. Andreia Marques Pereira
A tradição cumpre-se na Herdade do Rocim e, desde 2018, com direito a evento internacional: o vinho de talha prova-se no dia de São Martinho e o produtor alentejano fá-lo em grande, com muitos convidados e um dia especial a que deu o nome de Amphora Wine Day. Este ano vai ser a 13 de Novembro que a Herdade do Rocim vai abrir as portas da sua adega e as suas talhas para dar a conhecer a nova colheita do vinho produzido com as mesmas técnicas que os romanos introduziram entre nós. “Estando na região com maior tradição do vinho de talha em Portugal, na Vidigueira, onde se produz este vinho há mais de dois mil anos, acreditámos que fazia todo o sentido organizar um evento que celebrasse o uso de ânforas”, explica o enólogo e diretor geral da Herdade do Rocim, Pedro Ribeiro.
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A tradição cumpre-se na Herdade do Rocim e, desde 2018, com direito a evento internacional: o vinho de talha prova-se no dia de São Martinho e o produtor alentejano fá-lo em grande, com muitos convidados e um dia especial a que deu o nome de Amphora Wine Day. Este ano vai ser a 13 de Novembro que a Herdade do Rocim vai abrir as portas da sua adega e as suas talhas para dar a conhecer a nova colheita do vinho produzido com as mesmas técnicas que os romanos introduziram entre nós. “Estando na região com maior tradição do vinho de talha em Portugal, na Vidigueira, onde se produz este vinho há mais de dois mil anos, acreditámos que fazia todo o sentido organizar um evento que celebrasse o uso de ânforas”, explica o enólogo e diretor geral da Herdade do Rocim, Pedro Ribeiro.
Foi há mais de dois mil anos que se começou a vinificar o vinho desta forma, sobretudo a sul do Tejo, na região do Alentejo, num saber que foi galgando gerações e que nos últimos anos ganhou um novo palco. A redescoberta destes vinhos ancestrais, produzidos em ânforas de barro (é daí que vem o nome) e guardiões de idiossincrasias que atravessaram os séculos, resultado não só do terroir como de toda a cultura que os foi embalando (e que também por isso é candidato português a Património Cultural e Imaterial da Humanidade), levou a que alguns produtores alargassem a sua oferta - não só vinhos produzidos recorrendo às técnicas mais modernas como o regresso à simplicidade quase desconcertante dos vinhos da talha.
Afinal, o seu processo de vinificação pode ser resumido à colocação das uvas esmagadas nas grandes vasilhas de barro (as talhas) para deixar que a fermentação aconteça espontaneamente. Ou quase, já que a mão humana interfere duas vezes por dia, normalmente, para “empurrar” as películas e outros restos sólidos das uvas, que vão subindo até à boca da talha, novamente baixo (dizem os especialistas que dá mais estrutura e cor ao vinho); é quando essa “capa” se instala definitivamente no fundo da ânfora que se dá por concluído o processo de fermentação. O resultado é um espelho cândido deste labor artesanal: vinhos com uma presença mais clara da fruta e bastante aromáticos, com uma estrutura simples, sem rodeios.
Esta é a forma clássica de produzir o vinho da talha que pouco mudou nos dois últimos milénios, embora haja pequenas diferenças de acordo com a tradição local. E, na Herdade do Rocim, essas variações poderão ser apreciadas, já que estarão presentes 40 produtores, entre portugueses e estrangeiros. De fora, destacam-se a presença de representantes da Geórgia e Itália que são, juntamente com Portugal, os países que mais tradição têm de produção de vinhos de talha - contudo, não serão os únicos representantes estrangeiros: França, Espanha e até EUA também apresentarão os seus vinhos. De Portugal, os produtores chegam maioritariamente do Alentejo, mas há “intromissões” do Douro, Madeira, da região dos Vinhos Verdes e até das Encostas d’Aire.
Se tudo correr como em edições anteriores, esperam-se cerca de mil visitantes no Amphora Wine Day da Quinta do Rocim, produtor de vinho da telha desde a sua criação. Em 2019, a herdade que se situa entre a Vidigueira e Cuba (Baixo Alentejo), produziu 10 mil garrafas de vinho da talha branco e outras tantas de tinto (um pequeno grão numa engrenagem que, no total, vende anualmente um milhão de garrafas das suas várias marcas, produto dos seus 70 hectares de vinhas - tem ainda 10 hectares de olival - cultivadas em regime biológico e, em grande parte, com certificado), mas “o número tem vindo a aumentar nos últimos anos”. É o reflexo da crescente apreciação pelo vinho da telha, impulsionada pelos EUA, Canadá, Reino Unido, Japão e Suécia, que são os principais consumidores. “[O Ampnhora Wine Day] Começou por ser um evento que ajuda a preservar esta prática milenar, mas acreditamos que há aqui um extraordinário potencial para dar ao mundo do vinho e os números têm-nos mostrado isso mesmo”, defende Pedro Ribeiro.
Os ingressos para esta edição estão à venda na Ticketline e custam 10 euros com oferta de copo Riedel. Quem preferir, pode adquiri-los no próprio dia, à porta da adega - neste caso, o preço será de 12,50 euros mantendo-se a oferta do copo. Mais informações no site da Herdade do Rocim.