Teatro Romano dá a conhecer as suas muitas vidas com nova exposição
Há milhões de anos, o mar chegava até ao local onde está agora o Teatro Romano, pelo que outrora poderiam lá ser encontrados corais, raias e até mesmo tubarões.
A partir desta sexta-feira, às 18h, vai poder visitar a exposição O Museu antes de o ser, no Museu de Lisboa – Teatro Romano. Através de fotografias antigas, documentos oficiais e objectos encontrados em escavações, que até agora nunca tinham sido mostrados ao público, será possível conhecer as várias vidas que o museu já teve, desde celeiro público a fábrica de malas.
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A partir desta sexta-feira, às 18h, vai poder visitar a exposição O Museu antes de o ser, no Museu de Lisboa – Teatro Romano. Através de fotografias antigas, documentos oficiais e objectos encontrados em escavações, que até agora nunca tinham sido mostrados ao público, será possível conhecer as várias vidas que o museu já teve, desde celeiro público a fábrica de malas.
Lídia Fernandes, a arqueóloga coordenadora do museu, conta ao PÚBLICO que a ideia para esta exposição surgiu do desejo de toda a equipa em “mostrar muitos conteúdos que não ficaram contemplados na renovação do museu”, que decorreu entre 2013 e 2015. Revela ainda que quiseram dar destaque a “coisas mais curiosas e que geralmente não se expõem, ou porque não têm muito interesse, ou porque se encontram em mau estado”. Alguns exemplos de objectos que podem ser vistos são uma escova de dentes feita de osso, datada do final do século XIX, um tijolo com a marca da pata de um cão, de meados do século XVIII, e um alguidar romano que ficou totalmente destruído com o terramoto de 1755.
A exposição divide-se em quatro núcleos: o imóvel onde se encontra a recepção do museu e o terraço (I), o edifício sul que alberga a exposição de longa duração (II), o antigo pátio do museu (III) e o sítio arqueológico (IV). Em cada um destes espaços existe um painel de sala com informação geral e um totem (expositor), onde estão expostos objectos ilustrativos das diferentes vidas que por lá passaram. As peças do museu que já se encontravam em exibição foram marcadas com uma placa, que informa o visitante em que núcleo é que a mesma foi encontrada. Lídia Fernandes diz que as placas se vão manter mesmo depois da exposição temporária terminar porque são “uma mais-valia para compreender a história do local” onde agora se localiza o museu.
Através do estudo das camadas dos nove metros de escavação realizada no local do núcleo I, chegou-se à conclusão que já lá houve três casas, incluindo a de Urbano Torgo Rebelo, guarda do Teatro Romano entre a década de 60 e 90. Já no edifício sul chegou a funcionar uma fábrica de malas no século XX e, três séculos antes, o Celeiro da Mitra, que pertencia à Sé de Lisboa. No núcleo III, que antes das escavações era um pátio ajardinado, existiram uma modesta habitação islâmica, entre os séculos XI e XII, e uma encosta arborizada, com habitações e fornos cerâmicos, sendo essa a ocupação mais antiga (séculos IV e III a.C.) detectada neste espaço. No local onde agora se encontra o sítio arqueológico do teatro romano chegou a correr o mar, há milhões de anos, como testemunham os fósseis na rocha que ainda lá está. Nessa época, o clima seria tropical e poderiam ser avistados corais, tubarões, raias e outros mamíferos marinhos.
As mesas da exposição em que estão apresentados dados mais detalhados sobre os vários espaços em análise, acompanhados de fotografias, documentos, desenhos e objectos decorativos e utilitários, encontram-se todas no piso intermédio do edifício sul, pois “nos outros núcleos não havia espaço suficiente para as montar”, diz Lídia Fernandes. Tal como nos totens e nos painéis informativos, o que está exposto nas mesas está organizado do mais recente para o mais antigo, o que faz com que a história daqueles espaços seja contada “do fim para o início”. Esta escolha, segundo a arqueóloga, tem a ver com o facto de se encontrar primeiro o que é mais recente nas escavações arqueológicas.
O design expositivo ficou a cargo de Pedro Mendes Leal, que revelou ao PÚBLICO que a sua maior preocupação foi “mostrar as peças da forma mais clean possível”, pois estas são a base da exposição. Escolheu como grafismo comum a toda a exposição uma “fita sinalizadora às riscas vermelhas e brancas”, remetendo assim para a ideia de obras. Os andaimes vermelhos utilizados nas laterais dos totens, semelhantes às que os arqueólogos usam durante as escavações, também remetem para esse conceito.
O Museu antes de o ser, que termina no dia 13 de Março de 2022, vai ter uma programação paralela de visitas orientadas e visitas-oficinas, conduzidas pelos curadores da exposição e pelo serviço educativo do museu. A inauguração da exposição, que acontece esta sexta-feira às 18h, é de entrada gratuita, sujeita à lotação do espaço. A partir de sábado, a entrada tem o custo de três euros e inclui acesso à exposição de longa duração do museu.
Texto editado por Ana Fernandes