Uma viagem ao Lago Baikal para ouvir o silêncio e contemplar o sagrado
Mário Lisboa e Carla Varanda, fotógrafo e realizadora, foram à Sibéria cumprir uma vontade de criança. Voltaram com mais de duas mil fotografias, uma exposição marcada e um documentário que se vai estrear no CineEco 2021, em Seia, este sábado, 9 de Outubro.
Na viagem ao Lago Baikal, Mário Lisboa gostou especialmente de ouvir o silêncio. “Chega a ser viciante”, garante. O fotógrafo viajou até à Sibéria, acompanhado da realizadora Carla Varanda, para cumprir um sonho de criança e visitar “aquele lugar longínquo e inacessível, impossível de atingir”. Essa atmosfera acompanhou-o ao longo da vida e, aos 63 anos, acabou por se tornar real quando concretizou a esperada viagem.
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Na viagem ao Lago Baikal, Mário Lisboa gostou especialmente de ouvir o silêncio. “Chega a ser viciante”, garante. O fotógrafo viajou até à Sibéria, acompanhado da realizadora Carla Varanda, para cumprir um sonho de criança e visitar “aquele lugar longínquo e inacessível, impossível de atingir”. Essa atmosfera acompanhou-o ao longo da vida e, aos 63 anos, acabou por se tornar real quando concretizou a esperada viagem.
Precisaram de “mais ou menos 15 horas” para chegar de Lisboa ao lago russo, onde passaram dez dias a percorrer 300 quilómetros em cima daquele que é o maior em termos de volume de água doce do mundo, o mais antigo (25 milhões de anos) e o mais profundo do planeta (1680 metros de profundidade máxima conhecida).
“Não há luz, não há electricidade, a casa de banho era uma cabana de madeira lá fora, a -20.ºC”, descreve Mário. Mas o ambiente era “fantástico para a fotografia nocturna” — ou para a fotografia no geral. Quando foram, em Fevereiro de 2020, o lago estava congelado, como acontece “durante quatro meses por ano” — começava aí o mote para o documentário O Lago Sagrado - Uma viagem por uma estrada profunda e gelada, que em breve se estreia.
A proposta de ambos foi “documentar a viagem através da visão muito particular da fotografia do Mário sobre o lago e também expor uma perspectiva ambiental”, começa por explicar Carla Varanda. Para isso, procuraram cientistas e investigadores locais que os pudessem “pôr a par de uma série de ameaças”. A primeira, desvenda, é previsível: “O aquecimento global.”
“Os cientistas têm um estudo de monitorização do lago que acontece há cerca de 70 anos, onde registam que ao longo de todos estes anos houve um aumento da temperatura da água à superfície do lago. Embora não seja um aumento muito grande, é muito para aquele tipo de habitat de águas geladas, o que pode ter influência na produção do fitoplâncton e influenciar todo o ecossistema”, relata a realizadora.
A esta junta-se ainda a poluição industrial, que chega ao lago através do Rio Selenga, “que atravessa uma zona industrial muito grande”; “a própria pesca e o melhoramento das infra-estruturas que estão junto ao lago”. Em suma: “Uma série de questões de origem humana que têm alguma influência no lago” — e que, apesar de não significarem ainda um “problema iminente”, começam já a apresentar desafios que os investigadores estão “empenhados” em resolver (e, se possível, evitar).
É esta ideia que querem trazer para cá com a exposição fotográfica que estará patente na Casa Municipal da Cultura de Seia, de 9 de Outubro até 30 de Novembro, e com a apresentação do documentário na inauguração do CineEco 2021 — Festival Internacional de Cinema Ambiental da Serra da Estrela, que se realiza anualmente na mesma cidade, e que decorre entre 9 e 16 de Outubro.
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O documentário junta as duas vertentes: a fotografia, de Mário, e o vídeo, de Carla. Mostra não só a perspectiva dos estudiosos do Baikal, mas também os desafios vividos por ambos durante a jornada, como a impossibilidade de circular na zona do lago se o gelo não tiver uma espessura superior a 30 centímetros, ou quando “o gelo subia, quebrava e criava blocos da nossa altura”, obrigando o guia que os conduzia a cortá-lo.
O frio — temperaturas entre os -15.ºC e os -30.ºC — foi uma dificuldade acrescida, naturalmente, mas não o suficiente para desmotivar o fotógrafo e a realizadora que já passaram por Longyearbyen, “a última cidade habitável a caminho do Pólo Norte”, e já tinham, por isso, experiência em desertos gelados. Ainda assim, Mário não esquece as duas horas que passou no Lago Baical a fotografar um rasto de estrelas: “Estavam -29.ºC. Fiquei ali sozinho, praticamente estático a ouvir o disparo para conseguir fazê-lo. Mas consegui fazer um rasto de estrelas único.” A fotografia que daqui resultou faz parte das cerca de duas mil que trouxe para Portugal — é uma das 24 patentes na exposição.
A exposição mostra este “Lago Sagrado”, como baptizaram o documentário — por ter sido “centro do xamanismo durante séculos”, pela “riqueza” e por ser “fonte de vida para quem lá vive” —, mas mostra também “a beleza daquele lugar e chamar a atenção para o facto de tudo ser tão efémero”. “Estes locais são tão frágeis que, em apenas um dia, a forma como os vemos pode não existir mais.”