Facebook responde a Haugen: não agarramos as pessoas “com conteúdo extremista”

Na Web Summit, o responsável pelas políticas públicas do Facebook acusou a denunciante de interpretar mal os interesses da empresa. “Os anunciantes não querem ver o seu conteúdo ao lado de conteúdo desagradável”, disse Nick Clegg.

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Nick Clegg, do Facebook, não conseguiu estar presencialmente em Lisboa Reuters/PEDRO NUNES

O Facebook reconhece que “com o crescimento e sucesso vem o escrutínio”, mas o responsável pelas políticas públicas da empresa diz que Frances Haugen tem uma ideia errada sobre os interesses comerciais e os algoritmos das redes sociais. Segundo Nick Clegg, que defendeu o ponto de vista do Facebook na Web Summit, as plataformas do grupo Meta (inclui Facebook, WhatsApp, Instagram e Messenger) não obtêm mais lucro ao publicar conteúdo extremista.

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O Facebook reconhece que “com o crescimento e sucesso vem o escrutínio”, mas o responsável pelas políticas públicas da empresa diz que Frances Haugen tem uma ideia errada sobre os interesses comerciais e os algoritmos das redes sociais. Segundo Nick Clegg, que defendeu o ponto de vista do Facebook na Web Summit, as plataformas do grupo Meta (inclui Facebook, WhatsApp, Instagram e Messenger) não obtêm mais lucro ao publicar conteúdo extremista.

“As pessoas que pagam para termos lucro são anunciantes. Os anunciantes não querem ver o seu conteúdo ao lado de conteúdo desagradável. Os nossos próprios utilizadores não vão usar as nossas plataformas se tiverem uma má experiência”, argumentou em palco Nick Clegg, vice-presidente das políticas das plataformas do grupo Meta desde 2018, negando que a empresa alimente “deliberadamente as pessoas com conteúdo desagradável e extremista para as manter perpetuamente irritadas e conectadas”.

Era uma resposta directa às acusações de Frances Haugen, a ex-funcionária que se tornou denunciante de más práticas do grupo e abriu a edição de 2021 da Web Summit na noite passada. Clegg falava por videoconferência, em enormes ecrãs transmitidos nos ecrãs da Altice Arena, depois de mudanças na agenda o impedirem de viajar até Lisboa. 

“Há sempre dois lados numa história”, sublinhou em palco, lembrando que os sistemas de inteligência artificial do Facebook estudam a prevalência do discurso de ódio nas plataformas. “Em dez mil milhões de visualizações de conteúdo, cinco podem incluir discurso de ódio – é 0,05%”, referiu. É uma métrica que o grupo Meta gosta de repetir: o valor (uma estimativa calculada por um sistema que estuda a prevalência de ódio na plataforma) também foi mencionado durante uma conversa do PÚBLICO com Laurent Solly, que gere as plataformas de Mark Zuckerberg no Sul da Europa.

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Frances Haugen foi a cabeça de cartaz do primeiro dia da Web Summit Reuters/Pedro Nunes

Frances Haugen também defende que os problemas do Facebook se devem uma “pequena parte do conteúdo”. Só que é essa porção de conteúdo aquela a que os algoritmos dão a maior parte da atenção, explicou a ex-funcionária do Facebook esta segunda-feira.

Grupo Meta terá mais regulação

Nick Clegg admite que o Facebook tem problemas para corrigir. “Todas as perguntas [de Frances Haugen] são legítimas”, concedeu. “E sabemos que temos de ter cuidado”, acrescentou. Depois, enumerou as estratégias da empresa para melhorar os seus serviços nos últimos anos: desde travar o lançamento da versão do Instagram para crianças à criação de equipas para perceber “o que falhou” na Birmânia, um país onde o conteúdo de ódio no Facebook tem motivado a perseguição da minoria muçulmana rohingya.

​“Muitos dos documentos [de Frances Haugen] têm dois ou três anos”, criticou, dando a entender que as provas da ex-funcionária do Facebook estão desactualizadas. “Deve haver mais regulação e mais transparência”, reconheceu.

Para Clegg, a mudança de nome da empresa-mãe do Facebook é prova disso. Ao alterar a designação para Meta, a empresa de Zuckerberg está a tornar claro o objectivo de criar o metaverso. Trata-se de um mundo virtual acessível através de aparelhos de realidade virtual e aumentada que se deve tornar uma realidade na próxima década.

“Esta tecnologia não vai aparecer do dia para a noite. Vai demorar cinco, dez anos”, explicou Clegg. “Há tempo para reflectir sobre [a tecnologia], contrariamente a outras tecnologias que explodem e depois têm de ser perseguidas pela regulação. Estamos a avisar as pessoas atempadamente”, sustentou. “Vamos ter tempo para falar com académicos sobre a equidade e privacidade do metaverso. Desta vez, queremos ter segurança antes de a tecnologia avançar.”

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Como o Meta, Zuckerberg quer criar um mundo virtual Facebook/Reuters

Criar o que diz ser uma caricatura do Facebook como vilão “não ajuda a identificar os verdadeiros problemas, nem a chegar às soluções certas”, concluiu o vice-presidente de políticas públicas do grupo Meta no final da sessão na Web Summit.

O Facebook é um dos grandes temas da edição de 2021 da Web Summit. Além de Frances Haugen e Nick Clegg, a cimeira tecnológica dá palco a Roger Mcnamee, autor do livro Zucked: Despertar para a Catástrofe do Facebook, e Chris Cox, responsável pelos muitos produtos do grupo Meta.