De Coimbra a Alcobaça, Isabel Stilwell conta-nos a vida de Inês de Castro
A história de Inês de Castro, amante apaixonada de D. Pedro e rainha depois de morta, é conhecida de todos. Mas, por detrás da lenda, havia uma mulher influente e que foi espia de Castela. O lançamento do novo livro da autora é na quinta-feira, em Lisboa.
O amor de Pedro e Inês foi cantado por muitos poetas, como Luís de Camões, que em Os Lusíadas, ligou, para sempre, o casal à Fonte dos Amores, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra: “E, por memória eterna, em fonte pura/ As lágrimas choradas transformaram;/ O nome lhe puseram, que inda dura,/ Dos amores de Inês que ali passaram.”
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O amor de Pedro e Inês foi cantado por muitos poetas, como Luís de Camões, que em Os Lusíadas, ligou, para sempre, o casal à Fonte dos Amores, na Quinta das Lágrimas, em Coimbra: “E, por memória eterna, em fonte pura/ As lágrimas choradas transformaram;/ O nome lhe puseram, que inda dura,/ Dos amores de Inês que ali passaram.”
A Quinta das Lágrimas, conhecida por ter sido nos seus jardins que o casal se encontrava e, mais tarde, onde Inês terá sido morta, é ainda hoje ponto de romagem que atrai os mais curiosos e também as visitas de estudo das escolas. Mas, a verdade é que ninguém sabe ao certo se o casal realmente lá esteve. Quem o diz é Isabel Stilwell, jornalista e autora, cujo seu novo romance histórico, Inês de Castro - Espia, amante, rainha de Portugal, está à venda a partir desta terça-feira. O lançamento será na quinta-feira, no Museu Militar, em Lisboa.
Apesar de ser uma das figuras mais conhecidas da História de Portugal, pouco ou nada se escreveu acerca do seu passado. “Há muito pouca informação documental concreta, ela apenas surge nos holofotes dos cronistas da época a partir da relação com o infante dom Pedro e depois de morta”, explica a autora. É por esta razão que a também cronista do PÚBLICO prefere falar da “sua Inês” e explica: “Quando escrevo sobre alguém a 700 anos de distância, há uma lacuna de dados que me obriga a reconhecer que terá de ser sempre a minha Inês e não a verdadeira, porque essa ninguém realmente sabe quem foi, nem mesmo Luís de Camões.”
Para Isabel Stilwell, que sempre foi uma leitora ávida de romances históricos, é fundamental que estes consigam separar o verídico da suposição. “Um bom romance histórico é aquele que eu leio e saio de lá a aprender mais sobre a História, portanto eu tento sempre alertar o leitor para aquilo que é comprovadamente factos, teses minhas ou ficção plausível, sempre dentro dos limites do tempo e da época”, explica. É também por isso que no fim de cada obra desta autora há um capítulo intitulado Dramatis personae, que é “uma espécie de pacto com o leitor”, em que é apresentado um contexto e biografia histórica sobre cada personagem.
Mas, entre muitas dúvidas sobre o passado de Inês de Castro, há também algumas certezas. Uma delas é a de ter vivido, juntamente com o seu amado e os três filhos, no Paço da Rainha, adjacente ao Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, em Coimbra, onde estava também sepultada Isabel de Aragão, a Rainha Santa. Actualmente o mesmo espaço não só tem um museu e algumas ruínas abertas ao público, mas tem patente, até 2022, uma exposição dedicada à “rainha morta e outras personagens desencantadas”, da autoria do artista barroco António Saint Silvestre.
Terá sido igualmente em Santa Clara-a-Velha que aconteceu o verdadeiro assassinato de Inês, degolada a pedido do pai de D. Pedro, Afonso IV de Portugal. E isto trata-se de um facto que pode ser assumido como “quase garantido”, dado ser esse o episódio que ficou gravado na pedra dos túmulos do casal, que o infante mandou, refere a autora. Os túmulos podem ser visitados no Mosteiro de Alcobaça, para onde Inês foi transportada, em 1362, em cortejo fúnebre desde Coimbra e, finalmente, coroada rainha póstuma.
Contudo, nas mais de 400 páginas do seu livro, Isabel Stilwell não se limitou a contar a lenda associada à nobre galega, pois quis também apresentar uma outra faceta pouco explorada, a de mulher poderosa, influente e que chegou a ser uma ágil espia pelos interesses do poder castelhano. “Sempre houve aquela ideia das mulheres submissas, amorosas e sujeitas ao que um homem quer, mas também sabemos hoje que, no contexto da época, Inês não era caso único de amante. Durante a História foram várias as famílias nobres que plantaram mulheres bonitas [na corte] para seduzir homens poderosos, que acabavam por perder o controlo e ficar sobre a sua influência”, contextualiza.
À excepção do último livro, D.Manuel I - Duas Irmãs para um Rei —, Isabel Stilwell tem escrito sobretudo sobre rainhas porque ainda há muita coisa por descobrir sobre as mulheres mais marcantes da História de Portugal, que muitas vezes acabaram por ser relegadas para a sombra das figuras masculinas, defende. “Quando vamos estudar uma mulher, só encontramos informação dela porque é filha, mulher ou amante de alguém importante e, mesmo assim, permaneciam completamente nos bastidores. E, neste caso, não é tanto seguir aquela expressão de ‘por detrás de um homem há uma grande mulher’, mas sim reconhecer grandes mulheres que fizeram grandes feitos e dos quais sabemos tão pouco”, justifica.
Texto editado por Bárbara Wong