Sete mortos em confrontos durante os protestos no Sudão
Milhares de pessoas saíram às ruas para se manifestarem contra o golpe contra o governo civil. EUA vão congelar pacote de apoio financeiro.
Pelo menos sete pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas durante os confrontos no Sudão, na sequência dos protestos contra o golpe que derrubou o governo interino civil na segunda-feira.
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Pelo menos sete pessoas morreram e mais de cem ficaram feridas durante os confrontos no Sudão, na sequência dos protestos contra o golpe que derrubou o governo interino civil na segunda-feira.
Milhares de pessoas acederam aos pedidos dos líderes civis que foram detidos ao início do dia pelos militares e saíram às ruas para mostrar o seu descontentamento. As principais manifestações ocorreram na capital, Cartum, em torno do principal quartel do Exército, e na sua cidade gémea Omdurman. Os funcionários do Banco Central declararam uma greve como forma de protesto.
Os manifestantes ergueram barricadas nas ruas das cidades e entraram em confronto com as forças de segurança, apesar dos apelos para que os protestos decorressem de forma pacífica. Morreram sete pessoas e 140 ficaram feridas, de acordo com a Al-Jazeera.
Na segunda-feira, o Exército prendeu o primeiro-ministro Abdalla Hamdok e outros dirigentes civis do Conselho Soberano, o órgão executivo que funcionava como governo interino há mais de dois anos desde o derrube do ditador Omar al-Bashir. Há muito que eram notórias as divergências entre o sector civil e militar do conselho.
O líder militar do Conselho Soberano, o general Abdel Fattah al-Burhan, anunciou a extinção do órgão e a transferência do poder para o Exército, com a justificação de querer pôr fim à instabilidade no país, e prometeu eleições para Julho de 2023. A Internet foi bloqueada e assim continua esta terça-feira, e a generalidade das comunicações móveis apresenta fortes limitações, diz a Reuters.
As acções do Exército foram amplamente condenadas a nível internacional. Os governos que compõem a chamada troika de apoio à democratização do Sudão (EUA, Reino Unido e Noruega) emitiram um comunicado em que manifestam preocupação com o derrube do governo interino. “As acções dos militares representam uma traição da revolução, da transição e das exigências legítimas do povo sudanês de paz, justiça e desenvolvimento económico”, afirmam os três governos.
Também a União Africana, a Liga Árabe e a União Europeia condenaram o golpe. O Conselho de Segurança da ONU vai reunir de emergência esta terça-feira para debater o tema, segundo diplomatas citados pelas agências noticiosas.
O Departamento de Estado dos EUA informou que vai suspender o programa de apoio económico ao Sudão no valor de 700 milhões de dólares (603 milhões de euros).
Apesar da turbulência política dos últimos tempos, associada a uma grave crise económica, o Sudão atravessava um período de optimismo depois do derrube de Bashir, que havia governado o país durante três décadas. Durante esse período, o Sudão tornou-se um pária internacional, sobretudo por causa do papel de Bashir no apoio velado a redes terroristas internacionais como a Al-Qaeda – Osama bin-Laden viveu no país durante os anos 1990.