Primeiros resultados das eleições na Nicarágua dão vitória a Ortega

Dados oficiais mostram apoio de 75% ao partido do Presidente e 65% de participação. Organização revela uma abstenção de 81,5% e comunidade internacional considera eleições uma “farsa”.

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Várias pessoas aguardam em fila para votar, em Manágua Jader Flores/EPA

Os primeiros resultados das eleições de domingo na Nicarágua revelam um apoio de 75% à Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) do Presidente, Daniel Ortega, segundo a comissão eleitoral. Ortega encaminha-se, assim, para o quarto mandato consecutivo, após 14 anos no poder.

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Os primeiros resultados das eleições de domingo na Nicarágua revelam um apoio de 75% à Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) do Presidente, Daniel Ortega, segundo a comissão eleitoral. Ortega encaminha-se, assim, para o quarto mandato consecutivo, após 14 anos no poder.

A presidente do organismo eleitoral, Brenda Rocha, indicou numa conferência de imprensa que a FSLN lidera os resultados com 74,99% dos votos. “Esta é a informação que temos até agora sobre a eleição do Presidente e vice-presidente”, afirmou. Mas uma sondagem da Cid-Gallup revela que só 19% dos 4,3 milhões de eleitores nicaraguanos votariam no Presidente, face aos 65% que votariam num candidato da oposição.

Quanto à participação, Brenda Rocha indicou ter havido uma adesão de 65%, tendo culminado “com êxito um exercício cívico em que a vontade dos cidadãos foi manifestada nas urnas de forma transparente, democrática e em paz”.

Contudo, estes valores contrastam com a afluência registada durante a ida às urnas: o observatório Urnas Abiertas divulgou que, segundo os seus 1450 observadores espalhados pelo país, a abstenção corresponde a uma média de 81,5%. Além disso, o Governo recusou os observadores independentes e jornalistas de vários media internacionais foram proibidos de entrar na Nicarágua.

Uma “farsa” eleitoral

As eleições de domingo foram amplamente criticadas pela oposição e por grande parte da comunidade internacional. O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, acusou o Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, e a sua mulher, a vice-presidente Rosario Murillo, de terem orquestrado uma votação que não foi “nem livre nem justa e menos ainda democrática”.

“A prisão arbitrária de quase 40 figuras da oposição desde Maio, incluindo sete potenciais candidatos presidenciais, e o bloqueio de partidos políticos, sabotou o resultado bem antes do dia da eleição”, pode ler-se num comunicado divulgado no domingo.

Apelando para que a democracia da Nicarágua seja restaurada e os presos políticos libertados, o Presidente norte-americano afirmou que os Estados Unidos da América “vão usar todas as ferramentas diplomáticas e económicas ao seu dispor para apoiar o povo da Nicarágua e responsabilizar o Governo Ortega-Murillo, bem como aqueles que permitem os seus abusos”. 

Para o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, o processo eleitoral “perdeu toda a credibilidade”.

Também o director executivo da Human Rights Watch para as Américas, José Miguel Vivanco, criticou no Twitter as eleições de domingo, classificando-as como um processo de “farsa”. Ao The New York Times, Vivanco descreveu a repressão do regime como “um filme de terror em câmara lenta”.

Na mesma linha, a União Europeia denunciou esta segunda-feira a falta de “garantias democráticas” e de “legitimidade” das eleições na Nicarágua e respectivos resultados, disse o chefe da diplomacia europeia, ​Josep ​Borrell, numa declaração em nome dos 27. E, ameaçando aplicar sanções mais duras, o bloco exigiu ao Presidente que “devolva a soberania” ao povo nicaraguense, que liberte os presos políticos e respeite os direitos humanos, incluindo os civis e políticos.

Nos últimos meses, a perseguição aos opositores foi contínua e desde Junho foram detidas 39 pessoas, entre personalidades políticas, empresários, camponeses, estudantes e jornalistas. E na véspera das eleições pelo menos 21 pessoas foram detidas, incluindo opositores de Ortega, segundo a organização Monitoreo Azul y Branco. Destas, cinco foram libertadas, enquanto 16 permaneceram detidas.