Pirandello: “Autor maior multímodo e versátil”

Uma obra colossal, ao coligir duas dezenas e meia de peças do autor.

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Um renovador e revolucionário da paisagem literária, sobretudo da teatral: Luigi Pirandello DR

Luigi Pirandello apresentava-se como “Filho do Caos”. Não alegoricamente, explicava o autor, mas de forma real. Pirandello nasceu “entre Agrigento e o Porto Empedocle” (p.17), como podemos ler na Biografia, sóbria mas informativa, que antecede esta magna selecção das suas peças teatrais. Em pleno coração da herança grega, portanto, na Sicília que retém os vestígios da civilização vizinha, e junto a um local que invoca o filósofo que se precipitou no Etna (Empédocles era natural de Agrigento, precisamente). E, no entanto, Pirandello foi, sobretudo, um moderno. Foi um moderno, sem hesitação. Um renovador e revolucionário da paisagem literária, sobretudo da teatral. O que não deve permitir que se esqueça o reaccionarismo (sem aspas) das suas opções políticas, que veio a repensar, ou mesmo renegar. A sua adesão ao fascismo — por via da recusa do parlamentarismo, como observou o escritor (comunista) Leonardo Sciascia — viria a conhecer uma inflexão decisiva, a partir, sobretudo, de início da década de 1930. Basta pensar nisto: quando foi galardoado com o Prémio Nobel, em 1934 (dois anos antes da sua morte), Pirandello não tinha um único representante do poder fascista à sua espera, no regresso da Suécia. E foi, muito provavelmente, para não ter de referir-se ao fascismo que o autor não pronunciou, como é da praxe, o seu discurso do Nobel. Além de escassas palavras de circunstância, como revela um biógrafo, pouco mais disse o premiado daquele ano de 1934. Há, por isso, um claro divórcio entre o vanguardismo (aqui talvez as aspas fizessem falta) da prática literária e o conservantismo cívico (e existencial?) de Pirandello. O paralelo óbvio, embora porventura não assaz exacto, é Ezra Pound — que, ao falar de Cocteau, chamou ao autor de Seis Personagens à Procura de Autor “o único competidor vivo” na “contribuição única para o teatro” (Selected Prose 1909-1965, Faber and Faber, 1973). Pode não parecer, mas era um elogio. Aliás, Pound, como se quisesse dissipar as dúvidas, acrescentava, linhas adiante: “Graças a Deus por ambos os autores, numa paisagem teatral, de outra forma, desolada.” Descontado o exagero paisagístico, a precisão do registo é real, pois vinca a importância crucial de Pirandello no desbravamento dos novos caminhos da literatura e do teatro modernos. “Autor maior multímodo e versátil” (p.15), conforme lhe chama a apresentação de Máscaras Nuas.

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Luigi Pirandello apresentava-se como “Filho do Caos”. Não alegoricamente, explicava o autor, mas de forma real. Pirandello nasceu “entre Agrigento e o Porto Empedocle” (p.17), como podemos ler na Biografia, sóbria mas informativa, que antecede esta magna selecção das suas peças teatrais. Em pleno coração da herança grega, portanto, na Sicília que retém os vestígios da civilização vizinha, e junto a um local que invoca o filósofo que se precipitou no Etna (Empédocles era natural de Agrigento, precisamente). E, no entanto, Pirandello foi, sobretudo, um moderno. Foi um moderno, sem hesitação. Um renovador e revolucionário da paisagem literária, sobretudo da teatral. O que não deve permitir que se esqueça o reaccionarismo (sem aspas) das suas opções políticas, que veio a repensar, ou mesmo renegar. A sua adesão ao fascismo — por via da recusa do parlamentarismo, como observou o escritor (comunista) Leonardo Sciascia — viria a conhecer uma inflexão decisiva, a partir, sobretudo, de início da década de 1930. Basta pensar nisto: quando foi galardoado com o Prémio Nobel, em 1934 (dois anos antes da sua morte), Pirandello não tinha um único representante do poder fascista à sua espera, no regresso da Suécia. E foi, muito provavelmente, para não ter de referir-se ao fascismo que o autor não pronunciou, como é da praxe, o seu discurso do Nobel. Além de escassas palavras de circunstância, como revela um biógrafo, pouco mais disse o premiado daquele ano de 1934. Há, por isso, um claro divórcio entre o vanguardismo (aqui talvez as aspas fizessem falta) da prática literária e o conservantismo cívico (e existencial?) de Pirandello. O paralelo óbvio, embora porventura não assaz exacto, é Ezra Pound — que, ao falar de Cocteau, chamou ao autor de Seis Personagens à Procura de Autor “o único competidor vivo” na “contribuição única para o teatro” (Selected Prose 1909-1965, Faber and Faber, 1973). Pode não parecer, mas era um elogio. Aliás, Pound, como se quisesse dissipar as dúvidas, acrescentava, linhas adiante: “Graças a Deus por ambos os autores, numa paisagem teatral, de outra forma, desolada.” Descontado o exagero paisagístico, a precisão do registo é real, pois vinca a importância crucial de Pirandello no desbravamento dos novos caminhos da literatura e do teatro modernos. “Autor maior multímodo e versátil” (p.15), conforme lhe chama a apresentação de Máscaras Nuas.