Braga abre uma janela monumental para o mundo clássico
A exposição de boa parte das esculturas e peças da antiguidade clássica da colecção Bühler-Brockhaus é um acontecimento ímpar na museologia portuguesa.
São mais de 250 peças: algumas de grandes dimensões, como uma estátua romana de Cibele sentada, ou um krater (vaso funerário) da Magna Grécia profusamente decorado com o combate entre Héracles e o touro de Creta; outras de um simbolismo de cortar a respiração, como um busto de Augusto, primeiro Imperador de Roma, e fundador de Bracara Augusta, do século I A.C.. A colecção Bühler-Brockhaus, doação com a qual o Museu D. Diogo de Sousa, em Braga, abre esta sexta-feira uma exposição permanente, é uma viagem às expressões artísticas da antiguidade clássica, e até a algumas civilizações anteriores do Mediterrâneo, sem paralelo em Portugal, considera o historiador e arqueólogo Rui Morais.
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São mais de 250 peças: algumas de grandes dimensões, como uma estátua romana de Cibele sentada, ou um krater (vaso funerário) da Magna Grécia profusamente decorado com o combate entre Héracles e o touro de Creta; outras de um simbolismo de cortar a respiração, como um busto de Augusto, primeiro Imperador de Roma, e fundador de Bracara Augusta, do século I A.C.. A colecção Bühler-Brockhaus, doação com a qual o Museu D. Diogo de Sousa, em Braga, abre esta sexta-feira uma exposição permanente, é uma viagem às expressões artísticas da antiguidade clássica, e até a algumas civilizações anteriores do Mediterrâneo, sem paralelo em Portugal, considera o historiador e arqueólogo Rui Morais.
Não é todos os dias que se pode marcar um encontro com Octaviano, erguido à condição sagrada de Augusto, ou com um dos seus sucessores, Trajano, o primeiro imperador nascido na península Ibérica, pelo preço de uma entrada num museu. No D. Diogo de Sousa, que em 2018 aceitou receber a colecção que o casal Hans-Peter Bühler e Marion Bühler-Brockhaus constituíram com a finalidade expressa de a partilhar com o público, a expectativa sobre o impacto que a doação, e a exposição entretanto montada, terá nos visitantes, é grande. “Isto é uma janela aberta para a antiguidade clássica”, assume a directora Isabel Silva, ciente de que as peças que já estão nos seus lugares permitirão um diálogo com as restantes exposições permanentes deste museu criado, essencialmente, para salvaguarda e divulgação do património de Bracara Augusta e das marcas da presença romana no actual território do Norte de Portugal.
O Mediterrâneo numa sala
A exposição mostra, numa sala, dezenas de anos de paixão de um casal pelos territórios e culturas da Magna Grécia, abarcando o território da Ática, propriamente dita, da Ásia Menor e da Itália, mas também pela arte egípcia, etrusca e romana, destacando-se, nesta, a estatuária e três grandes mosaicos, um deles representado Pelops e Hipodamia, personagens da mitologia grega cuja presença destacada, numa parede suscita uma revisitação das histórias de amor e sangue do panteão helénico. E para além da diversidade de proveniências, o que ressalta à vista é a integridade da muito do que está exposto, assume Isabel Silva, considerando que isso é uma mais-valia para um museu que, a este nível, tem também algumas peças valiosas, mas guarda, essencialmente, um espólio fragmentário do que seria a vida numa das capitais administrativas da Gallaecia.
Professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Rui Morais acompanhou com entusiasmo a instalação desta colecção em Braga, cidade onde já trabalhou e que conhece bem. E destaca os diálogos possíveis entre algumas destas peças, como as máscaras de teatro, e o Teatro Romano, que se revelou a poucos metros dali, junto às Termas do mesmo período, já musealizadas, ou o relógio de sol, peça essencial numa cidade desse tempo, que também faz parte da exposição. “Há aqui peças que museus como o Louvre, o Met [Metropolitan Museum of Arts de Nova Iorque] ou o British Museum gostariam de ter, e que para nossa sorte, passam a estar disponíveis ao público, e aos investigadores portugueses, em Braga”, assinala este académico, considerando que muitas delas vão atrair a Portugal visitantes e investigadores de outros países.
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Peças com sete mil anos?
A verdade é que a exposição ainda nem sequer abriu ao público e uma análise mais atenta às peças doadas já produziu nova informação. Com análise da curadora Maria José Sousa e a ajuda de contactos de Rui Morais no Museu Britânico, um conjunto de vasos que o casal comprara como romanos tardios, e que já datara, com estudo posterior, como sendo da ilha de Rodes, de 800-750 A.C, deverão ser, afinal, do período Al-Ubaid, da Mesopotâmia, de à volta de 5000 anos A. C. A confirmar-se esta datação, a questão, nota o especialista, é que no British Museum que tem peças com o mesmo tipo de padrão decorativo, o que existem são essencialmente fragmentos, enquanto Hans-Peter e Marion Bühler-Brockhaus doaram ao D. Diogo de Sousa 17 destes pequenos vasos, em muito bom estado de conservação.
Rui Morais destaca outra peça, neste caso um cálice etrusco, que chama a atenção pela longa inscrição na língua falada por aquele povo do Norte de Itália, ainda não totalmente descodificada. Contactos com especialistas italianos, para um projecto expositivo que acontecerá no próximo ano em Portugal, permitiram perceber que a peça é uma descoberta “para Itália, e para o mundo”. Apesar de não ser muito grande, ela vai ser “uma obra de referência desta exposição em Braga”, vinca, tal como o “excepcional” busto de Augusto, “digno de capa” de qualquer obra de referência sobre o primeiro imperador Romano, ali retratado ainda jovem, com a coroa cívica, num período áureo da sua governação, explica.