Ventura quer que congresso reforce a sua estratégia e discurso radical

Moção estratégica global “Governar Portugal sem ceder ao sistema” insiste na participação ministerial do Chega num Governo do PSD e prevê eleições legislativas antecipadas. Objectivo para as autárquicas de 2025: ser um dos dois partidos mais votados.

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André Ventura, líder do Chega LUSA/PAULO NOVAIS

André Ventura quer que o congresso do final de Novembro deixe “muito claro” que tudo o que ele próprio tem feito enquanto presidente eleito do partido é o caminho que no Chega querem “todos seguir, afastando, de vez, apelos de moderação ou de menor intensidade de acção, quer devido aos clamores dos restantes partidos de direita ou de esquerda, quer devido a um eventual receio de ilegalização”.

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André Ventura quer que o congresso do final de Novembro deixe “muito claro” que tudo o que ele próprio tem feito enquanto presidente eleito do partido é o caminho que no Chega querem “todos seguir, afastando, de vez, apelos de moderação ou de menor intensidade de acção, quer devido aos clamores dos restantes partidos de direita ou de esquerda, quer devido a um eventual receio de ilegalização”.

O pedido está expresso na moção de estratégia global entregue por André Ventura nesta quarta-feira, com a sua recandidatura à presidência do partido, depois de o Tribunal Constitucional ter considerado ilegais os actos praticados pelo partido e pelos dirigentes eleitos ao abrigo dos estatutos aprovados na convenção de Évora quando a alteração aos estatutos não estava prevista na agenda de trabalhos daquela reunião magna.

Boa parte da frase – tal como do resto do texto fazia já parte da moção de Ventura ao congresso do final de Maio, em Coimbra, mas na altura estava redigido de uma forma mais abrangente sobre “o caminho seguido” numa referência ao partido como um todo. Agora, há um maior recentramento sobre o líder, tornando o Chega num partido cada vez mais unipessoal, precisamente numa altura em que até conseguiu uma prestação com algum fulgor nas autárquicas (ainda que não atingisse o objectivo a que Ventura se propusera). André Ventura já avisou que, ao contrário do congresso de Coimbra, desta vez irá propor listas da sua confiança para todos os órgãos executivos e de direcção do partido. 

Apesar de ter falhado o objectivo de ser a terceira força política em número de votos nas autárquicas de Setembro passado “uma fasquia alta”, admite o presidente , Ventura não assume a falha na sua moção e antes considera que o partido teve uma vitória ao roubar vereadores ao Bloco e ao PCP o primeiro um partido com 20 anos e que tem apenas quatro vereadores a nível nacional; o segundo com cem anos de história e uma forte implantação autárquica na democracia.

O Chega elegeu 19 vereadores, 172 deputados em assembleias municipais e 205 representantes em assembleias de freguesia. “Um resultado extraordinário para um partido que tem apenas dois anos de existência. (...) A primeira batalha - a eleição de praticamente quatro centenas de representantes do partido em todo o país - está ganha.” O próximo objectivo já está traçado: “Daqui a quatro anos seremos um dos dois partidos mais votados a nível autárquico”, prevê Ventura. Mas para isso é preciso muito trabalho nos próximos quatro anos e “resistir às ofertas de outros partidos e mantermo-nos fiéis às nossas convicções e aos nossos princípios que são o nosso ADN”.

André Ventura diz que é esse trabalho nas autarquias em conjunto com o seu, no Parlamento, que “irá preparar o partido para alcançar 10 a 15% dos votos nas próximas eleições legislativas, tornando-o assim indispensável à formação e viabilização de um Governo”. Os valores da fasquia não são novos e o objectivo em mente também não. Mas o cenário é: o líder do Chega considera agora que as eleições poderão ser mesmo “mais depressa do que o expectável”. E é de olho em legislativas antecipadas, motivadas por um chumbo do Orçamento do Estado para 2022, que neste momento está no horizonte, que Ventura corre contra o tempo. “Uma crise política poderá derrubar o Governo agora em funções e lançar-nos naquela que é a nossa missão: governar Portugal.”

Por isso, o presidente demissionário-recandidato insiste tanto na ideia que copia integralmente o que escreveu na moção de Maio: “Não deverá o partido abdicar da participação ministerial num Governo eventualmente liderado pelo PSD, exigindo a possibilidade efectiva de transformação do país.” Por isso, o congresso deve “deixar claro que apenas uma negociação clara, efectiva e transparente, com possibilidade e autonomia para a concretização de algumas das nossas grandes bandeiras, levará à viabilização parlamentar de um governo de direita”.

Mais: “Uma solução de mero apoio parlamentar será para o partido ainda mais nociva do que a situação actual.” Porquê? “Nenhumas garantias teremos de que uma governação social-democrata (mesmo com centristas e liberais) será substancialmente diferente daquela que actualmente é conduzida pelo primeiro-ministro António Costa.​”

Tal como pedira também em Maio em Coimbra, mas sem que tal acabasse por ser discutido, Ventura quer que o congresso defina “os termos e os modos de luta e resistência caso o sistema remeta o partido para a ilegalidade e para a clandestinidade”. Salientando que a sua proposta para o novo mandato é a da “continuidade” - crescer, derrubar os adversários políticos, conquistar eleitorado -, Ventura deixa ainda recados para o interior do partido, onde quer que se continue a “firme aplicação de regras e ética e disciplina” para com os militantes que usam a imprensa e as redes sociais para “lavar roupa suja e perturbar o crescimento” e a boa imagem do partido.