Segunda edição do Portugal Tech tem cem milhões para capitalizar empresas
Estado e Fundo Europeu de Investimento disponibilizam 50 milhões cada um para apoiar startups que consigam mobilizar co-investimento privado.
O Governo português e o Banco Europeu de Investimentos (BEI) vão reeditar o programa de capitalização de empresas de tecnologia, com uma segunda edição do programa Portugal Tech, que vai disponibilizar cem milhões de euros em capital para empresas emergentes.
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O Governo português e o Banco Europeu de Investimentos (BEI) vão reeditar o programa de capitalização de empresas de tecnologia, com uma segunda edição do programa Portugal Tech, que vai disponibilizar cem milhões de euros em capital para empresas emergentes.
Tal como na primeira edição, lançada em 2018, este dinheiro será gerido por fundos de capital de risco. O objectivo é apoiar projectos empresariais em co-investimento, em que por cada euro de bolsos privados há uma participação pública.
No Portugal Tech I foram mobilizados 273 milhões de euros, num rácio em que cada euro de financiamento nacional gerou cerca de cinco euros de investimento. “Fomos surpreendidos com o volume de investimento privado, que superou as nossas estimativas iniciais”, declarou o ministro da Economia, Siza Vieira, no lançamento do Portugal Tech II, apresentado na Web Summit, que voltou às edições presenciais no Parque das Nações, em Lisboa.
A segunda vaga de apoios contará com 50 milhões de Portugal, representado nesta operação pelo Banco Português de Fomento, e 50 milhões do Fundo Europeu de Investimento (FEI), do grupo BEI. A componente nacional virá do Fundo de Capitalização que Portugal criou com dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Mourinho Félix, ex-secretário de Estado adjunto e das Finanças com Mário Centeno e actual vice-presidente do BEI, destacou o papel de investidor contracíclico do BEI, sobretudo no apoio às empresas mais pequenas. “Isto é crítico para a recuperação económica”, sublinhou, porque é nos momentos de crise que se deve manter o apoio à inovação.
Tal como no passado, vão ser escolhidos fundos de capital de risco geridos por equipas privadas portuguesas. Na edição de 2018, estiveram envolvidos alguns fundos importantes como Indico Capital Partners, Armilar Venture Partners e Faber Capital. O dinheiro público e privado chegou a 30 startups, de diferentes sectores de actividade, desde a inteligência artificial à restauração, da saúde à gestão de infra-estruturas. Entre os apoiados estão Bizay, Sword Health, Tonic App, iLof, Unbabel, Infraspeak, Casafari, Anchorage, Student Finance, Barkyn, Findster, Codacy, Raws, Ydata e Eattasty.
As candidaturas ao Portugal Tech II devem ser apresentadas online (aqui). “O primeiro fundo a ser investido pelo programa deverá ser anunciado em 2022”, anunciou o Banco de Fomento em comunicado. Os investimentos aprovados serão concretizados através de capital (equity) e não por instrumentos de dívida (crédito).
A capitalização é uma questão-chave para o mercado nacional, onde as empresas, em particular as de pequena e média dimensão, pagam mais do que as suas concorrentes europeias para se financiarem.
O hiato de financiamento, segundo dados do Banco Central Europeu, agravou-se para Portugal, onde as empresas pagam mais 380 milhões de euros, quase 69% mais do que as dos restantes países da zona euro, quando tentam financiar-se na banca. A diferença na taxa de juro média, entre 2016 e 2019, foi de 110 pontos-base (1,1 pontos percentuais), segundo dados do BCE. Um “peso” que nada tem que ver com a pandemia.
O recurso ao capital de risco, para suprir as falhas de mercado, tem vindo a crescer. Em 2021, subiu 159% comparado com 202o, para 847 milhões de euros desde o início do ano. É um salto enorme que não tem que ver com a pandemia. Até porque em 2020, com 327 milhões investidos, também tinha havido crescimento face a 2019, que fechara com 155 milhões de capital de risco para empresas emergentes.
No entanto, o volume de financiamento por esta via continua muito distante, numa base per capita, dos líderes europeus Alemanha e França. O rácio português é de 82,4 euros por habitante, quando França atinge 122 euros e Alemanha quase 141 euros por cabeça.
O atraso português torna-se ainda mais uma prioridade quando se tem em conta que a Europa até é o continente com mais startups mas que perde em todos os indicadores relativos face aos EUA, Israel ou Singapura, como de manhã salientou o secretário de Estado da Transformação Digital. André Azevedo foi à Web Summit anunciar as novidades da estratégia de Portugal para as startups, como um programa de e-residências para apoiar a internacionalização. Esta medida facilitará operações nacionais a empresários residentes no exterior, inspirando-se no modelo da Estónia.
Já as medidas fiscais para startups propostas no Orçamento do Estado para 2022 ficaram em banho-maria. O Governo queria mudar a tributação sobre as chamadas “stock options” (pagamentos via opções de compra de acções) e queria também cortar no IRC das startups nos primeiros cinco anos. Mas dada a rejeição da proposta orçamental no Parlamento, vai ser preciso esperar por 2022 para confirmar se Portugal vai ou não oferecer cortes fiscais às tecnológicas emergentes.