23 anos depois, Monica Lewinsky avalia comportamento de Bill Clinton como “totalmente inapropriado”

“Nunca deveríamos sequer ter chegado a um lugar onde o consentimento fosse uma questão”, desabafou a mulher que, há quase um quarto de século, esteve na origem do segundo processo de destituição de um presidente na História americana.

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Monica Lewinsky descreve-se como uma das primeiras vítimas do cyberbullying Reuters/JONATHAN ALCORN

“Foi totalmente inapropriado enquanto o homem mais poderoso [que era], meu chefe, de 49 anos de idade.” Se Monica Lewinsky chegou a imaginar que os dois se encontravam em pé de igualdade, hoje, aos 48 anos, já não tem dúvidas sobre “a diferença de poderes” que ambos tinham. Afinal, “tinha 22 anos, literalmente acabada de sair da faculdade”.

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“Foi totalmente inapropriado enquanto o homem mais poderoso [que era], meu chefe, de 49 anos de idade.” Se Monica Lewinsky chegou a imaginar que os dois se encontravam em pé de igualdade, hoje, aos 48 anos, já não tem dúvidas sobre “a diferença de poderes” que ambos tinham. Afinal, “tinha 22 anos, literalmente acabada de sair da faculdade”.

Por isso, desabafou, esta semana, no programa The Lead, da CNN, que o que importa reter hoje é que “nunca deveríamos sequer ter chegado a um lugar onde o consentimento fosse uma questão”.

O caso Bill Clinton/Monica Lewinsky parou os Estados Unidos no fim da década de 1990 e deixou o mundo com os olhos postos com o que se passava em terras do Tio Sam. Afinal, a “novela” continha todos os ingredientes para prender as atenções: política, intriga e sexo. Tão sumarenta que é actualmente destrinçada pela série American Crime Story (que já tratou os casos de O.J. Simpson e de Versace), tendo Monica Lewinsky entre a lista de produtores. American Crime Story: Impeachment estreou no início de Setembro, nos EUA, no canal FX. A Portugal, poderá chegar através da rede de streaming Netflix (onde estão as primeiras duas temporadas disponíveis) e do canal do cabo Fox Life, que passou O Caso de O. J. e O Assassinato de Gianni Versace.

Voltando ao escândalo, que minou a carreira política de Bill Clinton e a imagem que deixou de oito anos de “reinado", mesmo que tenha conseguido a absolvição do Senado no processo de destituição de que foi alvo na Câmara dos Representantes, acusado de perjúrio e de obstrução à justiça. Talvez até tenha contado para a derrota dos democratas nas eleições que se seguiram, em que George W. Bush (filho) chegou ao poder. Afinal, antes de si, apenas dois presidentes estiveram na mira de um impeachment, e só um destes processos chegaria à Câmara dos Representantes: o de Andrew Johnson, já que Richard Nixon se demitiu antes.

Mas o que hoje impressiona os investigadores foi a forma como os media e a sociedade em geral estavam dispostos a aceitar um Presidente que se envolvia com uma estagiária (ou, antes, com várias estagiárias) e mentia descaradamente: “Eu não tive relações sexuais com esta mulher, a menina Lewinsky”, declarou à nação.

As provas trazidas a público — nomeadamente uma peça de roupa de Lewinsky com ADN do Presidente e gravações de chamadas entre Monica e a funcionária pública Linda Tripp, em que a estagiária detalhava os encontros com Clinton, como um episódio de sexo oral na Sala Oval — obrigaram o líder da mais poderosa nação do mundo a mudar de discurso.

A 17 de Agosto de 1998, meses antes do início do processo de destituição, dirigia-se ao país para repor a verdade: “De facto, tive uma relação com a senhora Lewinsky que não foi apropriada. Na verdade, foi errado... Enganei as pessoas, incluindo a minha mulher. Lamento profundamente.” No entanto, não resistiu a deitar água fria na fervura: “Até os presidentes têm vidas privadas”, atirando o caso para o canto onde teimou não ficar.

Enquanto isso, Monica Lewinsky viu a sua vida devassada e tornada piada — até o facto de ter uns quilos a mais foi usado contra si. Anos mais tarde, em Outubro de 2014, numa cimeira organizada pela Forbes, rompeu o silêncio e confessou ter sofrido de depressão e de até ter tido pensamentos suicidas. Mais: descreveu-se como uma das primeiras vítimas do cyberbullying — “Fui a primeira pessoa a ter a sua reputação completamente destruída em todo o mundo através da Internet” —, o que a levou a abraçar a causa para acabar com este. É que, explicou, “não havia Facebook, Twitter ou Instagram (…), mas havia mexericos, notícias e sites de entretenimento repletos de secções de comentários, além de e-mails que podiam ser encaminhados”.