A saúde mental infantil e a sua importância em tempos de pandemia
Não existem pais perfeitos e a parentalidade é um caminho a percorrer, com muitos desafios, que se revelam uma aprendizagem constante, num processo de autoconhecimento.
Os números não mentem…
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Os números não mentem…
De acordo com dados do Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, de Março deste ano, o número de crianças e jovens que chegaram à urgência e que tiveram contacto com a pedopsiquiatria, com problemas de ansiedade e humor, aumentou quase 50% no início de 2021, em comparação com os dois primeiros meses do ano passado. A nível global, segundo as últimas estimativas disponíveis da Unicef, calcula-se que mais de um em cada sete meninos e meninas com idade entre os 10 e 19 anos viva com algum transtorno mental diagnosticado.
A saúde mental dos bebés refere-se à capacidade que uma criança entre os 0 e os 3 anos tem para:
- Criar relações próximas com o outro;
- Conseguir expressar as suas emoções;
- Explorar e aprender com o meio onde está inserida.
Os bebés nascem com o cérebro programado para a relação com o outro, somos seres sociais desde o primeiro minuto de gestação. E, por isso, a forma como o cérebro é moldado durante os primeiros anos depende em grande parte da relação que o bebé estabelece com os seus pais.
O cérebro da criança, essencialmente entre os 0 e os 3 anos, tem um potencial inigualável! Faz cerca de um milhão de sinapses por segundo e a taxa de crescimento da rede neuronal é gigante. O conhecimento da ciência acerca dos neurónios espelho permite-nos perceber que é a forma como agimos e interagimos com as nossas crianças que determina grande parte do seu comportamento. A responsabilidade, especialmente dos pais e dos cuidadores mais próximos que interagem diariamente com a criança, é realmente grande e são as pequenas interacções do quotidiano que fazem maior diferença no seu crescimento e desenvolvimento pessoal, portanto na sua saúde mental.
Relações de dar e receber
Os bebés estão constantemente a explorar o meio para perceber como tudo funciona! Quando fazem isto, não só lhes interessa compreender a mecânica e a física dos objectos, mas também estão sedentos para conhecer as relações interpessoais até então estabelecidas. Isto é, se o bebé atira uma bola à mãe, espera que esta lhe responda e lhe atire a bola. Quando o bebé emite um som, um sorriso, um olhar, ou até quando estende os braços na sua direcção, espera uma resposta da mãe, seja ela qual for. Quando a mãe lhe responde positivamente e atende às suas necessidades, o bebé desenvolve apego, segurança e confiança na mãe enquanto sua cuidadora.
Ser suficientemente bom
Não existem pais perfeitos e a parentalidade é um caminho a percorrer, com muitos desafios, que se revelam uma aprendizagem constante, num processo de autoconhecimento. O importante é ser consistente e previsível nas respostas dadas ao bebé, possibilitar-lhe o máximo de interacção “dar-receber” e encontrar formas de se reconectarem quando as coisas não correm tão bem. E quando conseguimos ser consistentes e previsíveis na relação com o bebé isso já é meio caminho andado! As crianças não precisam de pais perfeitos, apenas de pais suficientemente bons.
O bem-estar emocional dos pais
Desculpe-se por qualquer atitude ou comportamento menos acertado e cuide de si todos os dias. Isto é, reserve um momento do dia para fazer algo que lhe faça bem — tomar um banho prolongado, desfrutar de um chá, dar uma corrida, tomar um café com um amigo, etc.. Procure uma rede de apoio, entre familiares e/ou amigos, pois a parentalidade é um grande desafio, difícil de ultrapassar quando estamos sós. Não sinta necessidade de assumir desafios extra ou ser altamente produtivo, respeite o seu tempo e o seu momento. E se sentir que precisa de ajuda para ultrapassar este momento de forma positiva, não hesite em procurar um especialista de saúde mental. Não se esqueça que um bebé mentalmente saudável precisa de pais emocionalmente estáveis.
Nascer e viver em tempos de pandemia
Aos desafios “normais” da parentalidade acrescem um conjunto de factores que colocam em risco a saúde mental dos pais e do bebé por causa da pandemia de covid-19. Ainda que os tempos exijam uma redução nas relações sociais, os pais devem procurar estabelecer uma boa interacção com o bebé, sempre responsiva, que lhe irá permitir um dia mais tarde criar relações próximas com o outro.
Acolha-o sempre no seu colo! O bebé também sente a angústia e o medo advindos da pandemia. Demonstre-lhe que tem em si um cuidador e que consigo irá encontrar sempre a segurança necessária para continuar a explorar o mundo. Permita-lhe que expresse as suas emoções, adopte uma postura empática que possibilite a sua compreensão e não deixe o bebé sem uma resposta. Abuse nos abraços e nos miminhos, que acalmam a dor e a ansiedade.
A pandemia fez com que muitos bebés assistissem a momentos de stress e angústia por parte dos seus cuidadores. Apesar de adultos, os pais também ficam tristes, ansiosos, sentem-se sós e por vezes perdidos. Os bebés conseguem perceber esta vulnerabilidade e demonstram-no através de comportamentos instáveis, sinais de angústia, sonos mais agitados, etc..
Além disso, os bebés nascidos na pandemia vêem os rostos dos seus cuidadores permanentemente tapados por máscaras. Sabemos que os bebés aprendem muito sobre o mundo e as relações interpessoais através das expressões faciais, uma vez que é através delas que percebem a resposta do outro ao seu comportamento.
O bebé conseguir observar a resposta à sua expressão facial no outro é fundamental para o seu desenvolvimento cerebral. Isto é, quando o bebé se ri para alguém, espera um sorriso de volta. A utilização da máscara impossibilita esta troca de expressões, a interacção com o outro. No entanto, a sua utilização é indispensável nos tempos que correm. Assim, com o objectivo de favorecer a troca de expressões faciais, aconselhamos a utilização de uma máscara cirúrgica totalmente transparente, devidamente certificada pelas entidades competentes, que permita a visibilidade completa do rosto.
Por fim, cuide de si. Preocupe-se com o seu bem-estar mental, não seja demasiado exigente consigo mesmo e lembre-se que o bebé precisa de pais emocionalmente fortes para crescer e se desenvolver de forma saudável. Sempre que necessitar, consulte um especialista em saúde mental.
O que pode fazer para beneficiar a saúde mental do seu bebé em plena pandemia?
- Se se sentir ansioso ou deprimido, procure ajuda de um especialista. O seu bebé sente o seu stress. A saúde mental e o bem-estar emocional do bebé e dos pais estão directamente ligados.
- Brincar, cantar e ler para o bebé irá fazê-lo sentir-se amado e seguro. Ouvir a voz calminha dos pais e sentir o seu toque irá tranquilizá-lo.
- Rotinas adequadas à idade do bebé dão-lhe uma sensação de conforto e segurança.
- Faça exercícios de relaxamento e concentração. Procure, por alguns momentos, focar-se no presente — nos seus pensamentos, sentimentos e sensações corporais. Ao focar-se no presente estará a evitar voltar ao passado ou imaginar o futuro.
- Mantenha-se calmo, mesmo quando tudo parece um caos. Ajude o bebé a regular as suas emoções.