Alterações climáticas: os números que falam
Degelo, desflorestação, aumento da temperatura, emissões galopantes de CO2, o nível do mar que sobe. Há um clima que muda e as alterações são medidas em graus, milímetros, toneladas, partes por milhão. Estes são os grandes números que nos ajudam a perceber o que já mudou - e quanto. Ainda vamos a tempo?
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Emissões globais de CO2
36.441 MtCO₂ (toneladas métricas) em 2019.
Em média, 1075 toneladas de dióxido de carbono (CO2) são lançadas na atmosfera a cada segundo. China, EUA e Índia são os principais emissores.
O projecto Atlas Global do Carbono, formado por dezenas de cientistas internacionais, refere que o mundo terá lançado 34 mil milhões de toneladas de CO2 para a atmosfera em 2020, contra 36,4 mil milhões de toneladas em 2019.
Embora as emissões tenham caído cerca de 7% a nível global em 2020 - uma descida recorde motivada pelos confinamentos devido à pandemia da covid-19 -, no final do ano os valores já estavam a aumentar e a caminho de ultrapassar os níveis de 2019 em algumas zonas do mundo.
Segundo os cientistas, a redução histórica deve-se sobretudo ao corte abrupto nas viagens de automóvel e de avião. O transporte terrestre representa cerca de um quinto das emissões de dióxido de carbono, provenientes da combustão de combustíveis fósseis, principais responsáveis pelo aquecimento global que dá origem a alterações climáticas.
De acordo com o Atlas Global do Carbono, China, EUA e Índia ocupam desde 2009 o lugar de principais emissores de CO2 a nível global.
Em 2021, as previsões não são optimistas. As emissões de dióxido de carbono devem registar o segundo maior aumento anual da história, à medida que as economias globais retomam a sua actividade e continuam a investir em combustíveis fósseis para recuperar da crise deixada pela pandemia. A previsão está no relatório anual Global Energy Review 2021, da Agência Internacional de Energia, e explica que essa é a estratégia de muitas economias mundiais, principalmente no continente asiático, para responderem à recessão económica pós-pandemia.
Desflorestação/Cobertura arbórea
- 25,8 Milhões de hectares em 2020
A cada segundo, 8 mil m2 de cobertura arbórea são perdidos. Algo como um campo de futebol por segundo.
De acordo com o Global Forest Watch, 411 milhões de hectares – uma área maior do que a Índia – de cobertura arbórea foram perdidos entre 2001 e 2020, quer por acção humana quer por causas naturais. Em período semelhante, perderam-se 64,7 milhões de hectares de florestas primárias húmidas, o equivalente à área de França.
Se olharmos só para 2020, nesse ano o planeta perdeu 25,8 milhões de hectares de floresta, o equivalente a 35 milhões de campos de futebol. Quase metade desse valor diz respeito aos trópicos, onde se encontram os ecossistemas mais diversos do planeta, e que têm um papel vital contra as alterações climáticas, tanto pelo carbono que absorvem como pelo que armazenam.
Dos 24 “pontos quentes” da desflorestação, nove encontram-se na América latina, oito em África e sete na zona da Ásia-Pacífico.
A desflorestação continua a ser uma questão fundamental para o equilíbrio do planeta: as florestas são o habitat de 75% das espécies de aves e de 68% das espécies dos mamíferos. A desflorestação de florestas tropicais é responsável por cerca de 8% das emissões globais de CO2, de acordo com o World Resources Institute.
A Global Forest Watch obtém as suas estimativas de perda de cobertura de árvores a partir de imagens dos satélites Landsat produzidas pela Universidade de Maryland, Google, NASA e Serviços Geológicos dos EUA. “Cobertura de árvores” é uma categoria maior do que “desflorestação” porque inclui perdas tanto de florestas naturais como de florestas dependentes de intervenção humana.
Degelo no Árctico
-13% por década
O Árctico está a aquecer muito mais depressa do que o resto da Terra. Entre 1979 e 2020 perdeu o equivalente a seis vezes o tamanho da Alemanha.
Nos últimos 30 anos, o gelo marinho do Árctico diminuiu continuamente em extensão, mas também em espessura - e a um ritmo alarmante. Desde 1979, a cobertura de gelo verificada a cada mês de Setembro - altura em que se regista a sua extensão mínima – reduziu-se 13% por década, de acordo com a NASA, com mínimos recordes nos últimos dois anos. Entre 1979 e 2020 perdeu o equivalente a seis vezes o tamanho da Alemanha, de acordo com o Serviço de Monitorização do Meio Marinho do programa Copernicus. As consequências? O degelo no oceano e o do permafrost (solo permanentemente congelado) estão a libertar grandes quantidades de metano, acelerando ainda mais o aquecimento global, enquanto a subida do nível do mar está a ameaçar cada vez mais as comunidades costeiras em todo o mundo.
Temperatura média global
+ 1,02 graus Celsius
2020 empatou com 2016 como o ano mais quente do mundo desde 1880. Os sete anos mais quentes ocorreram todos desde 2014.
A temperatura da Terra tem vindo a aumentar, mas os últimos cinco anos foram os mais quentes desde que há registos. O ano de 2020 foi o mais quente da história na Europa e a nível mundial praticamente igualou o recorde de 2016 (com uma diferença de apenas 0,02 graus Celsius). Em 2020, a temperatura média global foi cerca de 1,02 graus Celsius mais quente do que a média de 1951-1980, de acordo com cientistas do Goddard Institute for Space Studies (GISS) da NASA.
Para calcular a temperatura média global, os cientistas fazem medições em vários locais do planeta. Como o objectivo é rastrear as mudanças de temperatura, as medições de temperatura absoluta são convertidas em anomalias de temperatura. O termo “anomalia de temperatura” significa um desvio face a um valor de referência ou à média de longo prazo. Uma anomalia positiva indica que a temperatura observada foi mais alta do que o valor de referência, enquanto uma anomalia negativa indica que a temperatura registada foi mais baixa. Nos últimos 30 anos, as anomalias mensais foram sempre superiores à média do século XX.
Concentração de dióxido de carbono (C02)
414 partes por milhão na atmosfera (ppm)
Os valores de CO2 na atmosfera têm vindo sempre a aumentar, e cada vez mais rapidamente.
Para percebermos a concentração de CO2 - o principal gás com efeito de estufa - temos como referência a curva de Keeling. Em 1958, o químico norte-americano Charles Keeling procurou medir de forma rigorosa a quantidade de dióxido de carbono na atmosfera por se suspeitar que a concentração de CO2 estava a aumentar devido à queima de combustíveis fósseis. As medições eram então insuficientes. Foram então colocados aparelhos de medição no topo do vulcão Mauna Loa (Havai) e também na Antárctida. Desde aí, a curva de Keeling tem estado imparável.
E, de acordo com a agência dos EUA para a atmosfera e o oceano (NOAA, na sigla em inglês), a velocidade média de aumento é a mais rápida de sempre. Em Setembro de 2021, a NOAA avançou que a concentração média de CO2 foi de 416,87 partes por milhão (ppm). Esta quantidade é quase 50% superior ao nível estável da era pré-industrial, quando se situava nas 280 ppm.
Como o dióxido de carbono permanece na atmosfera por muito tempo, as emissões acumulam-se anualmente e fazem com que a quantidade de CO2 atmosférico continue a crescer. É por essa razão que a redução de emissões em 2020 não significará uma redução de concentrações de dióxido de carbono na atmosfera porque resultam de emissões acumuladas deste ano e dos anos anteriores. Para conter este cenário, as Nações Unidas esperam que os países signatários do Acordo de Paris diminuam as emissões de CO2 de sectores como energia, alimentação, transporte e indústria em 7% a cada ano na próxima década. A meta é manter o aquecimento global bem abaixo dos dois graus Celsius - e tentar que este aumento não seja superior a 1,5 graus até ao final do século – em relação aos níveis pré-industriais.
Nível médio do mar
+3.4 mm por ano
Nível do mar pode subir 40 cm até 2100. E este é o melhor dos cenários.
O nível dos oceanos continua a subir, a um ritmo de cerca de três milímetros por ano devido ao aquecimento global e ao derretimento do gelo na Terra, de acordo com o Serviço de Monitorização do Meio Marinho do programa Copernicus. A combinação destes factores pode causar “eventos extremos” em áreas mais vulneráveis, como Veneza, onde em 2019 uma subida do nível das águas fora do comum, uma forte maré e condições meteorológicas extremas na região provocaram a chamada “Acqua Alta” - quando o nível da água subiu para um máximo de 1,89 metros.
Num cenário em que o aumento médio da temperatura global do planeta à superfície ronde os 1,6 graus Celsius (o melhor cenário), o nível médio do mar deverá subir entre 39 e 43 centímetros até 2100. Milhões de pessoas na África subsariana, América latina e no Sudoeste asiático terão de abandonar as suas casas, tal como as populações das regiões costeiras e ilhas que irão desaparecer devido ao aumento do nível das águas do mar.