Hölderlin, poeta do culto trágico

João Barrento dá-nos uma tradução de todos os poemas de Hölderlin, e esta grandiosa tarefa traz consigo uma exigência de leitura: é preciso não ficarmos presos à dimensão filosófica e mítica que se foi acumulando à volta da figura do poeta e lê-lo como um poeta “de corpo inteiro”.

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Para a lermos de perto, sem ficarmos presos às elaborações que colocaram Hölderlin na constelação filosófica do Idealismo alemão

Na Introdução a Todos os Poemas de Friedrich Hölderlin (1770-1843), João Barrento fala da sua monumental tarefa de tradução deste poeta alemão que chegou até nós arrastando consigo uma tão pesada carga filosófica, teórica e histórica-política que se tornou difícil lê-lo simplesmente como poeta. É um “Hölderlin de corpo inteiro”, aquele que João Barrento quis dar a ler, em língua portuguesa, isto é, uma obra poética que não deve ser sublimada no reino das ideias, das intuições especulativas de forte conotação metafísica, e que no seu conjunto tem uma cronologia marcada pelas contingências biográficas: dos poemas de juventude até à chamada “fase de loucura” (trinta e sete anos em que o poeta viveu sob os cuidados de uma família que o acolheu, numa casa em Tübingen, junto ao rio Neckar, de 1806 até à morte), passando pela produção da maturidade, onde se incluem os seus grandes hinos e odes. Vista assim, na sua totalidade, como um “território de múltiplas paisagens” – escreve João Barrento – torna-se possível compreender “o percurso trágico” de Hölderlin, “corrigindo ao mesmo tempo uma certa visão, mitificada e totalmente sublimizada, de um poeta que, como tantos outros, tem lados bem mais humanos e vulneráveis do que aqueles que os chamados ‘grandes poemas’ nos dão”. Acrescentando a “todos os poemas” um apêndice final a que chama “esboço de uma poética”, onde integra apenas uma pequeníssima parte do muito material ensaístico e “poetológico” que Hölderlin nos deixou, João Barrento fornece-nos a obra poética sem a sobrecarga de reflexão teórica, para a lermos de perto, sem ficarmos presos às elaborações que colocaram Hölderlin – ele que foi condiscípulo de Hegel e  Schelling, com quem manteve estreitas relações, no Seminário de Tübingen – na constelação filosófica do Idealismo alemão. Aliás, ele foi identificado como um dos co-autores desse texto que fez até hoje correr tanta tinta chamado “O Mais Antigo Programa Sistemático do Idealismo Alemão”, onde se pode ler: “O filósofo deve possuir uma força estética semelhante à do poeta”.  

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Na Introdução a Todos os Poemas de Friedrich Hölderlin (1770-1843), João Barrento fala da sua monumental tarefa de tradução deste poeta alemão que chegou até nós arrastando consigo uma tão pesada carga filosófica, teórica e histórica-política que se tornou difícil lê-lo simplesmente como poeta. É um “Hölderlin de corpo inteiro”, aquele que João Barrento quis dar a ler, em língua portuguesa, isto é, uma obra poética que não deve ser sublimada no reino das ideias, das intuições especulativas de forte conotação metafísica, e que no seu conjunto tem uma cronologia marcada pelas contingências biográficas: dos poemas de juventude até à chamada “fase de loucura” (trinta e sete anos em que o poeta viveu sob os cuidados de uma família que o acolheu, numa casa em Tübingen, junto ao rio Neckar, de 1806 até à morte), passando pela produção da maturidade, onde se incluem os seus grandes hinos e odes. Vista assim, na sua totalidade, como um “território de múltiplas paisagens” – escreve João Barrento – torna-se possível compreender “o percurso trágico” de Hölderlin, “corrigindo ao mesmo tempo uma certa visão, mitificada e totalmente sublimizada, de um poeta que, como tantos outros, tem lados bem mais humanos e vulneráveis do que aqueles que os chamados ‘grandes poemas’ nos dão”. Acrescentando a “todos os poemas” um apêndice final a que chama “esboço de uma poética”, onde integra apenas uma pequeníssima parte do muito material ensaístico e “poetológico” que Hölderlin nos deixou, João Barrento fornece-nos a obra poética sem a sobrecarga de reflexão teórica, para a lermos de perto, sem ficarmos presos às elaborações que colocaram Hölderlin – ele que foi condiscípulo de Hegel e  Schelling, com quem manteve estreitas relações, no Seminário de Tübingen – na constelação filosófica do Idealismo alemão. Aliás, ele foi identificado como um dos co-autores desse texto que fez até hoje correr tanta tinta chamado “O Mais Antigo Programa Sistemático do Idealismo Alemão”, onde se pode ler: “O filósofo deve possuir uma força estética semelhante à do poeta”.