Estratégia da DGS para Outono e Inverno “é a possível”, dizem médicos de saúde pública

Associação de Médicos de Saúde Pública diz que o plano da Direcção-Geral da Saúde para a pandemia de covid-19 neste Outono e Inverno, com três cenários em cima da mesa, já devia ter sido divulgado mais cedo.

Foto
Rui Gaudencio

A estratégia das autoridades de saúde para responder à covid-19 neste Outono e Inverno é a “possível” face aos recursos existentes e deveria ter sido divulgada mais cedo, defendeu este sábado a Associação de Médicos de Saúde Pública.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A estratégia das autoridades de saúde para responder à covid-19 neste Outono e Inverno é a “possível” face aos recursos existentes e deveria ter sido divulgada mais cedo, defendeu este sábado a Associação de Médicos de Saúde Pública.

“Tendo em conta a realidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o esforço que já passou e as situações de ruptura em vários hospitais nos últimos tempos, eu penso que esta é a estratégia possível”, disse à Lusa o vice-presidente da associação, Gustavo Tato Borges.

Na sexta-feira, a Direção-Geral da Saúde (DGS) publicou o referencial para o Outono e Inverno, ou seja, as linhas orientadoras para as entidades do SNS de resposta à pandemia nos próximos meses, e que define como objectivo principal a minimização dos casos de doença grave e de mortalidade por covid-19.

Esta estratégia, que prevê três cenários de nível de gravidade da situação pandémica, pretende “garantir uma resposta eficiente e coordenada, ajustada à situação epidemiológica da infeção por SARS-CoV-2 e aos desafios adicionais do período outono/inverno, reduzindo o impacto na morbimortalidade na população em geral e nos grupos de risco”, avança o documento.

Para Gustavo Tato Borges, o referencial “deveria ser mais sucinto e focado naquelas que são as medidas específicas para combater” a pandemia nos próximos meses, lamentando também que tenha sido publicado “com a época de Outono em pleno”.

“Já deveria ter saído há mais de um mês para podermos estar completamente preparados”, alertou o médico, ao salientar que “convém ter tempo” para um hospital ou um centro de saúde se prepararem para uma eventual maior pressão dos seus serviços.

O especialista em saúde pública adiantou ainda que, a partir do momento que foram levantadas as restrições, o “peso da responsabilidade do controlo da pandemia passou também a ser muito de cada cidadão”.

“Não havendo nada de extraordinário, a nossa realidade poderá passar entre o cenário mais favorável e o intermédio, porque não há razão, neste momento, para antever uma situação de extrema gravidade” no Inverno, adiantou o vice-presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.

O cenário 1 previsto pela DGS assume que não existem alterações na eficácia da vacina contra a covid-19, nem o aparecimento de uma nova variante de preocupação nos próximos meses. Nesta situação, Portugal deverá registar uma incidência do vírus moderada, com reduzida mortalidade e ocupação de cuidados intensivos, sem pressão adicional sobre o sistema de saúde.

O cenário intermédio já prevê uma redução lenta da eficácia das vacinas, por diminuição da imunidade com o tempo, mas ainda sem o aparecimento de uma nova variante do vírus considerada de preocupação.

Nesse cenário 2 a incidência do SARS-CoV-2 será elevada, resultando numa ocupação moderada a elevada das unidades de cuidados intensivos e uma pressão ligeira a moderada no sistema de saúde.

De acordo com os pressupostos e estimativas calculadas pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), o limiar definido ao nível dos cuidados intensivos é ultrapassado na segunda quinzena de Janeiro.

Já no cenário considerado mais preocupante, o 3, está previsto o surgimento de uma nova variante com características que permitem a evasão do SARS-CoV-2 ao sistema imunitário, provocando uma redução rápida da eficácia da vacina, e um aumento da transmissibilidade do vírus e da gravidade da doença.

Neste caso, a incidência do SARS-CoV-2 será muito elevada, assim como a ocupação das unidades de cuidados intensivos dos hospitais portugueses, prevendo o INSA que o limiar seja ultrapassado mais cedo, na primeira quinzena de Janeiro.

Este cenário aponta ainda para uma mortalidade devido à covid-19 muito elevada e, de acordo com os cálculos do INSA, o limiar definido pode ser ultrapassado na segunda quinzena de Dezembro.

Em Portugal, desde Março de 2020, morreram 18.129 pessoas e foram contabilizados 1.084.534 casos de infeção, segundo dados da Direção-Geral da Saúde.