“Amazónia está próxima do ponto de não retorno”, alerta ex-ministra brasileira
Ex-política referiu que, mesmo que 100% das metas ambientais actuais sejam cumpridas, já não será possível evitar um aumento da temperatura na ordem dos dois graus Celsius.
A ex-ministra brasileira do Meio Ambiente Marina Silva alertou na madrugada deste sábado para a aproximação da Amazónia de uma catástrofe ambiental de proporções planetárias, durante um evento da Universidade Estadual da Califórnia, Santa Bárbara (UCSB).
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A ex-ministra brasileira do Meio Ambiente Marina Silva alertou na madrugada deste sábado para a aproximação da Amazónia de uma catástrofe ambiental de proporções planetárias, durante um evento da Universidade Estadual da Califórnia, Santa Bárbara (UCSB).
“A Amazónia já está próxima desse ponto de não retorno”, avisou a ex-ministra, que fez parte do governo de Lula da Silva, durante o evento organizado pelo Departamento de Estudos Latino-Americanos e Ibéricos da UCSB.
“Ela já começa a sequestrar menos carbono do que as emissões. Antes era uma consumidora de carbono, agora já não é – e é um stock de carbono”, frisou Marina da Silva, sublinhando que a floresta, apelidada de “pulmão do mundo”, já foi destruída em cerca de 20%.
A ex-política disse também que, mesmo que 100% das metas ambientais actuais sejam cumpridas, já não será possível evitar um aumento da temperatura na ordem dos dois graus Celsius, com “desequilíbrios terríveis para o planeta”, que já estão a acontecer.
“Se fizermos tudo a que nos comprometemos no Acordo de Paris, ainda assim estaremos devedores”, alertou.
A ex-governante mostrou-se muito crítica das políticas ambientais do actual governo liderado por Jair Bolsonaro, referindo que, em três anos, houve um desmantelamento das estruturas criadas pelos executivos anteriores.
“Estamos a viver uma situação de completa desarticulação das políticas socioambientais no Brasil”, afirmou Marina Silva, apontando para “regressões” em áreas em que o Brasil já tinha conseguido “diversos avanços”.
A historiadora e ambientalista referiu que o país enfrenta “o grave problema dos desmatamentos”, com um governo que tem um modelo de desenvolvimento desactualizado e cortou o orçamento das entidades que fiscalizam a integridade das florestas.
“Se mudar a legislação como eles querem mudar para não ter mais licenciamento ambiental, não ter mais demarcação de terras indígenas, começar a desenvolver grandes projectos e rodovias que estão a ser propostas e são altamente impactantes para a destruição da floresta, isso é o fim”, vaticinou.
Caracterizando o governo Bolsonaro como “negacionista em relação à ciência” e “de visão autoritária”, com desprezo pela contribuição das instituições académicas e organizações que trabalham na pesquisa sobre a Amazónia, Marina Silva expressou a opinião de que o Presidente não será reeleito.
“Não acredito que ele terá um segundo mandato”, afirmou. “Há uma resistência muito grande por parte da sociedade brasileira para que ele não continue a cometer crimes de lesa-pátria, crimes de lesa-humanidade”, continuou. “Porque ele ataca o meio ambiente, a saúde pública, a educação, os direitos humanos. É um governo que se distancia de qualquer padrão civilizatório”.
A ex-governante disse preferir que o Presidente seja “interditado” através de impeachment, “porque o Brasil não aguenta mais 13 meses de governo Bolsonaro”, mas considerou que se tal não acontecer, ele será derrotado nas urnas eleitorais.
Defendendo um “Plano Marshall” para articular todos os países que partilham a Amazónia (Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador, Venezuela, Guiana, Guiana Francesa e Suriname), Marina Silva salientou também a importância de proteger os direitos das populações indígenas e apelou ao activismo generalizado.
“É uma causa de todos os brasileiros, mas também de toda a humanidade”, afirmou. “É o momento de agir na justiça, dentro das academias e em todos os lugares”.