O novo Super-Homem é bissexual: “Criar outro salvador branco hetero seria uma oportunidade perdida”
O filho de Clark Kent e Lois Lane, Jon Kent, vai beijar o jornalista Jay Nakamura. Além da bissexualidade, o novo super-herói traz questões actuais, como as alterações climáticas e a crise dos refugiados.
“Quando me ofereceram este trabalho, pensei: ‘Se vamos ter um novo Super-Homem no universo DC, é uma oportunidade perdida criar outro salvador branco heterossexual’.” As palavras são de Tom Taylor, autor da banda desenhada, que quer, mais do que “um Super-Homem queer”, mostrar um Super-Homem “que se encontra, que se torna no Super-Homem e que depois sai do armário”.
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“Quando me ofereceram este trabalho, pensei: ‘Se vamos ter um novo Super-Homem no universo DC, é uma oportunidade perdida criar outro salvador branco heterossexual’.” As palavras são de Tom Taylor, autor da banda desenhada, que quer, mais do que “um Super-Homem queer”, mostrar um Super-Homem “que se encontra, que se torna no Super-Homem e que depois sai do armário”.
O anúncio da DC Comics surge depois de, em Agosto, sites especializados de banda desenhada norte-americana avançarem com esse rumor. E confirma: Jon Kent, o filho de Clark Kent e Lois Lane, é bissexual. “Sempre disse que todos precisam de heróis e têm o direito de se verem representados nestes heróis”, justificou Tom Taylor, num comunicado citado pela AFP, ilustrado por uma imagem onde se vê Jon Kent a beijar o jornalista Jay Nakamura.
Tom Taylor sublinha que o “símbolo do Super-Homem sempre foi a esperança, a verdade e a justiça”. “Hoje, este símbolo é algo mais e mais pessoas podem reconhecer-se no super-herói mais poderoso da banda desenhada.”
Mas a bissexualidade é só mais uma característica que distingue Jon do seu famoso pai. Desde que a série Superman: Son of Kal-El começou, em Julho, Jon já combateu incêndios provocados pelas alterações climáticas, impediu um tiroteio numa escola e protestou contra a deportação de refugiados. "Um novo Super-Homem tinha de ter novas lutas — problemas do mundo real — pelos quais pudesse lutar como uma das pessoas mais poderosas do mundo”, explicou o autor.
Esta não é a primeira vez que a banda desenhada mainstream inclui personagens LGBT: uma das primeiras menções foi em 1980. Mas não se tratou de um retrato positivo: na história, dois homens gays tentam violar Bruce Banner, o alter ego de Hulk. Em 1992, Northstar assumiu a homossexualidade, algo que, na altura, mereceu um editorial no New York Times: “A cultura mainstream vai, um dia, fazer as pazes com os americanos gays. Quando esse dia chegar, a revelação de Northstar vai ser vista pelo que é: um indicador de mudança social”, lia-se.
Mas agora não é Northstar. Trata-se do Super-Homem, uma das personagens mais emblemáticas (se não a mais emblemática) do universo dos super-heróis. O beijo de Jon e Jay deverá acontecer na história publicada no próximo mês. Este mês, os leitores deverão descobrir que Jay tem habilidades especiais: “É a única pessoa na vida de Jon que ele não tem de proteger”, adiantou o autor.
“Sempre disse que toda a gente precisa de heróis e de ver-se nos seus heróis”, disse Taylor. “Para muitas pessoas, ver o mais forte super-herói a assumir-se é incrivelmente poderoso.” É que ele é “tão poderoso como a esperança, mais rápido do que o destino e capaz de pegar em todos nós — e está a tentar encontrar o seu caminho lutando contra coisas que o seu pai não lutava muito”, rematou, afirmando que espera que, dentro de alguns anos, estas histórias já não seja notícia ou trend no Twitter.