Antigo ministro da cultura de Cabo Verde lança manifesto em que defende “somos todos crioulos”

Mário Lúcio Sousa apresentou o seu novo livro, Manifesto a Crioulização, no festival Folio, em Óbidos.

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Mário Lúcio de Sousa Daniel Rocha

Somos todos crioulos, defendeu esta quarta-feira o antigo ministro da Cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio Sousa, no Folio, em Óbidos, onde apresentou o seu último livro, em que manifesta a crioulização de todos os povos do mundo.

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Somos todos crioulos, defendeu esta quarta-feira o antigo ministro da Cultura de Cabo Verde, Mário Lúcio Sousa, no Folio, em Óbidos, onde apresentou o seu último livro, em que manifesta a crioulização de todos os povos do mundo.

 "O que o manifesto vem dizer é que somos todos crioulos, porque na verdade, antropologicamente, está provado que temos raízes múltiplas desde há milhares de anos”, disse o escritor e pensador à agência Lusa, no final da apresentação do seu mais recente livro Manifesto a Crioulização.

Naquela que é a sua 13.ª obra literária, o escritor reflecte sobre o conceito de “crioulização” enquanto processo de afirmação e de identidade dos povos que ao longo dos tempos “foram entrando num processo de segregação total, com cada um a fechar-se no seu território”. “Ainda assim, há a possibilidade de nós criarmos um estado mental de relação”, defendeu o antigo ministro da Cultura de Cabo Verde que, no manifesto, defende a evolução para um estádio em que “se encare o planeta como casa da humanidade”.

Para Mário Lúcio Sousa, “termos como tolerância, integração ou assimilação, foram tentados e estão gastos”, pelo que, hoje, a humanidade precisa é de encarar que “as questões identitárias são questões conceptuais” que podem ser “debeladas com afectos para conseguirmos ter uma sociedade mais saudável”.

No seu livro, editado pela Imprensa da Universidade de Coimbra, Mário Lúcio Sousa lembra que não existe uma, mas sim “várias línguas crioulas” e que a expressão “crioulo” “une uma grande quantidade de culturas”. Ou seja, “a crioulização é, assim, um velho exemplo da história das relações humanas, em termos do seu processo de afirmação e de identidade de indivíduo e do grupo”.

Para o grupo que assistiu, na Casa da Música, em Óbidos, à apresentação do seu livro, Mário Lúcio Sousa reservou uma mostra de outros dos seus talentos. Foi a cantar Hino à Criação, em crioulo, que iniciou a interacção com os ouvintes do Folio, dos quais se despediu também a cantar, desta vez Sodade, o tema celebrizado por Cesária Évora.

Cantor, compositor, escritor e pensador, Mário Lúcio Sousa é natural do Tarrafal, na Ilha de Santiago, em Cabo Verde, e é o escritor mais premiado do país, internacionalmente. É ainda uma referência na música de Cabo Verde, de que chegou a ser embaixador cultural e, entre 2011 e 2016, ministro da Cultura e das Artes.

O Folio - Festival Literário Internacional de Óbidos decorre até ao dia 24, reunindo na vila 175 autores e escritores que participam em mais de 160 actividades, entre as quais 16 mesas de autor e debates, 23 concertos e 12 exposições.