COP26: 30 mil pessoas em marcha para resgatar o mundo

É uma história de solidariedade, gerações unem-se e fronteiras desvanecem-se, juntos por uma causa comum. Proteger o mundo em que vivemos já que os líderes mundiais não o fazem.

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"Há confiança nesta multidão que os ouve, nas pessoas que se preocupam e na reivindicação comum. Apenas queremos resgatar o mundo" EPA/ROBERT PERRY

Uma portuguesa, uma egípcia, uma francesa, uma indiana e uma colombiana entram juntas numa manifestação, todas se estreiam menos uma. Qual? Não é assim a anedota? Mas foi assim que aconteceu nesta sexta-feira, 5 de Novembro, em Glasgow, no decorrer da COP26.

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Uma portuguesa, uma egípcia, uma francesa, uma indiana e uma colombiana entram juntas numa manifestação, todas se estreiam menos uma. Qual? Não é assim a anedota? Mas foi assim que aconteceu nesta sexta-feira, 5 de Novembro, em Glasgow, no decorrer da COP26.

Caminhamos em direcção ao som, o ponto de partida da marcha anuncia-se pelo soar dos tambores, partilhamos o entusiasmo que sentimos por fazer parte deste momento. Cantarolo Power to the People e saltito, já faz o seu tempo desde a minha última Greve Climática Estudantil em Lisboa, desde a última vez que estive no meio de uma multidão. A francesa pergunta-me se já tinha participado em alguma marcha, fico surpreendida porque depreendera que todas tínhamos participado nas Fridays for Future nos nossos países de origem. Pelos vistos não. A egípcia conta a preocupação da mãe com a sua segurança. A colombiana e a indiana corroboram de imediato e explicam que nos seus países, passado pouco tempo de as manifestações começarem, chega a polícia e ninguém quer estar por perto pois podem ser momentos aflitivos.

No início da semana passeava pela Bath Street e numa das galerias de arte havia uma homenagem aos activistas colombianos que foram assassinados por causa do seu trabalho. As minhas amigas contam como já perderam amigos, ou sobre o primo que ficou sem uma mão aos 11 anos por sair de casa num desses dias fatídicos em que a polícia vai ao encontro de quem exige mudança. Fico perplexa e justifico que em Portugal ir para a rua é um direito que somos incentivados a exercitar, faz parte de viver numa democracia saudável. E é assim que em tempos de eleições antecipadas me sinto agradecida pelo nosso enquadramento político.

Chegadas a Kelvingrove Park, a animação está instalada, há propaganda política, muitas bandeiras escocesas, algumas da Palestina, crianças de todas as idades, educadores, professores, pais e avós. É uma história de solidariedade, gerações unem-se e fronteiras desvanecem-se, juntos por uma causa comum. Proteger o mundo em que vivemos já que os líderes mundiais não o fazem. “Our world, not their profit.” As palavras de ordem reflectem as desigualdades e expõem este sistema ganancioso que nos rouba o nosso mundo. Nas salas de conferência, onde se encontram os políticos, continuam a adiar metas para 2030 e 2050, na ilusão de que temos esse tempo todo. Nas ruas, exigimos justiça climática já!

A energia no ar é contagiante, 30 mil pessoas vindas de todo o mundo caminham até George Square, passamos pelos mais diversos media, descubro ruas que ainda não conhecia, as pessoas acenam das janelas das suas casas ou saem dos escritórios para nos apoiarem. A polícia assinala o caminho e distribui autocolantes pelos mais novos. Já na praça dispomo-nos em frente do pequeno palco que será a plataforma para grandes vozes. Ouvimos jovens activistas do Uganda, Filipinas, Equador, Argentina, Brasil, Colômbia, Papua Nova Guiné e, como não podia deixar de ser, da Suécia.

Partilham as suas histórias. Os indígenas, que protegem os pulmões do planeta com as suas próprias vidas há demasiadas gerações, gritam em desespero “Demarcação Já!” e “Fora Bolsonaro”, sabendo que o bilião de dólares negociado esta semana para proteger a Amazónia nunca chegará ao seu destino. As jovens do Uganda explicam como África é responsável por apenas 3% das emissões de CO2 e, no entanto, é a zona do globo que está a enfrentar as consequências mais catastróficas e letais daquilo que o resto do mundo está a produzir. Por lá, não estão a lutar porque querem um futuro para as próximas gerações — esse sonho é um privilégio do hemisfério Norte —, estão a lutar porque, neste momento, estão a morrer.

Ainda assim há esperança, há confiança nesta multidão que os ouve, nas pessoas que se preocupam e na reivindicação comum. Apenas queremos resgatar o mundo. Este mundo com uma riqueza sem fim à superfície, não precisa que o seu solo continue a ser escavado na ânsia por mais carvão ou mais petróleo. Este mundo rico em diversidade não precisa de mais idas ao espaço porque, quando o planeta morrer, o dinheiro não vai salvar nenhum dos multimilionários. Queremos resgatar o mundo da ganância. É preciso acção.

Uma portuguesa, uma egípcia, uma francesa, uma indiana e uma colombiana gritam juntas numa manifestação: “No more polution, we need a revolution!