Alimentação para um envelhecimento mais saudável

Como proporcionar um envelhecimento mais saudável para todos, ou, por outras palavras, como é que, depois de termos conseguido “dar mais anos à vida”, podemos agora dar “mais vida aos anos”?

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Sam Moqadam/Unsplash

Um dos maiores desafios que se colocam às sociedades modernas é o do envelhecimento das suas populações. Fruto dos enormes avanços científicos que ocorreram nas últimas décadas, a esperança média de vida é hoje muito mais alta, ultrapassando os 80 anos em vários países, Portugal incluído.

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Um dos maiores desafios que se colocam às sociedades modernas é o do envelhecimento das suas populações. Fruto dos enormes avanços científicos que ocorreram nas últimas décadas, a esperança média de vida é hoje muito mais alta, ultrapassando os 80 anos em vários países, Portugal incluído.

Este facto, que tem de ser visto como algo de muito positivo, acarreta, no entanto, alguns problemas, que começam agora a surgir como prioritários. Os desafios para a saúde estão entre os mais importantes e, dentro destes, os que se referem à alimentação e nutrição deste grupo cada vez mais numeroso de indivíduos. Quais os problemas alimentares mais frequentes na população idosa? De que forma podemos atenuar, por via da alimentação, alguns dos problemas que afectam esta população? Como proporcionar um envelhecimento mais saudável para todos, ou, por outras palavras, como é que, depois de termos conseguido “dar mais anos à vida”, podemos agora dar “mais vida aos anos”?

Algumas das respostas da ciência começam agora a emergir, fruto de um notável esforço de investigação nesta área tão importante. Em Portugal, temos hoje muitos e importantes dados disponíveis acerca do consumo alimentar da nossa população, que inclui naturalmente a população idosa. Assim, constatou-se que uma porção relevante dos nossos idosos se alimenta desadequadamente relativamente às suas necessidades. Destacam-se o baixo consumo de proteína, sobretudo em mulheres, o elevado consumo de álcool, sobretudo em homens, a baixa ingestão de cálcio e ácido fólico e a ingestão (muito!) excessiva de sal.

Por outro lado, é consensual afirmar-se que muitas das doenças que mais afectam a população derivam de alguns hábitos inadequados ao longo da vida, assumindo, dentro destes, a alimentação um papel muito relevante. A obesidade, a diabetes, a hipertensão arterial são não só altamente prevalentes no nosso país, mas também as responsáveis por muita da mortalidade, morbilidade e custos com a saúde de que actualmente padecemos.

A saúde vai-se construindo desde muito cedo e quanto mais erros vamos acumulando, mais difícil será depois recuperar nos anos mais tardios da vida. Em todo o caso, tal não significa que seja irrelevante a dieta dos idosos, bem pelo contrário. Uma das questões a que se tem dado particular atenção é o da necessidade de preservação de uma massa muscular adequada, sem a qual a probabilidade de virmos a ter inúmeros problemas aumenta. Essa preservação está, naturalmente, dependente da actividade física que praticamos, mas não dispensa uma alimentação com doses apropriadas de energia, proteína e outros micronutrientes.

Fica então a questão: como será a alimentação “ideal” nesta fase da vida? Sendo esta uma resposta complexa e ainda não completamente esclarecida, é inequívoco que alguns modelos alimentares se comportam especialmente bem. Destaca-se entre todos a alimentação mediterrânica, modelo alimentar ancestral que a ciência tem vindo a validar relativamente a importantes parâmetros. Menos doenças cardiovasculares, menos diabetes e obesidade, menos cancros e menos doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer, são alguns dos importantes resultados já verificados quando se adopta este tipo de alimentação.

E em que consiste então esta alimentação mediterrânica que tantos benefícios nos traz? Em primeiro lugar, um primado de fontes vegetais, nomeadamente hortícolas, frutos, leguminosas e cereais integrais. Depois, pouca carne, algum peixe e ovos e também queijo e iogurte. Depois, água em abundância, frutos gordos (nozes, avelãs, amêndoas...) e, como marca fundamental, o azeite extravirgem. Outras características que se lhe reconhecem são a frugalidade, a baixíssima ingestão de doces e bolos (apenas em raros dias de festa), a culinária que privilegia os estufados, cozidos ou ensopados e, elemento não alimentar mas muito relevante, a convivialidade à mesa.

Muito nos temos afastado deste modelo tão saudável, por isso importa agora fazer o caminho inverso, de regresso às boas tradições da nossa cozinha, aproveitando também sabiamente o que de melhor a modernidade tem para nos oferecer. Envelhecer saudavelmente será, assim, um prazer que podemos renovar diariamente à hora de cada refeição.