Salário de 700 euros leva técnicos do INEM a abandonar profissão e esse é um motivo para a greve desta sexta-feira

A revisão da carreira e a melhoria dos equipamentos e das condições de trabalho estão na origem do protesto que juntou à paralisação de 24 horas uma manifestação frente às instalações do INEM em Lisboa.

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Sindicato dos técnicos de emergência quer respostas do Ministério da Saúde Nuno Ferreira Santos

Os baixos salários e as “deprimentes condições de trabalho” têm resultado numa taxa de abandono que cresce sem que o INEM responda ou o Ministério da Saúde “assuma a responsabilidade tutelar do INEM”.

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Os baixos salários e as “deprimentes condições de trabalho” têm resultado numa taxa de abandono que cresce sem que o INEM responda ou o Ministério da Saúde “assuma a responsabilidade tutelar do INEM”.

O contexto, descrito por Rui Lázaro, que preside ao Sindicato dos Técnicos de Emergência Pré-Hospitalar, está na origem da greve desta sexta-feira que deixa o INEM (Instituto Nacional de Emergência Médica) com os 80% da actividade garantida pelos serviços mínimos durante 24 horas. O técnico de emergência pré-hospitalar fala em “condições deprimentes” para trabalhadores e utentes. 

Dos mais de 1500 funcionários do INEM, 900 são técnicos, explica. Em dia de greve, “com uma adesão elevada”, acrescenta, a actividade está garantida em 80% com 720 destes profissionais a assegurarem os serviços mínimos.

A greve começou à meia-noite de sexta-feira e termina 24 horas depois. “Vai haver demora nas respostas às chamadas de emergência, esperamos atrasos no socorro” às pessoas, diz.

Já o INEM diz que a adesão à greve era de 32%, ao meio-dia, “não se verificando perturbações significativas no funcionamento do sistema integrado de emergência médica”. Em respostas por email, o gabinete de comunicação do INEM disse ainda “assegurar que a actividade de assistência médica pré-hospitalar está garantida a todos os cidadãos que dela necessitarem”.

Urgência da situação

A greve foi a forma de demonstrar a urgência da situação dos próprios técnicos: os salários dos trabalhadores, que não assumem cargos de chefia, rondam os 700 euros brutos, num trabalho, sob pressão, que é preciso garantir 24 horas por dia, 365 dias por ano, em qualquer circunstância, diz Rui Lázaro. Os cerca de 900 técnicos têm duas funções e alternam entre o atendimento das chamadas de emergência e a prestação do socorro na rua.

Seja qual for a função, continua o líder do sindicato, é preciso ter técnicos de emergência pré-hospitalar com melhores condições de trabalho, e garantias de que os equipamentos serão renovados e a “envelhecida frota de ambulâncias” substituída e com viaturas mais bem apetrechadas.

Rui Lázaro alega que nada disto tem merecido a atenção devida, o que levou a taxa de abandono a ultrapassar os 30%. “Nos últimos três anos o INEM contratou mais de 300 trabalhadores e, no mesmo período, mais de 300 despediram-se”, disse Rui Lázaro por telefone, no fim da concentração de quase duas horas que reuniu entre 60 a 70 trabalhadores frente às instalações do INEM, em Lisboa

Quem protesta exige que se concretiza aquilo que foi acordado a 1 de Julho numa reunião com o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales. “Nessa reunião foram assumidos compromissos relativamente à revisão da carreira [dos técnicos] e a um investimento na melhoria dos equipamentos, sem o qual as condições de trabalho não podem melhorar.”

INEM promete “equilíbrios"

A carreira especial de técnico especializado de emergência pré-hospitalar prevê a aquisição de novas competências que assenta num modelo de formação de “elevada complexidade”, contrapõe o INEM. Nas respostas enviadas ao início da tarde, o gabinete de comunicação afirma que “o INEM vai continuar a trabalhar para optimizar a formação destes profissionais, procurando sempre o equilíbrio entre o desenvolvimento desta carreira e a necessidade de assegurar o funcionamento dos meios de emergência médica pré-hospitalar”.

A revisão das carreiras “não acontece de um dia para o outro”, admite Rui Lázaro, mas o mesmo não se pode dizer da aquisição dos monitores. “Isso pode resolver-se rapidamente”, insiste, e é um exemplo do que “pode fazer a diferença para salvar uma vida”, conclui.

Um caso, entre outros, ilustra o que diz o presidente do sindicato: “O INEM demorou seis anos a abrir concursos para substituir os monitores electrocardiógrafos, retirados em 2016 das ambulâncias para serem substituídos.” 

“Só depois da nossa manifestação de Abril deste ano, foi aberto o concurso” para aquisição desses monitores, diz, antes de explicar que estes aparelhos permitem realizar electrocardiogramas no local onde a pessoa é socorrida, o que ajuda a ter um diagnóstico precoce nalgumas situações e iniciar o tratamento ainda antes de a ambulância chegar ao hospital.

Confrontado com a alegada falta de equipamentos, o INEM disse que “vai receber, brevemente, 45 novas ambulâncias que vão igualmente permitir a melhoria das condições de trabalho” e informa que acabou de concluir um investimento superior a 600 mil euros na “aquisição de 60 monitores de sinais vitais” para assim “equipar as ambulâncias” do INEM. 

Também contactado pelo PÚBLICO, o Ministério da Saúde não respondeu até à hora de publicação desta notícia.

Notícia actualizada às 16h25 com as respostas do gabinete de comunicação do INEM