Professores, por que devemos manter a greve?
As reivindicações, que a imprensa gosta de apelidar como sendo dos professores, são na realidade da escola pública e em que os primeiros interessados em resolvê-las deveriam ser os próprios pais.
O Orçamento do Estado foi chumbado no Parlamento e logo aí começaram os zunzuns de bastidores a pedirem a desmarcação da greve, pois o Governo seria dissolvido e deixaríamos de ter com quem reivindicar. Discordo e explicarei porquê.
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O Orçamento do Estado foi chumbado no Parlamento e logo aí começaram os zunzuns de bastidores a pedirem a desmarcação da greve, pois o Governo seria dissolvido e deixaríamos de ter com quem reivindicar. Discordo e explicarei porquê.
As reivindicações dos professores não são ocasionais nem temporais, não se referem a pequenas situações pontuais, mas sim a questões sistémicas que são verdadeiros entraves ao saudável funcionamento da Escola Pública com repercussões óbvias no desenvolvimento das aprendizagens dos alunos. As reivindicações, que a imprensa gosta de apelidar como sendo dos professores, são na realidade da escola pública e em que os primeiros interessados em resolvê-las deveriam ser os próprios pais, pois a investigação científica indica-nos que qualquer profissional que se sinta reconhecido e valorizado produzirá mais e melhor e isto terá necessariamente resultados nos alunos.
Achar e considerar que a reivindicação dos professores apenas a eles beneficia é talvez ser-se um pouco descuidado na análise. Bem sei que essa narrativa é a que mais interessa aos governos e a alguma imprensa, mas na realidade o que todos desejamos é uma efectiva melhoria no sistema educativo e claro está só se consegue com uma efectiva melhoria nas condições de trabalho dos principais agentes educativos. Não nos iludamos, não há milhões lançados para cima da educação que corrijam ou melhorem seja o que for sem que antes se resolvam as questões relacionadas com a profissão docente.
O que os professore reivindicam e exigem é respeito. E mesmo que pareça um chavão vago, na realidade será a base para qualquer reforma ou negociação. Sem que haja respeito entre as partes jamais se conseguirá resolver o que deteriora de dia para dia o sistema educativo.
A greve deve-se manter, a de 5 e a de 12 para mostrar que estamos vivos e queremos uma efectiva melhoria nas nossas condições de trabalho. Bem sei que a narrativa recorrente é a de que somos muitos profissionais e que as nossas reivindicações são uma enorme despesa. Não abdicando da admiração por afirmações deste tipo virem de um Governo de esquerda, não posso deixar de afirmar que a mão-de-obra, ainda para mais de professores, não deve ser vista como despesa mas sim como investimento. Creio que esta forma errática de ver a situação é o que tem dificultado as negociações há anos.
Reivindicar não pode estar dependente da aprovação de um orçamento, reivindicar só pode estar dependente de vermos ou não satisfeitas essas mesmas reivindicações. É por isso que acredito que não fará sentido desconvocar a greve pois seria sinal de que as nossas reivindicações estão a ser acauteladas. Não, não estão! Com a greve fica o aviso á navegação. Não iremos baixar a guarda, não iremos abdicar daquilo que são os nossos direitos, independentemente do governo subsequente. Pretendemos fim das vagas de acesso ao 5.º e 7.º escalões e recuperação integral do tempo de serviço. Pretendemos um regime de aposentação especial e viabilização da pré-reforma com salários justos; pretendemos a recuperação dos mais de 6 anos de tempo de serviço prestado. Aqui não posso deixar de relembrar a indecência com que o actual Governo nos tratou. Por outro lado, enaltecer as boas intenções de Rui Rio em devolver todo o tempo de serviço, mesmo que faseado e usando o cálculo da reforma.
Exigimos concursos justos, por graduação, e diminuição dos e diminuição territorial dos Quadros de Zona Pedagógica; exigimos tratamento igual, para professores com tempo de serviço igual, escalão igual e salário igual; queremos a redução da componente lectiva por idade para a componente individual de trabalho e respeito pelas 35 horas semanais de trabalho; pretendemos um subsídio de deslocação/alojamento e dedução das despesas em sede de IRS; pretendemos um ajuste salarial equivalente ao progresso do salário mínimo.
Não se iludam. Sem professores não há Educação! Os cursos de formação inicial estão vazios, os incentivos são zero. Valorizando, satisfazendo as reivindicações inteiramente justas da classe, terá o efeito de captar através de uma carreira atractiva e bem remunerada os melhores profissionais, os mais motivados estudantes e fazer com que os actuais não desistam assim que percebam que a carreira é uma farsa. Que foram enganados por um Estado que tudo pede e pouco dá! Haja coragem! Mantenhamos a greve!