Activista de direitos das mulheres morta no Afeganistão

Diário britânico The Guardian diz que este será o primeiro assassínio de uma mulher activista desde que os taliban tomaram o poder no país.

Foto
A vida das mulheres está sujeita a mais restrições impostas pelos taliban ZOHRA BENSEMRA/Reuters

A morte da professora de economia e activista de direitos das mulheres, Frozan Safi, 29 anos, a tiro, no Norte do Afeganistão, parece ser, segundo o diário britânico The Guardian, a primeira de uma defensora de direitos das mulheres no país desde que os taliban tomaram o poder há quase três meses.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A morte da professora de economia e activista de direitos das mulheres, Frozan Safi, 29 anos, a tiro, no Norte do Afeganistão, parece ser, segundo o diário britânico The Guardian, a primeira de uma defensora de direitos das mulheres no país desde que os taliban tomaram o poder há quase três meses.

Safi tinha desaparecido a 20 de Outubro. Foi identificada numa morgue em Mazar-i-Sharif. “Reconhecemo-la pelas roupas. As balas destruíram a cara dela”, disse a irmã, Rita, que é médica. “Havia balas por todo o corpo, demasiadas para contar, na cara, coração, peito, rins, e pernas”, descreveu. O seu anel de noivado e a carteira tinham desaparecido, disse ainda a irmã ao jornal.

A irmã não quis apontar o dedo a ninguém pela morte: “Não sabemos simplesmente quem a matou”. O pai das irmãs, Abdul Rahman Safi, de 66 anos, contou que o corpo tinha sido encontrado numa vala não muito longe da cidade, e tinha sido registada como “desconhecida” pelos trabalhadores do hospital.

Antes de ser morta, Frozan Safi achava que um pedido de asilo feito à Alemanha – que prometeu receber mulheres afegãs activistas em perigo – estava a ser bem-sucedido.

No final do mês passado, Frozan tinha recebido um telefonema de um número anónimo, dizendo para reunir as provas do seu trabalho a favor dos direitos das mulheres e esconder-se num local seguro. A chamada fez sentido, e Frozan pôs alguns documentos, incluindo o seu diploma, numa carteira, e saiu de casa, contou Rita ao Guardian.

Activistas de direitos das mulheres dizem que estão a ser perseguidas pelos taliban, que encontraram maneiras de se infiltrar em grupos de mulheres e de as intimidar.

Zahra, que prefere usar apenas um nome por razões de segurança, contou ao Guardian que esteve com Frozan no mais recente protesto de mulheres em Mazar-i-Sharif. Depois disso, o seu WhatsApp foi alvo de piratas informáticos. “Não me atreveria a ir às redes sociais agora”, disse.

Desde meados de Agosto, os protestos das mulheres têm sido regulares – muitos têm sido dispersados com violência, com os taliban a atacar as mulheres com bastões e detendo, e torturando, jornalistas que façam a cobertura dos protestos.

Nas manifestações, as mulheres pedem que os seus direitos, suspensos pelos taliban, sejam restaurados. Mas é o contrário que está a acontecer, sublinha o Guardian: as raparigas são impedidas de frequentar o ensino secundário, o novo governo é composto só por homens, as mulheres não podem fazer a maioria dos desportos e foram afastadas dos seus trabalhos.

A organização de defesa de direitos humanos  Human Rights Watch disse esta semana que os taliban estavam ainda a proibir as mulheres de fazer trabalho humanitário no país.