Lucro do BPI quase triplicou para 242 milhões até Setembro

Banco diz estar tranquilo com o fim das moratórias, garantindo que 97,5% desse crédito “está em situação regular”, mas admite que em relação ao futuro “a palavra de ordem é prudência”.

Foto
João Pedro Oliveiro e Costa, presidente executivo do BPI, mostra-se cauteloso em relação ao futuro LUSA/MANUEL DE ALMEIDA

O Banco BPI registou um resultado consolidado de 242 milhões de euros até final de Setembro, montante que representa praticamente o triplo face aos 86 milhões de euros registados em igual período de 2020.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

O Banco BPI registou um resultado consolidado de 242 milhões de euros até final de Setembro, montante que representa praticamente o triplo face aos 86 milhões de euros registados em igual período de 2020.

Para o lucro total contribuíram os resultados da actividade nacional, que ascenderam a 137 milhões de euros, contra 47 milhões de euros no ano anterior; 100 milhões de euros referentes à participação no Banco de Fomento Angola; e 14 milhões de euros do BCI, em Moçambique.

A par do crescimento dos resultados, o presidente executivo (CEO) do BPI, João Pedro Oliveira e Costa destacou “a solidez” de outros indicadores, nomeadamente a qualidade do crédito, em especial o que esteve abrangido pelas moratórias que terminaram a 30 de Setembro. Sobre este aspecto garantiu que “97,5% do crédito das moratórias está actualmente em situação regular”.

Relativamente ao montante de crédito que necessitou de ser reestruturado, o CEO do BPI referiu que se limita “a algumas dezenas de milhões de euros”, que estão integralmente “cobertas pelas imparidades constituídas”, números que ficam “muito longe dos cenários catastrofistas de muitos economistas e agências de rating”. Em moratória, relativamente a adesões mais tardias, o BPI diz manter apenas 100 milhões de euros.

Ainda sobre o fim das moratórias e ao recurso à linha de garantia pública criada pelo Governo para apoiar reestruturações de crédito das empresas, João Oliveira e Costa garantiu que “é baixíssimo”, envolvendo “valores insignificantes”. 

"Prudência” em relação ao futuro

Apesar da evolução favorável dos principais indicadores de actividade, o CEO do BPI prefere adoptar uma posição de “prudência” em relação ao futuro, por considerar que “há algumas nuvens no horizonte”, devido a algum crescimento da inflação, ao aumento dos preços de energia, a problemas na cadeia de transportes/logística, e outras questões internacionais relativamente à China e aos Estados Unidos.

E é por “prudência” que o responsável admite que, nos tempos mais próximos, “dificilmente ocorrerá a reversão de imparidades constituídas” para fazer face ao impacto da pandemia de covid-19, defendendo que “o banco vai manter essa almofada por mais algum tempo”.

De acordo com dados revelados, o crédito improdutivo ou non-performing loans (NPL), caiu de 2,3% para 1,8% da carteira total, apesar das moratórias, estando coberto em 90% por imparidades e em 155% se forem considerados as garantias ou colaterais, o que mostra, segundo a instituição, “a protecção do balanço”.

Face a igual período do ano passado, crédito aumentou 7,5%, com o crédito à habitação a crescer 8%, e os recursos totais de clientes 9,2%. Os proveitos aumentaram 10,2%, com destaque para as comissões, que cresceram 15,7%, e a margem financeira 2,8%.

No final do terceiro trimestre, o BPI, que é controlado pelo grupo espanhol Caixabank, tinha 757 mil clientes digitais, dos quais 519 mil com a BPI app. A crescente digitalização explica parte dos 47 balcões encerrados este ano, e uma redução de 84 postos de trabalho líquidos. Para este número, relativamente reduzido face a outros bancos nacionais, contribuiu a internalizaram de vários serviços prestados por entidades externas.

Contributo do BFA aumentou

Numa sessão de apresentação de resultados que ficou marcada por algumas críticas à diferenciação fiscal do sector (como é o caso da contribuição extraordinária sobre a actividade bancária), de rentabilidade muito baixas (em parte explicada pelas taxas negativas no crédito à habitação) e à abertura da actividade a outros operadores, entre outros factores negativos, o presidente do BPI não escondeu algum desconforto pela pressão do Banco Central Europeu (BCE) para que o instituição saia do angolano BFA, onde detém 48,1% do capital.

“Não diminuiu a pressão do supervisor europeu para diminuir a nossa posição”, afirmou João Oliveira e Costa, acrescentando que “não há novidades sobre essa matéria”, mas que há “um grande trabalho de casa” relativamente a essa instituição.

Desse “trabalho de casa” destaca-se a contribuição para os lucros consolidados do BPI de 100 milhões de euros do BFA (contra 31 milhões de euros em igual período de 2020), o que inclui 40 milhões de euros relativos ao dividendo de 2020 e 50 milhões de euros relativos a distribuição de reservas livres.

Questionado sobre as consequências da crise política nacional, desencadeada pelo chumbo do Orçamento do Estado para 2022, o presidente do BPI começou por dizer que não tinha “jeito nenhum para questões de política”, mas acabou por admitir que “a duração” e “o impacto que pode ter ao nível da confiança das pessoas” são questões importantes, a que o banco vai estar atento.